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      Juiz de SP usou identidade falsa por 40 anos e enganou o Judiciário, diz Ministério Público

      Magistrado aposentado teria utilizado nome fictício durante toda a carreira, ingressando na USP e na magistratura paulista com documentos falsificados

      Laís Gouveia avatar
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      247- Um juiz aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo está sendo acusado pelo Ministério Público do estado (MPSP) de utilizar identidade falsa por mais de quatro décadas para ingressar no serviço público e exercer a magistratura. A investigação, revelada pelo G1, aponta que Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, na verdade, chama-se José Eduardo Franco dos Reis e teria mantido a identidade fictícia ao longo de toda a carreira jurídica.

      De acordo com a Promotoria, Reis usou documentos falsos para estudar Direito na USP na década de 1980 e ingressar na magistratura paulista nos anos 1990, atuando em varas cíveis e ocupando cargos de destaque no Judiciário. Ele se aposentou em 2018 sem que sua verdadeira identidade fosse descoberta. "As razões para a suposta vida dupla são até agora desconhecidas", afirma o Ministério Público na denúncia apresentada à Justiça.

      O caso veio à tona em outubro do ano passado, quando o magistrado tentou emitir uma nova via do RG no Poupatempo de São Paulo. A análise das digitais revelou a farsa e levou à investigação conduzida pela Polícia Civil, culminando na denúncia apresentada à 29ª Vara Criminal da capital em fevereiro deste ano. A Justiça aceitou a acusação na última segunda-feira (31), tornando Reis réu pelos crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso.

      Uma farsa que atravessou décadas

      Os registros apontam que Reis criou a identidade de "Wickfield" em 1980, ao obter um RG falso no qual se declarava filho de Richard Lancelot Canterbury Caterham Wickfield e Anna Marie Dubois Vincent Wickfield. A denúncia não esclarece se essas pessoas realmente existiram. A fraude foi possível, segundo a Promotoria, porque os documentos apresentados na época eram facilmente falsificáveis.

      Com a identidade falsa, Reis ingressou na Faculdade de Direito da USP e se formou em 1992. Três anos depois, foi aprovado no concurso para juiz e designado para a comarca de Limeira, no interior paulista. Em 1995, uma reportagem da "Folha de S.Paulo" mencionava "Wickfield" como descendente de nobres britânicos e neto de um magistrado inglês. À época, ele teria afirmado ao jornal que "morou até os 25 anos na Inglaterra" e garantiu que sua origem aristocrática não influenciou na aprovação no concurso.

      Durante a carreira, o juiz atuou em diversas varas cíveis e chegou a ser coordenador do Núcleo Regional da Escola Paulista da Magistratura em Serra Negra (SP). Todas as sentenças assinadas traziam o nome falso.

      Descoberta e ação judicial

      A farsa foi descoberta graças à tecnologia de análise de digitais. Ao longo dos anos, Reis emitiu documentos falsos pelo menos três vezes: em 2020, no Registro Nacional de Veículos Automotores; em 2021, em um documento do Detran; e em 2024, ao tentar renovar sua identidade.

      A Promotoria pede o cancelamento de todos os documentos emitidos com a identidade falsa, incluindo o CPF. Também foram solicitadas medidas cautelares, como a entrega do passaporte do acusado e a proibição de que ele deixe a cidade onde reside.

      O g1 tentou contato com José Eduardo Franco dos Reis, mas não obteve resposta até a última atualização da reportagem. O processo corre em segredo de Justiça.

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