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    Plano de corte de gastos provoca divisão interna no governo e debates acalorados

    Divergências expõem rachaduras na equipe de Lula enquanto PT teme impacto eleitoral de ajuste fiscal em áreas sociais

    Marinho, Haddad (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)

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    247 - As reuniões realizadas nos últimos dias no Palácio do Planalto, com o objetivo de definir o pacote de corte de gastos do governo, foram marcadas por momentos de tensão entre ministros de áreas-chave. Em um dos encontros, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), teriam discutido de maneira mais acalorada na presença do presidente Lula (PT), segundo a Coluna do Estadão. Marinho teria se mostrado descontente com a falta de diálogo em relação às mudanças nos programas de abono salarial e seguro-desemprego.

    O embate reflete não só divergências entre as pastas, mas também um receio crescente entre petistas sobre o impacto dessas medidas nas eleições de 2026. Setores do PT temem que a redução de despesas em áreas como saúde, educação e previdência possa comprometer a identidade social do governo Lula. Nos bastidores, a insatisfação com o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), também se intensifica. Ex-governador da Bahia e responsável pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Costa vem sendo criticado por sua postura direta e supostamente pelo pouco diálogo com colegas de Esplanada, como Haddad e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

    Na mesma reunião, o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), também expressou preocupações quanto a mudanças no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). A postura de Camilo reflete as tensões dentro do partido, que se vê dividido entre uma política fiscal mais rígida, encabeçada por Haddad, e uma ala que defende maior investimento estatal, representada pela ministra da Gestão, Esther Dweck.

    Em São Paulo, em um debate organizado pela Fundação Perseu Abramo, o professor de História Contemporânea da USP, Lincoln Secco, vocalizou as inquietações da ala mais à esquerda do PT. “Com todo nosso respeito a Haddad, mas quero um governo com mais Esther Dweck e menos Haddad,” afirmou Secco. Ele criticou a falta de mobilização do governo em políticas de neoindustrialização e defendeu uma maior pressão dos grupos de esquerda sobre o próprio governo.

    Outras figuras de relevância no partido, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também alertaram para a necessidade de uma abordagem cuidadosa ao modernizar o discurso da legenda. Em discurso virtual, Hoffmann trouxe uma metáfora sobre cautela: “minha avó sempre dizia: ‘Temos de ter muito cuidado para não jogar a água da bacia com a criança dentro’”. A presidente do PT já havia se manifestado anteriormente contra propostas de desvinculação do salário mínimo dos benefícios previdenciários, defendendo que o governo revisite o arcabouço fiscal antes de considerar cortes que impactem os mais vulneráveis.

    Em meio a um cenário de incerteza econômica e de avanço da direita tanto no Brasil quanto em outros países, a recente vitória de Donald Trump nas eleições americanas adiciona uma camada de preocupação ao Planalto. No Brasil, o receio é de que o fortalecimento de políticas conservadoras no exterior estimule a oposição interna e dificulte as manobras do governo para flexibilizar o orçamento sem desagradar a base aliada.

    No entanto, a equipe econômica enfrenta pressão do mercado para reduzir despesas e consolidar o arcabouço fiscal aprovado há pouco mais de um ano. A dúvida que paira entre os quadros do PT é sobre como o governo lidará com esse "bode na sala" — se o partido aceitará ou não o ajuste fiscal como inevitável, ainda que ele traga consigo um desgaste eleitoral iminente.

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