Troca de Nísia por Padilha visa consolidar apoio no Congresso, mas reforma ministerial gera risco político
Alterações no comando de ministérios estratégicos, como a Saúde, sinalizam disputa interna no governo e negociações com o Centrão
247 – Uma nova reforma ministerial no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em curso e promete mudanças significativas na Esplanada dos Ministérios. A reformulação, que já vinha sendo discutida há meses, visa consolidar a base do governo no Congresso e melhorar sua governabilidade. Segundo análise publicada pela Sputnik Brasil, o governo deve priorizar o fortalecimento das relações políticas, mas as movimentações também geram resistência dentro do Partido dos Trabalhadores (PT).
Entre as mudanças concretizadas, uma das mais sensíveis envolveu o Ministério da Saúde. Ontem, Lula substituiu Nísia Trindade por Alexandre Padilha (PT-SP), que era ministro das Relações Institucionais e já havia comandado a pasta durante o governo de Dilma Rousseff. O professor de ciência política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Paulo Henrique Cassimiro, destacou à Sputnik que essa é uma decisão estratégica:
“O Ministério da Saúde tem um orçamento muito grande e o controle desses recursos interessa a deputados, senadores e aliados políticos do governo.”
O perfil técnico de Nísia Trindade, que ganhou destaque durante a pandemia à frente da Fiocruz, contrastava com o de Padilha, considerado um articulador político de peso dentro do PT. A mudança indica uma tentativa de tornar as relações com o Congresso mais fluidas, diante da pressão de parlamentares por mais influência na liberação de emendas. Especula-se que Trindade possa ser indicada para um cargo internacional, possivelmente na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Gleisi Hoffmann pode reforçar governo na articulação política
Outra mudança relevante envolve a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que deve deixar o comando do partido. Aliada próxima de Lula, Gleisi pode assumir um ministério estratégico, possivelmente a Secretaria-Geral da Presidência, atualmente ocupada por Márcio Macêdo (PT-SE). O professor Cassimiro explicou que a escolha reflete a resistência do PT em ceder espaços dentro do governo:
“O PT tem uma resistência muito grande a abdicar de certas posições estratégicas no governo. A nomeação de Gleisi reforçaria o protagonismo do partido.”
A deputada também era cotada para comandar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), cargo ocupado anteriormente por Padilha. Essa secretaria tem papel essencial na negociação com o Congresso, e a sua eventual saída abriu espaço para novas articulações.
Com a ida de Padilha para a Saúde, a SRI pode ser entregue a um político do Centrão, como o ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho (Republicanos), ou o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL). Entretanto, há resistência interna no PT, que teme perder o controle da articulação política do governo.
“A retirada do controle petista da Secretaria de Relações Institucionais pode significar um enfraquecimento da governabilidade. O partido quer evitar repetir o erro da ex-presidente Dilma Rousseff, que entregou a relação com o Congresso a Michel Temer e acabou isolada,” explicou Cassimiro.
Diante dessas disputas internas, o PT cogita manter um nome de sua própria base no cargo, como José Guimarães (CE), líder do partido na Câmara, ou Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado.
Lula enfrenta dilema político
A reforma ministerial de Lula tem um objetivo claro: garantir apoio parlamentar para a aprovação de projetos prioritários. No entanto, cada movimentação envolve um custo político, e o presidente precisará equilibrar os interesses do PT e a necessidade de ampliar sua base de sustentação no Congresso.
O desfecho das negociações será um teste crucial para a governabilidade do governo Lula, especialmente diante das eleições municipais de 2024, que também influenciam os cálculos políticos dos partidos aliados. A decisão final sobre as trocas ministeriais deve ser anunciada nos próximos dias.
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