Visita de Pedro Sánchez à China reforça laços com Europa, diz editorial do Global Times

247 - Em meio às crescentes tensões geopolíticas e ao recrudescimento do protecionismo comercial, a visita do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, à China nesta sexta-feira (11), ganhou forte destaque na imprensa internacional. O editorial do jornal Global Times, publicado no mesmo dia, enxerga o encontro como um sinal claro de que a Espanha, assim como outros países europeus, opta por uma abordagem pragmática nas suas relações exteriores, resistindo às pressões dos Estados Unidos e reiterando seu apoio ao multilateralismo.

Durante a reunião realizada em Pequim, o presidente chinês Xi Jinping recebeu Sánchez com palavras enfáticas sobre a importância de fortalecer os laços entre os dois países. “A China sempre viu na União Europeia um polo importante em um mundo multipolar”, disse Xi, ressaltando que Pequim apoia “a unidade, o desenvolvimento e o crescimento da UE”. O líder chinês também defendeu a necessidade de China e UE assumirem responsabilidades internacionais conjuntas, “rejeitando ações unilaterais e intimidatórias” e preservando “a justiça e a equidade internacionais”.

Pedro Sánchez retribuiu o gesto com declarações que demonstram uma sintonia política e econômica com Pequim. “A UE está comprometida com o comércio aberto e livre, defende o multilateralismo e se opõe à imposição unilateral de tarifas”, afirmou o primeiro-ministro, reforçando a intenção da Espanha de manter e expandir seus vínculos comerciais com a China.

O encontro marca a terceira visita oficial de Sánchez à China em apenas três anos — um dado que, segundo o Global Times, “demonstra a continuidade das políticas amigáveis de muitos países europeus em relação à China”. A visita também acontece em um momento simbólico: 2025 marca o 20º aniversário da parceria estratégica abrangente entre China e Espanha, além dos 50 anos das relações diplomáticas entre a China e a União Europeia.

Os laços econômicos entre os dois países vêm se aprofundando. Produtos agrícolas espanhóis ganham crescente espaço no mercado chinês, enquanto os avanços tecnológicos da China, sobretudo nas áreas de energia e manufatura, têm impulsionado setores estratégicos da economia espanhola. Um dos exemplos mais emblemáticos dessa cooperação é o protagonismo chinês no Mobile World Congress, realizado anualmente em Barcelona, que se tornou uma vitrine da inovação tecnológica da China na Europa.

A visita de Sánchez não apenas consolidou essa parceria, mas também evidenciou uma reação europeia coordenada à tentativa de isolamento promovida por Washington. Em 9 de abril, apenas dois dias antes do encontro em Pequim, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, fez duras críticas à aproximação da Espanha com a China, afirmando que isso seria como “cortar a própria garganta”. A resposta veio do ministro espanhol da Agricultura, Luis Planas: “Pretendemos não apenas continuar mantendo excelentes relações comerciais com a China, mas também expandi-las”, rebateu com firmeza.

Essa postura ganha respaldo em Bruxelas. Em 8 de abril, o ministro do Comércio da China, Wang Wentao, e o comissário europeu para Comércio e Segurança Econômica, Maros Sefcovic, chegaram a um consenso por videoconferência: “as duas partes concordaram em iniciar negociações imediatamente”, noticiou a imprensa estrangeira. Segundo fontes próximas às tratativas, há um entendimento para o estabelecimento de preços mínimos para veículos elétricos chineses, em substituição às tarifas punitivas aplicadas pela UE no ano anterior — um avanço que revela maturidade diplomática e senso de urgência em evitar uma guerra comercial.

“Ao preservar espaço de mercado e conter escaladas tarifárias, China e UE demonstram que a cooperação é o caminho mais eficaz para resolver disputas comerciais”, avaliou o Global Times. A publicação destacou que essa atitude não visa confrontar terceiros, mas sim construir uma ordem internacional baseada em regras, diálogo e benefício mútuo.

Outro sinal dessa reaproximação foi a expressiva presença de empresas europeias no Fórum de Desenvolvimento da China 2025, representando cerca de 40% dos participantes. Executivos da indústria e do setor financeiro demonstraram otimismo com o ambiente de negócios chinês, contrariando tentativas de politização das relações comerciais. “Votaram com os pés”, destacou o jornal, referindo-se ao aumento de investimentos europeus em território chinês.

A Europa, de acordo com o editorial, começa a dar sinais de que busca maior autonomia estratégica, menos dependente das diretrizes de Washington. E a Espanha, ao liderar essa inflexão diplomática, passa a desempenhar um papel simbólico e prático no esforço coletivo por um novo equilíbrio global.

O pano de fundo da visita é, portanto, mais amplo do que um mero gesto bilateral. Reflete a resiliência das relações China-UE e a aposta em uma globalização reformada, mais justa e aberta. Os sinais enviados por Sánchez e Xi ressoam além das fronteiras de seus países: são um chamado à cooperação, ao diálogo e à resistência frente ao retorno das práticas protecionistas e à lógica da confrontação.

“Defendemos o diálogo em vez do confronto, a abertura em vez do fechamento e as regras em vez do poder”, conclui o editorial do Global Times, reiterando que a visita de Sánchez pode representar o início de uma nova fase nas relações entre China, Europa e o mundo.