Ocidente resiste, mas terá de ceder espaço ao Sul Global, dizem especialistas
Analistas veem esgotamento da ordem internacional vigente e apontam o BRICS como vetor de um novo equilíbrio de poder no mundo
247 - O equilíbrio geopolítico do século XXI caminha para um cenário multipolar, no qual o eixo Ocidental — historicamente dominante — precisará aprender a compartilhar o poder com o Sul Global. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, no episódio exibido na quinta-feira (20), com apresentação dos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.
A discussão se concentrou na proposta de reforma das instituições de governança internacional, bandeira central do BRICS. Para Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), há um claro processo de desgaste nas principais organizações multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e seu Conselho de Segurança (CSNU). Segundo ela, esse desgaste é impulsionado pela incapacidade de adaptação dessas estruturas às novas dinâmicas do poder global. "As organizações internacionais não existem por si só, elas são reflexos das vontades dos Estados que estão lá nos seus assentos e dos governos que vão decidir quais serão os rumos", observou.
O professor Charles Pennaforte, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA), reforçou que a origem do atual impasse remonta ao fim da Guerra Fria. “Os Estados Unidos não possuem mais a mesma força que tinham anteriormente”, analisou Pennaforte, ao destacar que, embora tenham emergido como superpotência hegemônica no pós-Guerra Fria, não conseguiram conter o avanço da China e o retorno da Rússia como atores estratégicos. Segundo ele, a tentativa de manter a velha ordem com base em sanções e coerções econômicas revela um esforço fadado ao fracasso: "É uma tentativa de você manter uma estrutura baseada em alicerces antigos".
Holzhacker destaca que o processo de redistribuição de poder é gradual, mas irreversível. O Sul Global, formado por países da América Latina, África e Ásia, já percebe a mudança. A transferência da centralidade econômica para a Ásia, com a China despontando como a “grande potência”, tem impulsionado esse realinhamento. Segundo ela, além de capital político, é preciso consolidar capacidades econômicas para que os países possam se impor no novo jogo global.
Pennaforte complementa que essa transformação não ocorrerá por meio de uma ruptura violenta, mas sim de forma progressiva, conforme os países encontrarem alternativas mais vantajosas fora do sistema tradicional, dominado por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. “Com o tempo as pessoas vão ver que existem outras saídas (...) e aí vão se deslocar naturalmente por um processo (...) de convivência.”
A mensagem central do debate é clara: por mais que o Ocidente tente preservar seu domínio geopolítico com base em estruturas do século passado, o surgimento de um novo centro de poder é “inevitável”. Como conclui Pennaforte, “eles terão, no mínimo, que dividir o poder com outros países”.
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