ISSB: o Brasil está preparado para a nova era da transparência e sustentabilidade?
A falta de adequação e medições claras pode prejudicar a reputação do Ministério da Fazenda, da CVM e da B3, alerta a fundadora da Zaya.
247 - A partir de 2025, todas as empresas listadas na Bolsa de Valores brasileira (B3) enfrentarão um grande desafio: a adequação à Resolução 193/2023 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A regulamentação, que entrou em vigor em novembro de 2023 e se baseia nos padrões emitidos pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), exige que todas as empresas produzam relatórios de sustentabilidade, com divulgações obrigatórias começando em 2026, baseadas nos dados do ano anterior.
Apesar da pesquisa "Panorama atual da implementação do International Sustainability Standards Board (ISSB) no Brasil", da PwC, indicar que a maioria das empresas está revisando suas políticas, processos e sistemas para se adequar às novas normas, ainda há um longo caminho a ser percorrido. O estudo revela que apenas 45,9% delas pretendem publicar um relatório para atender aos requisitos do ISSB, acendendo um sinal amarelo.
Qual sua relevância para o mercado brasileiro? - Essa iniciativa incentiva o desenvolvimento sustentável das empresas, indo além do aspecto financeiro. A resolução busca promover transparência e responsabilidade ambiental e social, em conformidade com as melhores práticas internacionais. Essa abordagem fortalece a reputação e a competitividade das corporações no mercado global, além de proporcionar maior confiabilidade nas informações, garantindo mais segurança para os investidores
Qual é o desafio para as empresas? - A complexidade da implementação do ISSB reside na abrangência da mensuração de emissões de carbono. Além dos escopos 1 e 2 (emissões diretas e indiretas de energia), as empresas precisarão reportar sobre o escopo 3, que inclui emissões indiretas ao longo de sua cadeia de valor, como as geradas por fornecedores, transporte e uso dos produtos.
Este escopo 3 representa um desafio considerável, exigindo um profundo mapeamento da cadeia de suprimentos e o engajamento ativo dos fornecedores para a coleta de dados precisos e confiáveis. A falta de transparência e colaboração nesta etapa poderá comprometer a qualidade do relatório e a conformidade com as normas do ISSB. A capacidade de monitorar e gerenciar as emissões em toda a cadeia de valor se tornará crucial para a sustentabilidade e a competitividade das empresas.
Como impulsionar esse número e preparar as empresas brasileiras para a realidade da sustentabilidade nos negócios? - Isabela Basso, fundadora da Zaya, greentech especializada em simplificar o cálculo do impacto ambiental de empresas, destaca dois pontos importantes. Primeiro, a liderança do Brasil na oficialização dos padrões ISSB é fundamental para fortalecer a imagem do país no cenário internacional, principalmente diante da COP 30 a ser realizada em Belém em 2025. A falta de adequação, por outro lado, poderá impactar negativamente a reputação do Ministério da Fazenda, da CVM e da própria B3. Como pioneiro na adoção dessas normas, o Brasil assume um papel institucional crucial, influenciando a percepção global e servindo de referência para outros mercados.
O segundo ponto crucial, de acordo com a especialista, é que a inclusão destes dados nos demonstrativos financeiros exige precisão e confiabilidade. As informações devem ser baseadas em dados reais e auditáveis para evitar prejuízos nos relatórios e, principalmente, para embasar um plano de descarbonização efetivo. A gestão eficiente dos dados de emissão será tão importante quanto a gestão das informações financeiras, garantindo a entrega de relatórios dentro do prazo e com a qualidade esperada pelo mercado.
Esses dados não apenas complementam as demonstrações financeiras, mas também reforçam o posicionamento público das empresas. Para isso, é importante que elas comecem, desde já, a sistematizar e medir suas emissões de maneira abrangente, utilizando o próximo ano para ajustes e melhorias. Isso vai prepará-las para o desafio que em breve estará batendo à porta: desenvolver e implementar planos de descarbonização nas empresas.
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