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    Nova estratégia de defesa da UE pressiona líderes a cortarem dependência externa, mas gera divisão

    A Hungria se opõe a uma postura de confronto com a Rússia

    Bandeiras da UE na sede da Comissão Europeia em Bruxelas - 20/04/2016 (Foto: REUTERS/Francois Lenoir)
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    Por Claudio Tito – Correspondente do jornal La Reppublica

    BRUXELAS, 18/3/25 – “Se a Europa quiser evitar a guerra, a Europa deve se preparar para a guerra”, reiterou Ursula von der Leyen, atual presidente da Comissão Europeia. No dia da ligação telefônica entre Trump e Putin, relança o plano “Rearm Europe”. O plano é uma iniciativa estratégica de defesa proposta pela presidente em 4 de março de 2025, com o objetivo de fortalecer as capacidades militares da União Europeia (UE). Busca mobilizar até 800 bilhões de euros para aprimorar a infraestrutura de defesa da Europa em resposta a ameaças geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e incertezas sobre o apoio militar dos Estados Unidos. A proposta foi apresentada em meio a crescentes preocupações de segurança, ressaltando a necessidade de a Europa reduzir sua dependência de aliados externos, especialmente após a suspensão da ajuda militar dos EUA à Ucrânia. Não se trata de palavras alheias ao diálogo Washington-Moscou, mas sim de uma consequência dele. Um sinal direto para a Casa Branca e para o Kremlin.

    A posição da líder do executivo da UE não é, de forma alguma, isolada. Em Bruxelas, em muitas das 27 chancelarias e no quartel-general da OTAN, há grande preocupação de que o presidente americano aceite demasiadas condições impostas pelo Kremlin sem considerar as necessidades de segurança do Velho Continente. Uma delas é justamente a suspensão do envio de armas para Kiev: “Uma solicitação incompatível”, dizem nos altos escalões do Conselho Europeu, “com o apoio que os Estados-membros da União e a própria União têm fornecido ao exército ucraniano. Entre os princípios que a UE estabeleceu como indispensáveis para garantir uma paz duradoura está a garantia de segurança e uma Ucrânia capaz de se defender”.

    O temor da UE é, acima de tudo, que a Rússia não se comprometa a não atacar novamente no futuro próximo, não apenas a Ucrânia, mas também outros países vizinhos. Uma garantia considerada fundamental para a União Europeia. Além disso, António Costa, presidente do Conselho Europeu, insiste que “é essencial que todos compreendam que essa ameaça é coletiva e diz respeito a todos os europeus”. Uma forma de dizer que não se trata apenas dos territórios do Leste Europeu e, como lembra Von der Leyen, está ligada ao perfil democrático da UE. Não por acaso, a França, um dos países mais convencidos da necessidade de autonomia militar do Velho Continente, anunciou a intenção de reabrir quatro bases aéreas nucleares. Um sinal claro de que os tempos mudaram.

    Pelos mesmos motivos, Von der Leyen está convencida de que “até 2030, a Europa deve ter uma posição forte em matéria de defesa”. Ou seja, deve ser capaz de exercer uma dissuasão efetiva com uma estrutura próxima de um exército único. No entanto, sabendo que “a escala, os custos e a complexidade dos projetos vão muito além das capacidades de cada país individualmente. Precisamos desenvolver projetos de grande escala e intensificar as compras conjuntas”. Portanto, dívida comum – um tabu a ser quebrado novamente, como repetiu ontem Mario Draghi – e aquisições comunitárias, como ocorreu com as vacinas durante a pandemia.

    Um investimento essencial agora porque “a era dos dividendos da paz” acabou. Durante muitos anos, a Europa se acomodou sob a proteção americana e em um período de relativa ausência de conflitos armados. Não investiu mais em segurança. Mas agora, repete a presidente da Comissão, “a Rússia está em um caminho irreversível rumo à criação de uma economia de guerra”. Ao contrário da OTAN, que fixou o gasto militar em 2% do PIB, Moscou destina 9% do seu PIB para armamentos. Um sinal nada pacífico: “E nós não podemos nos dar ao luxo de sermos subjugados pela história”.

    Entre as medidas em estudo, também está a formação de uma “força-tarefa” conjunta com a Ucrânia. Para confirmar essa linha de ação, a líder da Comissão reafirmou ao governo dinamarquês o apoio na disputa com Trump sobre a Groenlândia: “Defenderemos nossa integridade territorial”.

    Na UE, porém, esse posicionamento também gera divisões. A Hungria se opõe a uma postura de confronto com a Rússia. Budapeste provavelmente não apoiará o documento final do Conselho Europeu, que se reunirá amanhã para reafirmar a proximidade com a Ucrânia e o plano de rearmamento, além de buscar utilizar os bens russos congelados pelo menos “até a compensação dos danos de guerra”. A unidade europeia, portanto, será testada pela ligação entre Trump e Putin.

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