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    José Dirceu: "não se pode falar em indústria e desenvolvimento do Brasil sem o Estado"

    Ex-ministro classifica como "triste ver hoje se repetir o debate de que o Brasil não tem condições de ser um país industrial com desenvolvimento tecnológico de ponta"

    José Dirceu (Foto: Lula Marques)

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    247 - Resgatando a memória de Roberto Simonsen, que "conseguiu derrotar o complexo de inferioridade e a baixa auto-estima de nossas elites agrárias, que insistiam em que o Brasil jamais seria capaz de ter uma indústria", o ex-ministro José Dirceu publicou artigo nesta quinta-feira (21) na CartaCapital em que faz uma defesa da política industrial do governo Lula (PT) e critica o "descrédito frente à capacidade de o país dar um salto e investir em tecnologias de fronteira, mesmo após o Brasil já ter provado sua competência em vários segmentos industriais".

    Ele cita a Petrobras, a Embraer e a Embrapa, além de institutos de pesquisa, universidades, entre outros, como exemplos da capacidade do Brasil no desenvolvimento de ciência e tecnologia. "Temos um patrimônio que, se acionado, pode superar a letargia em que nossa indústria foi mergulhada por falta de políticas adequadas e fazê-la retomar – e ampliar – o peso que já teve no PIB. É hora de revisitar os ensinamentos de Roberto Simonsen".

    "Com muito empenho e argumentos poderosos, Simonsen conseguiu derrotar o complexo de inferioridade e a baixa auto-estima de nossas elites agrárias, que insistiam em que o Brasil jamais seria capaz de ter uma indústria. A tese envolvia também uma forte dose de racismo: por não sermos uma nação branca e europeia, jamais poderíamos desenvolver uma indústria e tecnologia. Líder e político, ele estudou e entendeu os interesses das classes agrárias e das potências mundiais, e apontou um caminho para a indústria paulista e brasileira como motor do desenvolvimento econômico e cultural do país", explica Dirceu.

    O ex-ministro ressalta que "não se pode falar em indústria e desenvolvimento do Brasil sem o Estado. Da mesma forma não se pode falar em agricultura, seja no passado seja hoje, sem o Banco do Brasil e a Embrapa". Ele também diz ser "triste ver hoje se repetir o debate centenário de que o Brasil não tem condições de ser um país industrial com desenvolvimento tecnológico de ponta. O preconceito não tem limites contra a atuação do Estado e contra as empresas estatais, embora tenham sido empresas como a Petrobras e a Eletrobras as responsáveis pelo desenvolvimento da indústria nacional fornecedora de seus insumos e derivados".

    "O momento geopolítico que vivemos exige a participação do Estado no desenvolvimento nacional e uma política industrial para enfrentar a conjuntura de crise, guerra, ruptura das cadeias produtivas e da logística internacional, agravada com a crise climática e energética mundial. Esse é o caminho que todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento voltaram a percorrer e que o cenário internacional nos impõe. Estados Unidos, Europa e Japão adotaram políticas para induzir a reindustrialização e avanço tecnológico, a segurança alimentar e ambiental. Estamos falando de US$ 6,4 trilhões", exemplifica.

    José Dirceu ainda diz que o Brasil não pode depender da indústria exterior para atender suas demandas sociais. "Uma janela de oportunidades está aberta ao Brasil à qual se somam sua riqueza natural, biodiversidade, energia limpa e potencial de crescimento nos setores agrícola e exportador de serviços (que precisa ser retomado), sua indústria de base e agropecuária. Esse cenário nos indica que temos a obrigação de projetar um projeto de desenvolvimento nacional, soberano e justo, que cubra um horizonte mínimo de dez anos. Este é o projeto imaginado por várias gerações que criaram as bases culturais e materiais que vão nos permitir transformar o sonho em realidade".

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