Latino-americanos e estudantes estrangeiros na França temem resultado de eleições legislativas
Partido de extrema direita Reunião Nacional lidera as pesquisas para as eleições gerais, cujo primeiro turno será realizado no domingo em solo francês e o segundo em 7 de julho
RFI - O primeiro turno das eleições legislativas mais vigiadas da história recente da França já começou, neste sábado (29), em alguns territórios fora do país e para os franceses no exterior. Os migrantes latino-americanos na França estão preocupados com as políticas anti-imigração que o partido de extrema direita, líder nas pesquisas, promete implementar se obtiver a maioria parlamentar.
Apenas três semanas após a surpreendente dissolução da Assembleia Nacional por Emmanuel Macron, está chegando a hora das primeiras lições a serem aprendidas, antes do segundo turno em 7 de julho.
"Fazia muito tempo que eu não tinha tanto medo dos resultados das eleições", disse à AFP Maria, uma mexicana que está na França há seis anos e não quer revelar seu sobrenome.
O partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) lidera as pesquisas para as eleições gerais, cujo primeiro turno será realizado no domingo em solo francês e o segundo em 7 de julho.
O RN e seus aliados têm 36% dos votos, seguidos pela Nova Frente Popular (NFP, 29%), de esquerda, e pela aliança de centro-direita do presidente Emmanuel Macron (20%), de acordo com uma pesquisa da Ipsos (órgão de pesquisa e consultoria de mercado com sede em Paris) publicada na sexta-feira (28). Estimativas também apontam para participação recorde de eleitores votando presencialmente ou via procuração.
Incerteza para estrangeiros - A incerteza paira sobre a possibilidade de os extremistas de direita conquistarem a maioria absoluta na Assembleia Nacional, o que abriria as portas para um governo do RN com seu jovem líder, Jordan Bardella, 28 anos, como primeiro-ministro.
"Você não se sente confortável na rua sabendo que uma em cada três pessoas está votando em um candidato que quer expulsá-lo", diz Luis Molero, um estudante peruano da Universidade Sciences Po, em Paris.
Em 2022, cerca de 7 milhões de migrantes viviam na França - 10,3% da população do país - dos quais 2,6 milhões obtiveram a nacionalidade francesa, de acordo com o instituto de estatísticas Insee. A maioria é da África e da Europa, e cerca de 6% vêm das Américas e da Oceania juntas, de acordo com dados oficiais.
RN contra imigrantes - As políticas contra a migração irregular foram um ponto central da campanha eleitoral do RN, que também propõe medidas que afetariam os estrangeiros com documentos válidos, principalmente ao implementar a noção de "prioridade nacional".
Essa doutrina implicaria priorizar o acesso ao trabalho e à moradia e reservar os benefícios sociais para os cidadãos franceses. No caso de estudantes estrangeiros, seu acesso a residências estudantis públicas seria restrito.
"Os estudantes estrangeiros não terão prioridade e os benefícios sociais serão reservados, em primeiro lugar, para os estudantes franceses, que também têm problemas para encontrar acomodação e pagar as contas", anunciou o candidato a deputado do RN, Alexis Jolly, à rádio France Bleu durante a campanha.
Discriminação inconstitucional - Essa política "não é compatível nem com a Constituição francesa, nem com a legislação da União Europeia, nem com a legislação internacional de direitos humanos", disse à AFP Marie-Laure Basilien-Gainche, professora de direito público na Universidade de Lyon 3.
"A discriminação, especialmente com base na nacionalidade, é proibida. O RN iria contra essas regras fundamentais", acrescenta.
O partido de extrema direita poderia, no entanto, restringir os critérios para a concessão de vistos, benefícios ou ajuda financeira, como o aumento do número mínimo de anos de residência no território.
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