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    Posição do Brasil sobre entrada da Venezuela no Brics "não é julgamento moral ou político", diz Celso Amorim

    Para Amorim, a questão é saber se a Venezuela 'pode contribuir para um mundo mais pacífico pelo seu peso político e capacidade de relacionamento'

    Celso Amorim e Lula (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

    247 - A postura brasileira em relação à possível entrada da Venezuela no BRICS não deve ser vista como um "julgamento moral ou político", afirmou o ex-chanceler e assessor especial do presidente Lula (PT) para Assuntos Internacionais, Celso Amorim. Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim deixou claro que a decisão se baseia na capacidade de relacionamento internacional e no potencial de contribuição para um mundo mais equilibrado, não em regimes de governo.

    O assessor fez as declarações após encontro com Lula no Palácio da Alvorada, onde o presidente se recupera de um acidente doméstico ocorrido no sábado (19). Amorim ponderou que ainda não há uma conclusão sobre o posicionamento do Brasil em relação à candidatura da Venezuela para ingressar no bloco. "Talvez ainda não seja possível chegar a uma conclusão", disse. "Não estamos fazendo julgamento moral ou político sobre o país em si. O BRICS tem países com diferentes regimes, e a questão é saber se eles podem contribuir para um mundo mais pacífico pelo seu peso político e capacidade de relacionamento".

    A Venezuela, governada por Nicolás Maduro, solicitou formalmente sua entrada no BRICS, e o tema será discutido durante a primeira cúpula do bloco ampliado, que ocorre entre esta terça-feira (22) e quinta-feira (24) em Kazan, na Rússia. Além dos cinco membros originais, desde o ano passado o BRICS passou a incluir países como Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia.

    Amorim destacou que o Brasil está empenhado em fortalecer o BRICS após a recente expansão do grupo. Ele mencionou, inclusive, a postura da Arábia Saudita, que participou de algumas reuniões, mas não de outras, como exemplo de que nem sempre a entrada no bloco significa um alinhamento total imediato. "Queremos um BRICS fortalecido, com países que possam realmente contribuir para a paz pelo equilíbrio", reforçou.

    O conselheiro também defendeu que o bloco mantenha uma postura aberta e não restritiva em relação à entrada de novos países, valorizando a capacidade de cada nação de contribuir para o equilíbrio global, mesmo aquelas de menor dimensão territorial. Ele citou a Turquia como exemplo de um país que, apesar de não integrar o BRICS, faz contribuições efetivas nas relações internacionais. "Não acho que deve ser restritivo. Países que, pela sua capacidade de relacionamento, compensam seu tamanho pequeno podem ter um peso significativo na paz mundial, no desenvolvimento e na governança global".

    Devido ao acidente doméstico, Lula cancelou sua ida à cúpula em Kazan, designando o chanceler Mauro Vieira para chefiar a delegação brasileira. Vieira deverá defender dois pontos prioritários da política externa de Lula: a reforma da governança global, com foco no Conselho de Segurança da ONU, e a busca por mecanismos que reduzam a dependência do dólar nas transações comerciais, assim como das instituições multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

    A cúpula do BRICS em Kazan é aguardada com grande expectativa, especialmente diante das tensões geopolíticas atuais e da ampliação do bloco, que busca consolidar seu papel como contrapeso ao sistema de governança global liderado por economias ocidentais.

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