Oligui Nguema deve vencer primeira eleição presidencial no Gabão após golpe de 2023
Militar que depôs Ali Bongo lidera pesquisas e recebe apoio do PDG, partido que comandou o país por mais de cinco décadas
247 - O Gabão realiza neste sábado (12) sua primeira eleição presidencial desde o golpe militar que depôs Ali Bongo em agosto de 2023. O pleito marca o retorno ao processo eleitoral sob a presidência interina do general Brice Oligui Nguema, que liderou a derrubada do antigo regime e é apontado como favorito para vencer.
Nguema assumiu o poder após o fim da dinastia Bongo, que governou o país por mais de meio século, e ganhou popularidade com um discurso centrado no combate à corrupção e na promessa de mudança. Durante sua gestão interina, aprovou uma nova constituição — referendada em novembro — que estabelece mandato presidencial de sete anos, com direito a uma reeleição.
“O problema é o alto custo de vida. E se o presidente, o futuro presidente, puder olhar com atenção para os preços dos alimentos, e não apenas dos alimentos, mas também de outros aspectos da vida cotidiana, isso será algo bom para nós”, disse Eugène Ndonga, servidor público que apoia Nguema.
Apesar do discurso de ruptura com o passado, analistas consideram que a eleição pode representar mais a substituição de um grupo político do que uma mudança estrutural no sistema de poder. Segundo o consultor político independente Fred Kapabi, “o objetivo não era acabar com um sistema. O objetivo era acabar com um regime. Então, Ali Bongo tinha um regime. Seu governo era o ‘Young Team’. O golpe que ocorreu não tinha como meta pôr fim à dinastia do PDG. É por isso que, depois de retirar Ali Bongo e seu regime, vemos um retorno massivo dos apoiadores do PDG”.
A avaliação de Kapabi encontra respaldo na movimentação do próprio Partido Democrático Gabonês (PDG), que anunciou na última semana apoio oficial a Oligui Nguema. O PDG foi fundado por Omar Bongo e esteve à frente do governo por mais de 50 anos.
O principal adversário de Nguema na disputa é o ex-primeiro-ministro Alain Claude Bilie-By-Nze, que atuou no governo de Ali Bongo. Ele propõe reorganizar as finanças públicas, criar empregos e reduzir a dependência do país em relação à antiga potência colonial, a França.
Além de Nguema e Bilie-By-Nze, há outros sete candidatos na corrida presidencial, mas suas campanhas são consideradas frágeis e pouco visíveis. Nguema, por sua vez, conta com apoio amplo no espectro político, consolidando sua posição como o principal nome da eleição.
O resultado do pleito poderá confirmar a permanência de estruturas tradicionais de poder sob nova liderança, ainda que legitimada pelas urnas.
A política do Gabão desde 2023
Em 30 de agosto de 2023, o Gabão vivenciou um golpe de Estado liderado pelo general Brice Oligui Nguema, então comandante da Guarda Republicana e primo do presidente Ali Bongo Ondimba.
A ação militar ocorreu poucas horas após o anúncio oficial da reeleição de Bongo para um terceiro mandato, com 64,27% dos votos, em um pleito marcado por denúncias de irregularidades e falta de transparência. Os militares justificaram a tomada de poder alegando "governança irresponsável" e "degradação contínua da coesão social", anulando os resultados eleitorais, dissolvendo as instituições estatais e fechando temporariamente as fronteiras do país.
Após o golpe, Nguema foi empossado como presidente de transição em 4 de setembro de 2023, comprometendo-se a restaurar a ordem constitucional e realizar eleições livres. Em novembro de 2024, um referendo aprovou uma nova constituição, que estabeleceu mandatos presidenciais de sete anos, renováveis uma vez, e permitiu a participação de militares em eleições. Essa nova legislação pavimentou o caminho para que Nguema concorresse nas eleições presidenciais de abril de 2025.
Durante o período de transição, o governo interino implementou projetos de infraestrutura e buscou diversificar a economia, tradicionalmente dependente do petróleo. Apesar de um crescimento econômico de 2,9% em 2024, desafios persistem, como a elevada taxa de desemprego entre os jovens e a concentração de riqueza.
A comunidade internacional, incluindo observadores da União Africana e da União Europeia, acompanha de perto o processo eleitoral, considerado um teste crucial para a estabilidade e a democratização do país.
(Com informações da agência Africa News)
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