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      Exército de Israel matou equipe médica em Gaza, mesmo com luz de ambulância ligada

      Gravação feita por socorrista morto revela que veículos humanitários foram alvejados mesmo com sinalização. 15 pessoas morreram na ação

      Exército de Israel (Foto: Reuters)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - Um vídeo recuperado do celular de um socorrista palestino morto em ataque das forças israelenses na Faixa de Gaza contradiz a versão oficial do Exército de Israel sobre um dos episódios mais letais contra trabalhadores humanitários desde 2017. A reportagem foi divulgada pela agência France Presse (AFP) e repercutida pela Folha de S. Paulo.

      A filmagem, que mostra os momentos finais da equipe médica antes de serem alvejados, revela ambulâncias com as luzes de emergência acionadas sendo atingidas por disparos, contrariando o que afirmou inicialmente o tenente-coronel Nadav Shoshani, porta-voz militar israelense. Segundo ele, as tropas teriam atirado contra veículos que circulavam sem autorização e com as luzes apagadas. As imagens desmentem essa narrativa.

      Ambulâncias sob ataque - Na madrugada de 23 de março, equipes do Crescente Vermelho Palestino e da Defesa Civil de Gaza atuavam no socorro a vítimas em Rafah, ao sul da Faixa de Gaza, quando desapareceram. Seus corpos só foram encontrados dias depois em uma vala comum, de acordo com o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).

      O vídeo, aparentemente feito de dentro de uma ambulância, mostra veículos de emergência devidamente identificados e com sinalização visível. Os socorristas descem dos carros e, em seguida, uma intensa troca de tiros se inicia. Duas vozes podem ser ouvidas: “o veículo, o veículo”, diz uma delas. A outra responde: “parece um acidente”. Logo depois, há uma rajada de tiros e a tela escurece.

      Testemunho do único sobrevivente - O único integrante da equipe que sobreviveu ao ataque, Munther Abed, deu sua versão ao The Guardian. Ele integrava a primeira ambulância a chegar ao local do ataque aéreo em Rafah. “A partir do momento em que o tiroteio começou, imediatamente me joguei no chão da ambulância. Não ouvi nada dos meus colegas, exceto os sons de seus últimos momentos, ouvindo-os dar seu último suspiro”, relatou.

      Segundo Abed, mesmo com o veículo iluminado, soldados israelenses atiraram, matando seus dois colegas na parte da frente do carro. Ele sobreviveu por estar deitado na parte traseira. Após o tiroteio, afirmou ter sido espancado, mantido com o rosto virado para baixo e submetido a tortura durante interrogatório. “Eu suportei tortura severa, incluindo espancamentos, insultos, ameaças de morte e sufocamento quando um soldado pressionou um rifle contra meu pescoço”, disse.

      Ele também relatou ter visto, ainda do local do ataque, outras ambulâncias e veículos de socorro chegando e sendo igualmente alvejados.

      Mortes e desaparecimentos - Entre os 15 mortos confirmados estão oito membros do Crescente Vermelho Palestino, seis da Defesa Civil de Gaza e um funcionário da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA). Um integrante da equipe, Assad al-Nassara, continua desaparecido. Abed afirma tê-lo visto com vida, detido por militares no local da ação.

      O médico Ahmed al-Farra, da cidade de Khan Younis, relatou ao Guardian que os corpos chegaram ao hospital com sinais de execução. “Eles tinham balas no peito e na cabeça. Foram assassinados. Eles tinham as mãos amarradas", afirmou. Para ele, as vítimas foram imobilizadas antes de serem mortas.

      A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) afirmou que o acesso à área do ataque estava sendo negado nos dias seguintes, o que dificultou o resgate dos corpos. O último deles foi recuperado em 30 de março.

      Contestação à versão israelense - Após o episódio, as Forças de Defesa de Israel (FDI) alegaram que nove combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica foram mortos no local. No entanto, nenhum corpo adicional além das vítimas civis foi encontrado. Em entrevista à BBC News, Munther Abed refutou a justificativa: “isso é totalmente falso. Todos nas equipes eram civis. Não pertencemos a nenhum grupo militante. Nosso principal dever é oferecer serviços de ambulância e salvar vidas. Nem mais, nem menos".

      O New York Times procurou o Exército israelense antes da publicação do vídeo. Em um primeiro momento, não houve resposta. Após a divulgação das imagens, as FDI informaram que o caso está "sob investigação minuciosa", e prometeram examinar “todas as acusações, incluindo a documentação em circulação sobre o incidente”, para entender a sequência dos acontecimentos.

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