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      Jorge Folena

      Advogado, jurista e doutor em ciência política.

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      Lições da China para o capitalismo

      "Por isso, entendo que as pretensões de Donald Trump são impossíveis de serem efetivadas, uma vez que se contrapõem ao período histórico", afirma Jorge Folena

      Lições dos anos de dominação na China

      A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América do Norte estabelece a marca da decadência do liberalismo capitalista no Ocidente. Desde seu governo anterior (2017-2020), o atual mandatário estadunidense deixa clara sua truculência e desrespeito às minorias e aos diferentes. Atualmente, visa transmitir a ideia de que o grande inimigo do seu país são os chineses,e não a sua classe dominante rentista e belicista, que, por décadas, optou por destruir os valores do American way oflife, que propiciou a formação de uma classe média que dispunha do poder de compra de bens de consumo, cuja representação de vida feliz e confortável foi propagada pelas telas do cinema e da televisão como um ideal a ser alcançado por todos.

      Com a crise do capitalismo financeiro de 2008 (decorrente da bolha imobiliária especulativa, que se espalhou pelo Ocidente) o padrão de vida da classe média norte-americana caiu acentuadamente, num processo ainda mais agravado pela política de desindustrialização neoliberal,que transferiu diversas plantas industriais dos EUA para países periféricos, em busca de mão de obra barata e próxima das fontes de matérias-primas.

      Assim, ruiu para a classe média o sonho de um modelo de vida apresentado como próspero e abriu-se o espaço para reforçar ações de ódio contra os negros, imigrantes e pobres em geral naquele país. A ascensão do fascismo, de viés nacionalista e moralista, defendido por Donald Trump, representa, ao meu sentir, “a fissura capitalista americana” e põe em cheque “as ilusões de poder dos EUA”.

      No atual momento, restou aos norte-americanos colocar àfrente do país um mentiroso, bravateiro e odioso, que, por não ter as respostas para a crise enfrentada, declarou uma “guerra tarifária” ao mundo, que ele não tem qualquer condição de levar adiante, pois seu país não dispõe de condições objetivas para se (re)industrializar nem atender às expectativas de recuperar seu passado de “glória”.

      Em razão do seu despreparo e da adoção de medidas truculentas, Trump expôs ainda mais a economia do país e agravou a crise no seio da classe dominante, que passa a observar o risco a que se lançou ao iniciar uma guerratarifária explícita contra a China.

      O governo chinês, que dispõe de uma economia planificada e conta com a experiência de uma civilização milenar, está respondendo à altura a essas provocações. Recentemente, ao apresentarem suas projeções do PIB para 2025, no início de março deste ano, os chineses mostraram seus estudos para alcançar o resultado de 5% ao ano e estabeleceram como objetivo central o consumo interno. A China, que conta com 1.4 bilhão de habitantes,eliminou a pobreza extrema em 2021. Ou seja, os chineses se prepararam para uma eventual guerra tarifária e, visando alcançar o seu PIB anual, estabeleceram comofoco o seu gigantesco mercado interno.

      Ademais, a China tem intensificado suas relações de cooperação estratégica com grandes mercados do Sul Global, como registrado no Global Times de 11/04/2025, que anunciou que o presidente “Xi fará visitas de Estado ao Vietnã, Malásia e Camboja de 14 a 18 de abril”.

      Enquanto o fascista americano ameaça agredir a soberania dos demais países, o “presidente Xi Jinping propõe construir uma comunidade com futuro compartilhado com os países vizinhos, destacando a amizade, segurança, prosperidade e cooperação regional como pilares da nova diplomacia de vizinhança da China”, segundo mensagem divulgada pela Embaixada da China no Brasil, em 10/04/2025, na sua conta no X.

      Em resposta às provocações da administração Donald Trump, o governo esclarece que “a China é uma civilização antiga e uma terra de prosperidade e justiça. O povo chinês valoriza a sinceridade e a boa-fé. Não provocamos problemas, nem somos intimidados por isso. Pressionar e ameaçar não são a maneira certa de lidar com a China.” (Global Times, de 11/04/2025).

      Além disso, o governo chinês tem afirmado, com sabedoria e pragmatismo, que: “Apesar das pressões externas, como os aumentos tarifários dos EUA, a porta da China se abrirá ainda mais” para os outros países.

      O Global Times de 10/04/2025 afirma que “A China promete abertura inabalável, apesar do bullying tarifário dos EUA”. Ou seja, em resposta ao governo norte-americano que fecha seu país mediante a imposição de barreiras tarifárias, os chineses abrem suas portas para os empresários que queiram comercializar na China.

      Enquanto o presidente estadunidense apresenta bravatasque agravam a crise em seu país (centro do capitalismo mundial), os chineses dão ao Ocidente a lição de como devem se comportar num mundo globalizado, isto é,abrindo as portas do seu país, onde o centro da economia é o povo, com um modelo de sociedade que apresenta um padrão de vida sem pobreza extrema e com elevado desenvolvimento humano, cultural e tecnológico, num padrão que os americanos, nem nos seus melhores momentos, chegaram a sonhar.

      Uma grande transformação está acontecendo diante de nossos olhos, mediante a materialização de uma luta de classes onde “tudo o que é sólido se desmancha no ar”, conduzida por um partido comprometido com a soberania e a classe trabalhadora, contra um país imperialista, cujaclasse empresarial está atônita e sem saber o que fazer.

      Por isso, entendo que as pretensões de Donald Trump são impossíveis de serem efetivadas, uma vez que se contrapõem ao período histórico, que só pode avançar para a frente, não sendo possível retroagir ao passado.

      A este propósito, cito Marx e Engels (Manifesto Comunista), que, um século e meio antes, anteciparam a globalização capitalista, característica do atual período histórico: “A burguesia, através de sua exploração do mercado mundial, deu um caráter cosmopolita para a produção e o consumo em todos os países. Para grande desgosto dos reacionários, rebaixou a base nacional da indústria até o rés do chão. As indústrias nacionais antigas foram destruídas ou seguem sendo destruídas dia após dia.”

      Por fim, encerro este ensaio com o editorial do Global Times de 11/04/2025, que afirma que “Essa onda de reação à globalização iniciada pelos EUA não pode mudar o curso firme do gigante navio da China, nem pode abalar a vontade unida e a força coletiva da sociedade chinesa, onde todos trabalham juntos nos bons e maus momentos”.

      Pois a China, sob a liderança do PCCh, revela sua compreensão do curso da história e trabalha para realizar seus objetivos como estado-nação, que busca a paz e a prosperidade para todos e entende que o caminho do desenvolvimento se dá pela cooperação com os demais povos do mundo.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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