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      Há 15 anos o Brasil sediava pela primeira vez uma Cúpula do BRICS

      Evento de 2010 consolidou agenda do Sul Global e marcou nascimento de pilares estratégicos do bloco

      Dmitry Medvedev, Lula, Hu Jintao e Manmohan Singh (Foto: Divulgação/Gabinete do Primeiro-Ministro da Índia)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - Há exatos 15 anos, no dia 15 de abril de 2010, o Brasil sediava, pela primeira vez, uma Cúpula do então BRIC — hoje BRICS, após a entrada da África do Sul. A reunião de cúpula foi um marco histórico para o grupo e consolidou o país como um dos protagonistas da articulação entre potências emergentes. Em reportagem publicada pelo BRICS Brasil, são relembrados os bastidores do evento, os avanços promovidos a partir daquele encontro e o papel central do Brasil na estruturação do fórum.

      A II Cúpula de Líderes do BRIC, realizada em Brasília, foi precedida por um seminário em parceria com o Fórum IBAS — iniciativa de cooperação entre Índia, Brasil e África do Sul idealizada por Celso Amorim, então chanceler do governo Lula. Em entrevista ao BRICS Brasil, o embaixador Roberto Jaguaribe, que atuou como sherpa do Brasil na cúpula de 2010, recorda que a realização do evento foi resultado direto do desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): “transmitimos a seguinte ideia: olha, o presidente Lula vai deixar de governar o Brasil a partir do final de 2010, é o último ano do governo dele, e ele gostaria muito de ser anfitrião de uma segunda Reunião de Líderes do BRIC, esperamos que os senhores não se oponham a isso. E ninguém se opôs”.

      O nascimento de uma agenda consistente - A partir daquele momento, o BRICS passou a contar com encontros anuais e ganhou impulso com a institucionalização de reuniões setoriais. Na presidência brasileira de 2010, foram realizadas as primeiras reuniões de ministros da Agricultura, dirigentes de instituições estatísticas, cooperativas e bancos de desenvolvimento — encontros que, quatro anos depois, resultariam na criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), com capital autorizado de US$ 100 bilhões.

      Jaguaribe também rememora que a II Cúpula teve que ser antecipada por conta de um terremoto na província de Chingai, na China, o que desorganizou o cronograma original. “Para mim, aquilo foi um ato contínuo de 48 horas sem dormir praticamente, em função das demandas que foram se dando”, relembra, destacando que, apesar das adversidades, a Declaração Final foi entregue com coesão e clareza.

      Na ocasião, Lula declarou à imprensa: “demos um passo fundamental para consolidar uma parceria iniciada em Ecaterimburgo, no ano passado. Decidimos aprofundar a cooperação no âmbito do BRIC e estamos confiantes de que a convergência aqui alcançada contribuirá para a constituição de um espaço de diálogo e de concertação”.

      A inclusão da África do Sul e o legado do IBAS - Ainda que a África do Sul tenha sido oficialmente integrada ao grupo apenas no ano seguinte, sob a presidência chinesa, a relação do país africano com o Brasil e a Índia já era bem estabelecida no âmbito do IBAS. A iniciativa trilateral havia sido lançada em 2003 como uma das primeiras ações de política externa do primeiro governo Lula. Jaguaribe relata que a ideia surgiu do próprio Celso Amorim, ao perceber, na cerimônia de posse do presidente, os representantes dos três países sentados juntos no Itamaraty.

      Em 14 de abril de 2010, um dia antes da cúpula do BRIC, foi realizado no Rio de Janeiro o seminário IBAS-BRIC, que aprofundou os laços da África do Sul com o grupo. No dia seguinte, em Brasília, ocorria simultaneamente a II Cúpula do BRIC e a IV Cúpula do IBAS. “Esta é uma semana especial para o Brasil. Organizamos dois encontros de Cúpula com alguns dos países mais importantes para a nova governança global”, afirmou Lula.

      Compromissos mantidos e novos desafios - O documento final da II Cúpula já delineava com clareza preocupações que seguem atuais: fortalecimento do multilateralismo, inclusão social, combate à pobreza, cooperação monetária com uso de moedas locais e reforma de instituições como o FMI e o Banco Mundial. “Compartilhamos a percepção de que o mundo está passando por mudanças grandes e rápidas que destacam a necessidade de transformações correspondentes na governança global”, afirma a declaração, em trecho que ainda ressoa nos debates atuais do BRICS.

      Apesar das mudanças no cenário internacional e do crescimento da composição do bloco, as prioridades continuam as mesmas. O aumento no número de países-membros e parceiros foi de 300% desde a formação original. Para os embaixadores Jaguaribe e Amorim, esse crescimento reforça a importância do grupo como voz coletiva do Sul Global.

      “O mundo não é bem como a narrativa prevalente dá conta de ser. Não tenho dúvidas que a criação deste agrupamento deu vazão a conceitos e percepções que de outra forma não teriam tido essa visibilidade”, afirma Jaguaribe. Amorim, em entrevista exclusiva ao BRICS Brasil, complementa: “a ideia de cooperação do BRICS é muito importante porque mostrou para os grandes países ocidentais capitalistas que eles não podem ditar as regras, podem até ter iniciativas, mas vão ter que discutir conosco”.

      A Cúpula de 2025 no Brasil - Quinze anos depois da primeira experiência como anfitrião, o Brasil voltará a sediar o encontro de líderes do BRICS nos dias 6 e 7 de julho de 2025, pela primeira vez no Rio de Janeiro. A cidade receberá as autoridades dos 11 países membros e de seus parceiros, reforçando o papel central do Brasil na formulação de uma nova governança global. A expectativa é de que a nova cúpula reafirme os compromissos históricos do grupo, mas também avance em pautas como regulação da inteligência artificial, saúde global e transição energética.

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