Tarifaço de Trump provoca pânico nos mercados e derruba bolsas globais
Investidores temem recessão com nova onda protecionista dos EUA; bancos japoneses lideram perdas e ouro se aproxima de recorde histórico
247 - Em matéria publicada pela Reuters nesta sexta-feira (4), a repórter Rae Wee detalha os fortes impactos causados pela mais recente ofensiva tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou no dia 2 de abril a imposição de tarifas amplas sobre uma variedade de produtos importados. A medida, segundo ele, visa proteger a indústria americana e corrigir desequilíbrios comerciais históricos. No entanto, os mercados globais reagiram com inquietação, dando início a uma liquidação generalizada de ativos de risco.
Os efeitos do chamado “tarifaço” se fizeram sentir de maneira aguda nos bancos japoneses, que registraram fortes quedas em suas ações nesta sexta-feira. O índice bancário de Tóquio despencou 11%, tornando-se o pior desempenho do dia e acionando mecanismos automáticos de contenção de perdas. O índice Nikkei, principal indicador da bolsa japonesa, caiu mais de 4% e caminha para fechar a semana com perdas próximas de 10%, o pior resultado em mais de cinco anos.
“Os bancos no Japão estão presos no fogo cruzado das expectativas decrescentes de aumento de juros, coincidindo com o mercado se conformando com maiores chances de uma recessão global”, avaliou Jon Withaar, gestor de fundo da Pictet Asset Management.
As incertezas provocadas pela escalada protecionista dos EUA também empurraram investidores em direção a ativos considerados mais seguros. Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 10 anos caíram abaixo de 4%, e os investidores passaram a precificar mais de 100 pontos-base em cortes nas taxas de juros do Federal Reserve ainda este ano.
“Se o atual conjunto de tarifas se mantiver, uma recessão no segundo ou terceiro trimestre é bem possível, assim como um mercado em baixa”, afirmou David Bahnsen, diretor de investimentos do The Bahnsen Group. “A questão é: o presidente Trump buscará algum tipo de saída para essas políticas se e quando virmos um mercado de baixa no mercado de ações.”
A aversão ao risco também se refletiu no desempenho do ouro, que se aproximou de sua máxima histórica, cotado a US$ 3.103,97 por onça. O metal acumula cinco semanas consecutivas de alta, reforçando seu papel como ativo de refúgio em tempos de incerteza. O iene também se valorizou diante do dólar, que recuou quase 0,5% frente à moeda japonesa, chegando a 145,41.
Os reflexos se estenderam ao mercado americano, onde empresas do S&P 500 perderam, juntas, US$ 2,4 trilhões em valor de mercado em apenas um dia — a maior perda desde março de 2020, no início da pandemia da COVID-19. Os futuros dos principais índices de Wall Street continuavam apontando para quedas adicionais nesta sexta-feira: o Nasdaq recuava mais de 1%, e o S&P 500 perdia 0,9%.
Em meio ao cenário de retração, crescem as expectativas em torno da próxima fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, prevista ainda para esta sexta-feira. O mercado estará atento a qualquer sinal de flexibilização da política monetária como resposta à deterioração do ambiente econômico.
David Doyle, chefe de economia do Macquarie Group, alertou para os riscos da estagflação. “Os bancos centrais não estão bem equipados para lidar com a estagflação, pois os impactos do crescimento mais lento e da inflação mais alta puxam as políticas em direções opostas. Isso significa que uma inflação básica mais forte provavelmente limitará a extensão de qualquer resposta política do Fed.”
No mercado de câmbio, moedas sensíveis ao risco, como o dólar australiano e o neozelandês, recuaram mais de 1%. O euro, por sua vez, subiu 0,39%, para US$ 1,1095, sustentado pela fraqueza generalizada do dólar.
O petróleo, considerado termômetro da atividade econômica, também estendeu suas perdas, refletindo o temor de uma desaceleração global. A preocupação é que a nova rodada de tarifas dos EUA possa desorganizar ainda mais as cadeias produtivas, reduzir o comércio internacional e abalar o já frágil equilíbrio econômico global.
O boletim da Reuters finaliza alertando que o impacto pleno das tarifas de Trump ainda está por ser sentido, mas os sinais iniciais indicam que a medida poderá ter efeitos profundos — e potencialmente duradouros — sobre os fluxos de capitais, os mercados financeiros e as perspectivas de crescimento para 2025.
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