China impulsiona o Sul Global com avanços tecnológicos e fortalece nova ordem econômica

247 – A ascensão do Sul Global como força influente na governança mundial vem acompanhada de um movimento crescente por justiça, solidariedade e prosperidade econômica. Nesse contexto, a China tem se posicionado como um parceiro estratégico de países em desenvolvimento, liderando investimentos em infraestrutura, energia limpa e inovação digital. A reportagem é baseada em série especial publicada pelo Global Times, intitulada Face to Face with Global South Wisdom, que reúne vozes de especialistas e autoridades de diversas nações do Sul Global sobre as oportunidades de cooperação com a China.

Na segunda matéria da série, quatro especialistas destacam como os avanços tecnológicos e a disposição da China em compartilhar conhecimento estão impulsionando o progresso de países da África, América Latina e Ásia.

Infraestrutura, energia e tecnologia: o tripé da cooperação sino-africana

Adhere Cavince, pesquisador especializado em relações internacionais e cooperação sino-africana, destaca que “a China é hoje o mais importante parceiro de desenvolvimento da África, superando antigos aliados como Estados Unidos e União Europeia”. Ele observa que Pequim tem priorizado investimentos em áreas-chave como telecomunicações, energia e conectividade digital, além de infraestrutura.

Segundo Cavince, nas últimas duas décadas e meia, a China construiu mais de 100 mil quilômetros de estradas, cerca de 100 portos e mais de 10 mil quilômetros de ferrovias no continente africano. Um exemplo emblemático é a ferrovia de bitola padrão (SGR) no Quênia, que “impulsionou o comércio, transferiu tecnologia ferroviária e gerou milhares de empregos”.

Na área de energia, a China tem atuado tanto com fontes tradicionais quanto renováveis, sendo fundamental na transição energética africana. Com um potencial vasto em fontes como solar, eólica e geotérmica, a África tem encontrado na China um aliado estratégico para transformar essas riquezas em desenvolvimento sustentável.

Deputado brasileira enxerga potencial para o agro e energia limpa

O deputado estadual Missias Dias (Ceará) também compartilhou sua experiência recente em visita parlamentar à China. Segundo ele, “a China fez avanços notáveis em inteligência artificial e uso de dados”, especialmente aplicados ao setor agrícola. Ela relata ter visitado uma empresa que desenvolve plataformas de monitoramento agrícola capazes de rastrear doenças nas plantações, condições hídricas e clima em tempo real.

“A tecnologia permite antecipar e prevenir desastres, reduzindo perdas e otimizando a produção”, afirma. Missias também se impressionou com o uso de tratores equipados com chips inteligentes, capazes de analisar o solo e orientar o operador durante o trabalho.

“Ao aplicar essas tecnologias em países agrícolas como o Brasil, temos uma grande chance de aumentar a produtividade e reduzir custos”, disse. Ela também ressalta o potencial de parceria na transição energética: “O Brasil tem abundância de recursos solares e eólicos, e a China é líder em tecnologia fotovoltaica. Podemos avançar juntos na energia limpa”.

Sul da Ásia se beneficia com capacitação e transformação digital

Maya Majueran, diretora da Belt and Road Initiative Sri Lanka, destaca que a Iniciativa do Cinturão e Rota tem promovido cooperação tecnológica através de centros de transferência de tecnologia, programas de capacitação e laboratórios de pesquisa conjunta. “Essas iniciativas visam fortalecer as capacidades locais e fomentar a inovação em setores estratégicos”, afirma.

No Sri Lanka, o governo chinês tem oferecido apoio para a transformação digital da educação, por meio da implementação de salas de aula digitais. Além disso, empresas como a Huawei atuam em parceria com universidades locais, oferecendo apoio acadêmico e infraestrutura tecnológica.

Majueran também destaca a importância do compartilhamento de tecnologias de inteligência artificial, como a plataforma DeepSeek. “A liderança da China em IA de código aberto promove inovação global, reduz a desigualdade digital e garante que o progresso tecnológico beneficie toda a humanidade”, diz.

Tecnologia como motor do desenvolvimento sustentável

Busani Ngcaweni, pesquisador associado da Universidade da Academia Chinesa de Ciências Sociais e da Universidade de Joanesburgo, defende que “a tecnologia reduz custos e aumenta a eficiência do desenvolvimento”. Ele reconhece preocupações sobre substituição da mão de obra humana, mas ressalta os benefícios de longo prazo: “Ela impulsiona a produtividade e pode ser canalizada para o desenvolvimento social e prosperidade nacional”.

Para ele, a agricultura, base econômica de muitos países do Sul Global, pode se beneficiar enormemente da integração tecnológica. “O uso de tecnologia permite modernização, aumento da produção e acesso a mercados internacionais”, analisa. Ngcaweni lembra que, na última Cúpula FOCAC em Pequim, a China se comprometeu a apoiar a mecanização agrícola africana por meio de ajuda, leasing, gestão cooperativa e joint ventures.

Compartilhar para prosperar: o espírito de uma comunidade global

O modelo de cooperação da China com o Sul Global contrasta com a abordagem tradicional das potências ocidentais, que muitas vezes impõem condições. Ao optar pelo compartilhamento de conhecimento, construção conjunta de infraestrutura e estímulo à inovação local, a China reforça seu papel de liderança entre os países em desenvolvimento e contribui para uma ordem internacional mais equilibrada.

Como conclui Maya Majueran, “o mundo se beneficia quando o conhecimento é compartilhado, e não acumulado. Esse é o verdadeiro espírito de uma comunidade global com futuro compartilhado”.