Moçambique enfrenta mais agitação após tribunal superior confirmar vitória da Frelimo
O líder da oposição, Venâncio Mondlane, convocou nesta terça-feira uma paralisação nacional em Moçambique
RFI - O apelo foi feito após uma noite de protestos em que delegacias de polícia, agências bancárias e praças de pedágio foram atacadas e incendiadas. Rotas comerciais para a África do Sul também foram alvo, enquanto a polícia, em veículos blindados, patrulhava o centro da capital, Maputo.
Nas redes sociais, Mondlane, candidato do Podemos, que está escondido no exterior desde as eleições, classificou o governo como ilegal.
"Devemos continuar a luta, permanecer unidos e fortes", declarou ele.
O Hospital Central de Maputo está operando em condições críticas, com mais de 200 membros da equipe impossibilitados de chegar ao local, informou Mouzinho Saíde, diretor do hospital, à AFP.
Ele relatou ter recebido quase 90 feridos, sendo 40 com ferimentos por armas de fogo e quatro por armas brancas.
O Conselho Constitucional, o mais alto tribunal de Moçambique, confirmou na segunda-feira os contestados resultados das eleições de 9 de outubro, que prolongaram o domínio de 50 anos do partido Frelimo no poder.
Daniel Chapo, o candidato presidencial da Frelimo, que foi declarado vencedor, imediatamente apelou ao diálogo para superar as diferenças. No entanto, seu apelo parece ter caído em ouvidos surdos.
Ossufo Momade, líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), também rejeitou os resultados e pediu à população que se mobilize para salvar a democracia.
Chapo obteve 65% dos votos, segundo a decisão dos sete juízes, revisando para baixo os resultados iniciais de quase 71%, anunciados em novembro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Mondlane permaneceu em segundo lugar com 24,19% dos votos (comparado a cerca de 20%, segundo os resultados da CNE).
Mais temores
O cientista político Justino Quina disse à RFI que houve uma escalada de tensões de ambos os lados. No entanto, ele alerta que o país não pode suportar períodos de instabilidade cíclica.
O analista de riscos políticos e de segurança, Johann Smith, com sede em Maputo, disse à AFP estar convencido de que haverá violência.
"Todo o jogo muda na segunda-feira", disse Smith. "Será muito mais intenso e sangrento.
"É quase como a Primavera Sul-Africana", acrescentou Smith, em referência aos protestos anti-governo nos países do norte da África no início dos anos 2010.
Apelo à calma
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pediu nesta terça-feira às partes envolvidas no processo eleitoral em Moçambique que ajam com calma e responsabilidade. A organização afirmou estar disposta a apoiar iniciativas que promovam a paz e a estabilidade.
"Apelamos a todas as partes envolvidas para que ajam com calma e responsabilidade, priorizando o diálogo construtivo como o caminho mais eficaz para superar as diferenças e promover a estabilidade."
Em comunicado, a presidência rotativa da CPLP, ocupada por São Tomé e Príncipe, declarou estar acompanhando os resultados definitivos anunciados pelo Conselho Constitucional de Moçambique.
No domingo, o Papa Francisco também pediu que o diálogo e a boa vontade prevaleçam sobre a desconfiança e a discórdia em Moçambique.
Moçambique tem sido abalado por agitações desde que a comissão eleitoral anunciou a vitória de Chapo. Mais de 130 pessoas morreram em protestos, de acordo com organizações da sociedade civil.
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