TV 247 logo
      César Fonseca avatar

      César Fonseca

      Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

      786 artigos

      HOME > blog

      Capitalismo em chamas: protecionismo provoca deflação na China e hiperinflação nos EUA

      "O capitalismo entraria em chamas com essas duas possibilidades incompatíveis entre si que levariam a economia a uma era de bancarrota geral", diz César Fonseca

      Presidente dos EUA, Donald Trump, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington D.C. - 07/04/2025 (Foto: REUTERS/Kevin Mohatt)

      Ninguém ganha com protecionismo nacionalista predatório trumpista, diz o líder da China, Xi Jinping

      As duas economias mais fortes, China e Estados Unidos, têm encontro marcado com perigo de debacle se a guerra tarifária continua.

      De um lado, a China, que trabalha com moeda desvalorizada para dominar mercado mundial, fica sem onde desovar suas mercadorias baratas, diante da taria americana de 125%.

      Vai sobrar produto chinês na praça.

      O resultado é queda dos preços dos produtos industrializados da China.

      Os estoques já se acumulam no Porto de Xangai e as empresas, desesperadas, com o excesso de oferta planejam redução da produção e anunciam desemprego.

      Deflação é o nome desse fenômeno de oferta superior à demanda.

      Para fugir da deflação e da queda da taxa de lucro que o processo deflacionário provoca, o jeito é reduzir nível de atividades.

      Torna-se necessário produzir a escassez da oferta em relação à demanda para que os preços aumentem e recuperem taxa de lucro cadente.

      Como diz Stuart Mill, o capitalismo é a economia da escassez para elevar preços e lucros.

      Se isso não ocorre, os empresários reduzem a produção e demitem trabalhadores.

      A saída do governo chinês é fortalecer o mercado interno com valorização relativa do poder de compra para consumir a produção excedente.

      Para alcançar esse objetivo, a China elevaria a oferta monetária que, aumentando produção e consumo, provoca, simultaneamente, quatro consequências:

      1 – aumenta relativamente os preços;

      2 - reduz relativamente os salários;

      3 - diminui as taxas de juros e;

      4 - perdoa dívidas dos empresários contraídas a prazo.

      Aí haveria o aumento da eficiência marginal do capital(lucro) que elevaria a propensão empresarial aos investimentos.

      Eis o clássico modelo keynesiano, que considera tal movimento possível a partir da única variável verdadeiramente independente no capitalismo que é o aumento da quantidade da oferta de moeda na circulação capitalista pelo poder estatal.

      É o que Xi Jinping já vem fazendo no comando político do Estado, dos bancos públicos e do partido comunista, que toca economia com organização e planejamento, denominada economia do projetamento.

      A guerra alfandegária desencadeada por Donald Trump bloqueará ou não o projeto de Xi Jinping de fazer a China crescer 5% em 2025?

      NOVA TEORIA MONETÁRIA

      A economia do projetamento coloca em marcha a moderna teoria monetária, acionada pelo novo modelo de pagamento em tecnologia blockchain, para que a China contorne os meios de pagamento pelo sistema SWIFT, diminuindo em mais de 90% o custo de transações internacionais, segundo o Le Monde.

      Enquanto o SWIFT líquida pagamentos pelo prazo de 3 a 5 dias, nas transações econômicas e financeiras internacionais entre empresas e fornecedores, o modelo chinês reduz o tempo para 9 segundos.

      Trata-se da moderna teoria monetária que considera infinita a capacidade de emissão de moeda nacional – o Renminbi Digital – pelo Estado sem provocar inflação ao lado da taxa de juro zero ou negativa que tal estratégia proporciona, favorecendo investimentos e competição produtiva.

      DESVANTAGEM AMERICANA

      De outro lado, a economia americana não tem bancos públicos que podem emprestar a juro zero a moeda emitida pelo Estado, no cenário da economia do projetamento em que as regras essenciais são planejamento e organização, sob comando do partido comunista.

      Nos Estados Unidos, o privilégio de emitir é do Banco Central, controlado pela banca privada.

      Não interessa aos bancos privados o juro zero ou abaixo de zero, para financiar a dívida pública, atualmente, de 37 trilhões de dólares.

      Juro negativo para inflação americana anual variável de 3% a 6%, nos últimos três anos, é, do ponto de vista do mercado financeiro, no processo de financeirização da economia capitalista ocidental, caixão e vela preta para os investidores.

      No cenário de crise aguda como a desencadeada pelo presidente Donald Trump com sua proposta protecionista inflacionária, a propensão pela liquidez vira atrativo irresistível.

      Isso provoca corrida contra os títulos da dívida pública, produzindo perigo de hiperinflação.

      A valorização das ações entra em colapso ao mesmo tempo que ocorre fuga da moeda americana.

      DESDOLARIZAÇÃO SE ACELERA

      Ganha força a desdolarização, maior receio de Trump e da elite financeira americana.

      A hegemonia monetária dos Estados Unidos iria para o brejo.

      Abriria espaço para novo sistema monetário com valorização do yuan e de outras moedas, viabilizando relações de trocas entre moedas nacionais mediante novo modelo de pagamento, alternativo ao SWIFT controlado pelos Estados Unidos.

      Entra em cena o RENMIMBI DIGITAL DE LIQUIDAÇÃO INSTANTÂNEA, já colocado em prática em mais de 30 países na Ásia e 15 no Oriente Médio.

      O mundo entraria em novo sistema internacional no qual vigorariam outras moedas fortes ancoradas em riquezas reais e não em riquezas fictícias.

      Desmoronaria, consequentemente, a financeirização especulativa bancada pelo dólar carente de lastro real.

      As incertezas entrariam em cena com a convivência eventualmente explosiva de deflação chinês, de um lado, e hiperinflação americana, de outro.

      O capitalismo entraria em chamas com essas duas possibilidades incompatíveis entre si que levariam a economia a uma era de bancarrota geral.

      O sistema pode ou não entrar em colapso, abrindo espaço ao debate ideológico quanto a um novo modo de produção alternativo ao capitalista?

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Relacionados