Rússia isolada? Triunfo da Cúpula do BRICS contraria Ocidente sobre suposta segregação global
Representantes de 36 países estiveram em Kazan para participar da Cúpula do BRICS, onde foram discutidos temas de interesse do Sul Global
Sputnik - Encerrada nesta quinta-feira (24), a 16ª Cúpula do BRICS demonstrou que, ao contrário do que o Ocidente vem pregando nos últimos anos, a Rússia não está isolada da chamada comunidade internacional, diz especialista à Sputnik.
Representantes de 36 países estiveram em Kazan entre os dias 22 e 24 de outubro para participar da Cúpula do BRICS, onde foram discutidos temas de interesse para o futuro das nações do Sul Global.
"A Rússia foi capaz, durante este ano, de fazer um excelente trabalho diplomático na presidência do BRICS, com cerca de 200 reuniões, e sai daqui com algumas propostas importantes", considera Marco Fernandes, pesquisador do Instituto Tricontinental que acompanhou o evento em Kazan.
Conforme ressaltou o pesquisador em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, a Cúpula do BRICS foi "um sucesso diplomático para a Rússia", contrariando os murmúrios do Ocidente sobre o isolamento do país da comunidade internacional.
BRICS terá novos membros, mas em outras circunstâncias
Se neste ano, durante a presidência russa do BRICS, se consolidou a presença de cinco novos membros permanentes (Irã, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos), a partir da 16ª cúpula o agrupamento convidou mais 13 países para ingressarem, mas como parceiros associados.
Agora Argélia, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã terão que decidir se aceitarão ou não o pedido.
A maioria deles, segundo Fernandes, já havia demonstrado interesse em se beneficiar das cooperações oferecidas pelo BRICS.
O pesquisador analisa que a expansão é positiva por diversos aspectos, desde a aglutinação de apoio para a demanda de países do grupo, como o próprio Brasil, pela reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas até cooperações econômicas e geopolíticas.
Por um lado, ele ressalta a entrada de Cuba como um aspecto positivo para o país caribenho, que poderá usufruir de parcerias econômicas, sobretudo do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do BRICS.
"Cuba está precisando demais. A gente viu agora, inclusive nesta semana, todo o drama de mais um apagão no país", ressalta.
Na outra ponta, Fernandes vê economias emergentes como as de Malásia e Indonésia aderindo ao agrupamento, oxigenando-o em diversos setores — a segunda nação tem o potencial, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), de ser a quinta maior economia do mundo até 2030.
"Com esses novos países, o PIB do BRICS passaria para cerca de 43% do PIB global", ou seja, "o BRICS se aproximaria de quase metade do PIB global".
Além disso, o arranjo aumenta a sua potência energética e alimentar com os países convidados.
"Para você ter uma ideia, as reservas de petróleo chegariam a quase 50%, as de gás, a quase 60% das do mundo. Se a gente vai para os grãos, o BRICS seria responsável por cerca de 74% do arroz do mundo, cerca de 44% do milho, 48% da soja e cerca de 56% do trigo."
Inclusive partiu da Rússia a ideia de criar uma bolsa de grãos do BRICS, destaca o especialista.
"O presidente [Vladimir] Putin fez esse comentário uns meses atrás. Ele disse: 'Olha, nós produzimos a maior parte dos grãos do planeta, e quem define o preço é a Bolsa de Chicago. Isso não faz sentido! A gente precisa criar um mecanismo nosso para que os nossos países produtores tenham mais influência na formação dos preços do mercado mundial de grãos, garantindo também uma estabilidade maior, inclusive acordos que possam ser feitos no interior do BRICS'", aponta Fernandes.
O pesquisador relembra que uma das principais pautas da cúpula foi a criação de um sistema de pagamento alternativo ao SWIFT e negociações em moedas dos próprios países envolvidos como possibilidade ao dólar.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, fala com a imprensa sobre resultados da Cúpula do BRICS - Sputnik Brasil, 1920, 24.10.2024
Laerte Apolinário Júnior, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), destaca também a presença da Turquia, que pode ser o primeiro país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a constituir relações com o BRICS.
"A Turquia é considerada uma potência regional, tanto em termos políticos quanto em termos econômicos, quanto em termos militares", ressalta.
Em outro reforço, o professor da PUC-SP aponta o Vietnã e a Nigéria entre os listados. Segundo ele, o primeiro ocupa um papel-chave nas cadeias globais de valor, enquanto o seguinte é a maior economia do continente africano.
"A Nigéria é a maior economia da África. É um dos grandes exportadores de petróleo dos mercados de energia. A gente observa que, nessa expansão recente, grandes exportadores passaram a fazer parte da organização. A Nigéria teria também a contribuir nesse sentido, para além do fato de que é um ator importante nas relações Sul-Sul", avalia.
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