ONU aprova resolução para investigar crimes de guerra na Síria com apoio de de novo governo extremista
Medida é bem recebida por Damasco, mas ligações da atual liderança com grupos extremistas levantam dúvidas sobre isenção nas apurações
247 - Aprovada por consenso nesta sexta-feira (4) pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, uma nova resolução pede ao governo sírio que colabore com investigações sobre violações de direitos humanos cometidas durante os 13 anos de guerra civil no país.
A medida marca uma mudança importante no posicionamento diplomático em relação à Síria, agora sob novo comando após a queda do presidente Bashar al-Assad, em dezembro do ano passado.
A informação é da agência Reuters, que destacou a recepção positiva da iniciativa por parte das autoridades sírias. "Esse apoio internacional serve como um forte incentivo para continuar o caminho da reforma", afirmou ao conselho o embaixador da Síria na ONU em Genebra, Haydar Ali Ahmad.
Já o ministro das Relações Exteriores, Asaad al-Shibani, declarou na rede X: "Estamos orgulhosos da participação positiva e construtiva da Síria na elaboração da resolução pela primeira vez".
A resolução inclui a solicitação de que Damasco permita o funcionamento de uma Comissão de Inquérito para apurar crimes graves desde o início do conflito, em 2011.
O documento não enfrentou resistência entre os 47 membros do conselho e foi interpretado como um sinal de aceitação internacional ao novo governo sírio, instalado após a tomada de Damasco por forças rebeldes lideradas por Ahmed al-Sharaa, em dezembro do ano passado.
Liderança sob questionamento
Apesar da adesão formal à proposta da ONU, o atual governo de transição enfrenta críticas devido à trajetória de seu principal dirigente. Ahmed al-Sharaa é conhecido por sua antiga liderança do grupo Hay'at Tahrir al-Sham (HTS), uma organização jihadista com raízes na al-Qaeda. Embora ele tenha se afastado formalmente da retórica extremista em anos recentes, o histórico do HTS — considerado grupo terrorista por diversas nações — levanta questionamentos sobre a isenção da atual administração para apurar os crimes do conflito sírio.
O governo anterior, comandado por Bashar al-Assad, é acusado por entidades internacionais como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional de desaparecimentos forçados, uso de armas químicas contra civis e práticas sistemáticas de tortura.
Agora, com a incumbência de apoiar uma comissão de inquérito sobre esses crimes, recai sobre o novo governo sírio a expectativa de transparência e compromisso com os padrões internacionais de justiça. No entanto, analistas alertam que a relação de al-Sharaa com grupos armados que também estiveram envolvidos em violações durante a guerra pode comprometer a credibilidade do processo.
Massacres de alauítas na Síria em março de 2025
Em março de 2025, a Síria testemunhou uma escalada de violência sectária nas províncias de Latakia e Tartus, resultando na morte de centenas de civis alauítas. Organizações como o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR) relataram que, entre os dias 7 e 8 de março, forças de segurança e combatentes aliados ao governo de transição executaram sumariamente civis em várias localidades, incluindo Al-Mukhtariya e Al-Shir. O SOHR documentou a morte de pelo menos 745 civis durante esses confrontos.
Esses ataques foram amplamente interpretados como atos de vingança contra a comunidade alauíta, que era associada ao regime deposto de Bashar al-Assad. O presidente interino, Ahmed al-Sharaa, reconheceu a gravidade da situação, afirmando que os massacres ameaçavam a unidade nacional e prometendo justiça contra os responsáveis.
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