Trump afirma que países terão de pagar muito dinheiro para suspender tarifas
Medidas do presidente dos EUA provocam perdas bilionárias nas bolsas e temores de recessão
247 - Reportagem publicada pela Reuters nesta segunda-feira (7), assinada por Trevor Hunnicutt e Leika Kihara, aponta que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a provocar fortes abalos na economia global ao declarar que outras nações só conseguirão evitar uma nova leva de tarifas comerciais se aceitarem “pagar muito dinheiro anualmente”. As declarações acentuaram a tensão nos mercados financeiros, com quedas expressivas em bolsas asiáticas e futuros de Wall Street, ampliando os receios de uma recessão mundial.
“Não quero que nada aconteça. Mas às vezes é preciso tomar remédio para consertar alguma coisa”, afirmou Trump a jornalistas a bordo do Força Aérea Um, ao regressar de um fim de semana na Flórida. A fala reforça a retórica do presidente, que vem caracterizando as tarifas como “remédios” inevitáveis, mesmo diante da destruição de bilhões de dólares em valor de mercado desde os primeiros anúncios de sua nova ofensiva tarifária, feita na semana passada.
As declarações provocaram reações imediatas de governos aliados dos EUA. Japão, Taiwan, Israel, Índia e Vietnã já iniciaram contatos com Washington na tentativa de evitar os impactos das medidas, mas, segundo Trump, qualquer negociação dependerá de compensações financeiras substanciais. “Eles estão vindo para a mesa. Eles querem conversar, mas não há conversa a menos que nos paguem muito dinheiro anualmente”, disse o presidente norte-americano.
O pacote tarifário tem sido amplamente criticado por líderes estrangeiros e já levou a China, segunda maior economia do mundo, a anunciar tarifas retaliatórias. A escalada de tensões gerou apreensão entre investidores e analistas, alimentando previsões pessimistas quanto ao crescimento global em 2025.
Nem mesmo apoiadores de Trump na elite financeira deixaram de expressar preocupação. O bilionário Bill Ackman, que foi um dos financiadores de sua campanha presidencial, fez um apelo público pela suspensão das tarifas, alertando para o risco de uma “guerra nuclear econômica”.
Dentro da administração Trump, o discurso é de que as medidas fazem parte de uma reestruturação estratégica da posição comercial dos EUA no mundo. “Mais de 50 nações começaram negociações com os EUA desde o anúncio da última quarta-feira”, declarou o secretário do Tesouro, Scott Bessent. Já o secretário do Comércio, Howard Lutnick, foi categórico: “As tarifas permanecerão em vigor por dias e semanas”.
Enquanto as negociações ocorrem, o impacto nas economias já se faz sentir. No Japão, o índice Nikkei caiu para o menor patamar em um ano e meio, com bancos japoneses – entre os maiores credores do mundo – perdendo cerca de 25% de seu valor de mercado nos últimos três pregões. “Os resultados não virão da noite para o dia”, reconheceu o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, em discurso no parlamento.
Além das bolsas, o efeito dominó atingiu o mercado de petróleo, com queda nos preços globais da commodity, e elevou as apostas de que os EUA cortarão suas taxas de juros já em maio. Apesar disso, o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, garantiu que não haverá pressão política sobre o Federal Reserve. “Não haverá coerção política”, declarou.
As projeções revisadas por bancos como JPMorgan e Goldman Sachs são alarmantes. O JPMorgan estima que as tarifas provocarão uma queda de 0,3% no PIB dos EUA este ano, reduzindo a expectativa anterior de crescimento de 1,3%. Para a China, o Goldman Sachs prevê uma desaceleração de pelo menos 0,7 ponto percentual, acompanhada de um provável relaxamento fiscal.
Diante do novo cenário, o Reserve Bank of New Zealand – primeiro grande banco central a se reunir após a ofensiva tarifária de Trump – deve anunciar um corte de juros nesta terça-feira, possivelmente abrindo uma nova onda de políticas monetárias expansionistas ao redor do mundo, em uma tentativa de conter os efeitos da instabilidade provocada por Washington.
Com a política tarifária de Trump impondo riscos reais ao comércio internacional e à estabilidade macroeconômica, líderes globais enfrentam agora o desafio de reagir a uma estratégia que mistura imprevisibilidade, pressão financeira e um reposicionamento agressivo dos EUA no cenário geopolítico.
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