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    "Realismo" de Trump pode provocar "surpresas" na busca por paz na Ucrânia e Oriente Médio, diz Celso Amorim

    Assessor do presidente Lula manifestou esperança de que a política externa de Trump se apegue ao pragmatismo em vez do "idealismo excessivo"

    Assessor especial da Presidência, Celso Amorim 15/08/2024 (Foto: REUTERS/Andressa Anholete)

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    247 - Durante uma conferência sobre paz realizada em Paris nesta segunda-feira (11), o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula (PT) para assuntos internacionais, fez uma análise sobre as possíveis mudanças que o segundo mandato de Donald Trump poderia trazer para as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Para Amorim, "surpresas" podem surgir na abordagem de Trump em relação a esses conflitos, especialmente se ele adotar um "realismo" pragmático, em vez de um idealismo excessivo.

    “Curiosamente, estou esperançoso de que essas mudanças que estão ocorrendo provoquem alguma mudança na cabeça das pessoas também, e que se verifique que o equilíbrio, a paz, talvez seja mais importante do que impor uma certa ideologia”, afirmou Amorim em entrevista à Folha de S.Paulo antes de participar do Fórum de Paris pela Paz, evento que reúne anualmente políticos e representantes da sociedade civil para discutir os grandes conflitos globais.

    Embora tenha manifestado ser simpatizante do Partido Democrata e tenha lembrado que o presidente Lula 'declarou voto' em Kamala Harris, Amorim destacou que é necessário procurar o lado positivo em todas as situações. "Claro, esse ponto pode ser muito pequeno, mas se você não se concentra nele, vale tudo. No caso de Trump, esse ponto seria uma dose de realismo, que pode ser útil, em vez de um idealismo excessivo", afirmou o embaixador.

    Amorim observou, ainda, que Trump tem uma tendência a respeitar "líderes fortes, que sabem que são fortes", o que poderia facilitar o estabelecimento de um "diálogo de formato diferente" — algo que ele classificou como um modelo "kissingeriano", uma referência ao ex-secretário de Estado americano, Henry Kissinger, que se destacou pela sua diplomacia pragmática durante a Guerra Fria.

    Após a vitória de Trump nas eleições americanas, surgiu a especulação de que o republicano poderia propor um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia, incluindo a criação de uma zona-tampão desmilitarizada separando os dois países. No entanto, essa ideia ainda não encontrou apoio significativo na comunidade internacional.

    Durante sua participação no Fórum de Paris, Amorim também defendeu a "multipolaridade civilizada" no cenário geopolítico mundial, destacando o papel do Brasil nas recentes cúpulas dos Brics e do G20. "Um amigo me perguntou por que o Brasil se esforça tanto pelos Brics. E eu disse: para reforçar o G20. Porque o G20 é o que há de mais próximo de um fórum equilibrado. Um Brics mais forte torna o G20 mais forte", explicou Amorim.

    Embora o Brasil tenha reiterado sua posição de condenar a agressão russa à Ucrânia, Amorim reconheceu que parte da tensão também se deve à expansão da Otan no Leste Europeu, algo que a Rússia vê como uma provocação. Ele citou o historiador Arnold Toynbee, que, já nos anos 1950, sugeriu que a Rússia tinha um argumento válido em relação à aliança militar ocidental.

    Sobre a possibilidade de uma futura redução da presença militar americana na Europa, Amorim sugeriu que um Exército europeu forte poderia ser viável. "Já dizia o [ex-presidente francês Charles] De Gaulle, né? Falava da Europa 'dos Pirineus aos Urais'. Naquela época não podiam entrar Espanha nem Portugal, por causa do Salazar e do Franco. Agora pode ser 'de Cascais aos Urais' e ter uma paz na Europa", disse, lembrando o contexto histórico da Europa pós-Segunda Guerra.

    O Fórum de Paris pela Paz, realizado anualmente desde 2018 em frente à Torre Eiffel, é uma iniciativa de uma ONG que conta com o apoio de entidades da sociedade civil e do setor privado.

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