Capitalismo em chamas: protecionismo provoca deflação na China e hiperinflação nos EUA
"O capitalismo entraria em chamas com essas duas possibilidades incompatíveis entre si que levariam a economia a uma era de bancarrota geral", diz César Fonseca
Ninguém ganha com protecionismo nacionalista predatório trumpista, diz o líder da China, Xi Jinping
As duas economias mais fortes, China e Estados Unidos, têm encontro marcado com perigo de debacle se a guerra tarifária continua.
De um lado, a China, que trabalha com moeda desvalorizada para dominar mercado mundial, fica sem onde desovar suas mercadorias baratas, diante da taria americana de 125%.
Vai sobrar produto chinês na praça.
O resultado é queda dos preços dos produtos industrializados da China.
Os estoques já se acumulam no Porto de Xangai e as empresas, desesperadas, com o excesso de oferta planejam redução da produção e anunciam desemprego.
Deflação é o nome desse fenômeno de oferta superior à demanda.
Para fugir da deflação e da queda da taxa de lucro que o processo deflacionário provoca, o jeito é reduzir nível de atividades.
Torna-se necessário produzir a escassez da oferta em relação à demanda para que os preços aumentem e recuperem taxa de lucro cadente.
Como diz Stuart Mill, o capitalismo é a economia da escassez para elevar preços e lucros.
Se isso não ocorre, os empresários reduzem a produção e demitem trabalhadores.
A saída do governo chinês é fortalecer o mercado interno com valorização relativa do poder de compra para consumir a produção excedente.
Para alcançar esse objetivo, a China elevaria a oferta monetária que, aumentando produção e consumo, provoca, simultaneamente, quatro consequências:
1 – aumenta relativamente os preços;
2 - reduz relativamente os salários;
3 - diminui as taxas de juros e;
4 - perdoa dívidas dos empresários contraídas a prazo.
Aí haveria o aumento da eficiência marginal do capital(lucro) que elevaria a propensão empresarial aos investimentos.
Eis o clássico modelo keynesiano, que considera tal movimento possível a partir da única variável verdadeiramente independente no capitalismo que é o aumento da quantidade da oferta de moeda na circulação capitalista pelo poder estatal.
É o que Xi Jinping já vem fazendo no comando político do Estado, dos bancos públicos e do partido comunista, que toca economia com organização e planejamento, denominada economia do projetamento.
A guerra alfandegária desencadeada por Donald Trump bloqueará ou não o projeto de Xi Jinping de fazer a China crescer 5% em 2025?
NOVA TEORIA MONETÁRIA
A economia do projetamento coloca em marcha a moderna teoria monetária, acionada pelo novo modelo de pagamento em tecnologia blockchain, para que a China contorne os meios de pagamento pelo sistema SWIFT, diminuindo em mais de 90% o custo de transações internacionais, segundo o Le Monde.
Enquanto o SWIFT líquida pagamentos pelo prazo de 3 a 5 dias, nas transações econômicas e financeiras internacionais entre empresas e fornecedores, o modelo chinês reduz o tempo para 9 segundos.
Trata-se da moderna teoria monetária que considera infinita a capacidade de emissão de moeda nacional – o Renminbi Digital – pelo Estado sem provocar inflação ao lado da taxa de juro zero ou negativa que tal estratégia proporciona, favorecendo investimentos e competição produtiva.
DESVANTAGEM AMERICANA
De outro lado, a economia americana não tem bancos públicos que podem emprestar a juro zero a moeda emitida pelo Estado, no cenário da economia do projetamento em que as regras essenciais são planejamento e organização, sob comando do partido comunista.
Nos Estados Unidos, o privilégio de emitir é do Banco Central, controlado pela banca privada.
Não interessa aos bancos privados o juro zero ou abaixo de zero, para financiar a dívida pública, atualmente, de 37 trilhões de dólares.
Juro negativo para inflação americana anual variável de 3% a 6%, nos últimos três anos, é, do ponto de vista do mercado financeiro, no processo de financeirização da economia capitalista ocidental, caixão e vela preta para os investidores.
No cenário de crise aguda como a desencadeada pelo presidente Donald Trump com sua proposta protecionista inflacionária, a propensão pela liquidez vira atrativo irresistível.
Isso provoca corrida contra os títulos da dívida pública, produzindo perigo de hiperinflação.
A valorização das ações entra em colapso ao mesmo tempo que ocorre fuga da moeda americana.
DESDOLARIZAÇÃO SE ACELERA
Ganha força a desdolarização, maior receio de Trump e da elite financeira americana.
A hegemonia monetária dos Estados Unidos iria para o brejo.
Abriria espaço para novo sistema monetário com valorização do yuan e de outras moedas, viabilizando relações de trocas entre moedas nacionais mediante novo modelo de pagamento, alternativo ao SWIFT controlado pelos Estados Unidos.
Entra em cena o RENMIMBI DIGITAL DE LIQUIDAÇÃO INSTANTÂNEA, já colocado em prática em mais de 30 países na Ásia e 15 no Oriente Médio.
O mundo entraria em novo sistema internacional no qual vigorariam outras moedas fortes ancoradas em riquezas reais e não em riquezas fictícias.
Desmoronaria, consequentemente, a financeirização especulativa bancada pelo dólar carente de lastro real.
As incertezas entrariam em cena com a convivência eventualmente explosiva de deflação chinês, de um lado, e hiperinflação americana, de outro.
O capitalismo entraria em chamas com essas duas possibilidades incompatíveis entre si que levariam a economia a uma era de bancarrota geral.
O sistema pode ou não entrar em colapso, abrindo espaço ao debate ideológico quanto a um novo modo de produção alternativo ao capitalista?
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