Trump cogita reconhecer Crimeia como território russo
Movimento abriria caminho para acordo de paz na guerra na Ucrânia, mas enfrenta forte resistência de Kiev e aliados ocidentais
247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria considerando reconhecer a Crimeia como território russo, segundo informações divulgadas pelo portal de notícias Semafor e reportadas pelo site Guancha. A medida faria parte de um possível acordo de paz para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia. De acordo com fontes familiarizadas com o assunto, funcionários do governo norte-americano também discutiram a possibilidade de pressionar as Nações Unidas a adotar a mesma postura.
Até o momento, Trump não tomou uma decisão definitiva e a proposta seria apenas uma entre várias opções consideradas. No entanto, caso se concretize, esse posicionamento alinharia os Estados Unidos à Rússia, que há anos reivindica a soberania sobre a península. Até então, a administração Trump não havia indicado publicamente estar aberta a essa possibilidade.
Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca negou qualquer compromisso nesse sentido. "Nosso governo não fez tal promessa e não negociaremos esse acordo através da mídia", afirmou. O representante ainda ressaltou que "duas semanas atrás, Ucrânia e Rússia estavam distantes de um cessar-fogo; agora, graças à liderança do presidente Trump, estamos um passo mais próximos de um acordo. Nosso objetivo continua sendo parar a matança e encontrar uma solução pacífica para o conflito".
Crimeia: um impasse geopolítico
A Crimeia foi incorporada à Federação Russa em março de 2014, após um referendo realizado na região, no qual a maioria da população votou pela anexação ao país liderado por Vladimir Putin. Moscou sustenta que a decisão foi legítima e está de acordo com a Carta das Nações Unidas. No entanto, os Estados Unidos, a OTAN e a própria Ucrânia não reconhecem a anexação e insistem que a península é parte do território ucraniano.
Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, a Rússia consolidou seu domínio sobre cerca de 20% do território ucraniano, incluindo a Crimeia. O governo de Volodymyr Zelensky reitera que não aceitará a perda da península e qualquer tentativa de legitimar a ocupação russa. "Não reconheceremos nenhum território ocupado como pertencente à Rússia. Esta é uma linha vermelha", afirmou o presidente ucraniano no último dia 12.
Pressão sobre Kiev para concessões territoriais
Ainda que a Ucrânia mantenha uma posição inflexível, membros do governo Trump têm manifestado publicamente a necessidade de concessões territoriais por parte de Kiev. Em fevereiro, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou que restaurar as fronteiras pré-2014 da Ucrânia seria "um objetivo irrealista". Já o secretário de Estado, Marco Rubio, declarou recentemente que qualquer acordo de paz dependerá da disposição ucraniana em ceder território.
A capacidade militar da Ucrânia para retomar a Crimeia também é amplamente questionada por analistas de segurança. Mesmo Zelensky já admitiu no passado que a reintegração da península ao território ucraniano só poderia ocorrer por meios diplomáticos, uma vez que a Rússia dificilmente abriria mão da região.
Trump e a Crimeia: uma posição histórica
A possível mudança de posicionamento dos EUA em relação à Crimeia não seria uma novidade no discurso de Trump. Antes mesmo do conflito entre Rússia e Ucrânia, o ex-presidente norte-americano já havia sinalizado que poderia reconhecer a península como território russo. Durante sua campanha presidencial de 2016 e seu primeiro mandato, Trump mencionou diversas vezes que "analisaria" a questão.
Em 2018, ele chegou a afirmar: "Pelo que entendo, o povo da Crimeia prefere estar com a Rússia do que voltar para onde estava antes. Então isso precisa ser levado em consideração".
Se Trump realmente avançar com essa ideia, o impacto geopolítico poderá ser profundo, aumentando as tensões entre os Estados Unidos e seus aliados europeus, que rejeitam qualquer concessão à Rússia. Além disso, a Ucrânia promete resistir a qualquer tentativa de normalizar a ocupação russa de seu território, tornando esse um dos temas centrais para a diplomacia internacional nos próximos meses.
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