TV 247 logo
    HOME > Mundo

    O trem fantasma de Trump

    Trump tentará, de forma exasperada, recuperar a hegemonia econômica global

    Presidente eleito dos EUA, Donald Trump 05/11/2024 REUTERS/Brian Snyder (Foto: Brian Snyder)

    Por Jorge Elbaum em Cubadebate - Uma das prioridades centrais do próximo governo terá como objetivo o enfraquecimento da República Popular da China por meio de uma guerra híbrida, uma das facetas da qual será realizada através de medidas comerciais e tarifárias. É muito provável que o objetivo dessa política externa seja influenciado pela teoria geopolítica de Halford John Mackinder, que considerava, no início do século XX, que uma articulação continental entre a Europa e a Ásia poderia excluir as Ilhas Britânicas e o continente americano dos centros de poder global.

    Em 1971, em plena Guerra do Vietnã, Richard Nixon viu a oportunidade de romper as relações entre Moscou e Pequim. Em 15 de julho daquele ano, após um encontro entre o líder chinês e Henry Kissinger, o presidente norte-americano anunciou o início das relações com a República Popular, com o claro interesse de explorar as divergências que então se processavam entre os comunistas líderes soviéticos e Mao Tstung. Essa iniciativa, conhecida em Washington como Operação Marco Polo, ampliou o desacordo entre a China e a Rússia, uma experiência que será novamente ativada no segundo mandato presidencial de Donald Trump.

    Ao contrário do que aconteceu há meio século, as coordenadas parecem ter mudado. Washington procura enfraquecer o bloco continental euroasiático, concedendo benefícios a Moscou (o fim da guerra com a Ucrânia) para enfraquecer a China num momento em que uma aliança estratégica ilimitada entre Vladimir Putin e Xi Jinping se aprofunda e se expande. A proposta de Trump para acabar com a guerra na Ucrânia faz parte desse triplo propósito concatenado: minar a ligação entre Moscou e Pequim, quebrar a produção industrial europeia através de uma maior dependência do fornecimento de energia e condicionar a defesa militar de Bruxelas aos acordos de venda de armas dos EUA.

    Uma das provas mais explícitas da mudança de visão em relação ao conflito na Europa Oriental foi o interrogatório do tenente-general Keith Kellogg – representante especial de Trump para a guerra na Ucrânia –, que classificou o assassinato do general Kirilov pelos serviços de inteligência de Kiev (SBU) como uma ação terrorista. “Isso simplesmente não cumpre as regras da guerra. Se você é um general, então você é apenas um alvo legítimo no campo de batalha.” Para enfraquecer a China, a administração Trump precisa – além de romper a ligação da China com a Rússia – enfraquecer o máximo possível o plano explicado por Xi Jinping para integrar a Iniciativa Cinturão e Rota. Um número significativo desses países está localizado na área do Oriente Médio, da Península Arábica e do Golfo Pérsico, áreas de conflitos armados recorrentes, incentivados pelo Departamento de Estado.

    Trump tentará, de forma exasperada, recuperar a hegemonia econômica global por meio de cortes de impostos para os empresários, reindustrialização, políticas tarifárias e negação ambiental. Para se fortalecer no plano interno, o presidente eleito se aprofundará em sua estratégia de buscar culpados, apontando-os como os maiores responsáveis pelas atuais dificuldades dos Estados Unidos: (a) os imigrantes pobres, especialmente os latino-americanos; (b) a cultura “woke”, que afirma o direito à diferença e seu reconhecimento em um nível de igualdade; e (c) o “estado profundo”, expressão que se refere às instituições que podem potencialmente restringir o despotismo trumpista.

    Para exibir uma imagem oposta a esses três inimigos internos, o presidente eleito apresentou seu gabinete, composto por multimilionários, protagonistas famosos de shows midiáticos e amigos que lhe garantem lealdades à prova de deslizes. Um deles é Elon Musk (foto com Trump), o indivíduo mais rico do planeta, cuja fortuna supera os 400 bilhões de dólares, um valor semelhante ao Produto Interno Bruto da Dinamarca. O proprietário da Tesla e da SpaceX ficará encarregado dos ajustes nos gastos públicos e de garantir vantagens monopolistas para suas empresas. A primeira medida, denunciam seus concorrentes, será a eliminação da exigência de notificar acidentes automobilísticos, incluindo aqueles gerados por seus carros robotizados sem condução humana. A medida permitirá que sejam ocultados os – até agora – 1.500 acidentes causados por seus veículos.

    Um grande admirador de Musk, o senador Marco Rubio, foi escolhido como chefe do Departamento de Estado. Desde que foi nomeado, encarregou-se de ameaçar os países da América Latina que não aceitam o intervencionismo neocolonial. Um dos funcionários que lhe respondeu foi o vice-ministro das Relações Exteriores cubano, Carlos Fernández de Cossío, que insistiu no fim do bloqueio e na exclusão de seu país da lista de nações patrocinadoras do terrorismo. Em resposta às provocações do futuro secretário de Estado, advertiu: “Daqui a quatro anos, o governo de Trump terá terminado, e a Cuba socialista seguirá aqui.”

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

    Relacionados