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    Em 2017, Abin apontou Trump como líder mundial antivacina e avaliou movimento no Brasil como "restrito a poucos indivíduos"

    Relatório foi produzido antes da eleição de Bolsonaro e da pandemia, momento em que o brasileiro se tornou voz ativa do negacionismo

    Trump e Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)

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    247 - Em um relatório confidencial elaborado em agosto de 2017, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) destacou o papel do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como uma das principais figuras globais que reanimaram o movimento antivacina. O documento, obtido pela Folha de S. Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação, associou a crescente resistência à vacinação em diversos países à retórica adotada por Trump, enquanto minimizava a relevância do movimento antivacina no Brasil naquele período.

    No relatório, a Abin indicou que “tal crescimento pode estar associado ao recrudescimento internacional do movimento antivacinal”, mas ponderou que, no Brasil, o fenômeno ainda se limitava a “relativamente poucos indivíduos”, sem contar com “apoio ostensivo de organizações, políticos ou personalidades de destaque”. Esse panorama mudou drasticamente nos anos seguintes, especialmente após a eleição de Jair Bolsonaro (PL), que adotou uma postura negacionista em relação à vacinação e à ciência durante a pandemia de Covid-19.

    De acordo com a Abin, Trump já defendia teorias antivacina desde 2014, usando dados falsos para sugerir que a vacinação infantil poderia causar autismo. “O movimento antivacina mundial recrudesceu desde as eleições de Donald Trump, que defendeu publicamente a relação entre autismo e vacinação e é crítico da política vacinal dos EUA”, apontou o relatório. A agência também observou que outras personalidades políticas e artistas americanos reforçaram essas crenças, ampliando o alcance do movimento.

    Baixa organização no Brasil - A análise da Abin também focou no cenário brasileiro, dedicando pouco mais de uma página para explorar a organização dos grupos antivacina no país. Na época, esses grupos se reuniam principalmente em redes sociais como o Facebook, onde era possível encontrar fóruns com milhares de membros. “No grupo são publicadas dicas, por exemplo, de como burlar a exigência de apresentar a carteira de vacinação da criança nas escolas”, apontou o documento, referindo-se a estratégias compartilhadas por pais contrários à imunização.

    Ainda que a Abin tenha minimizado o impacto desses grupos no Brasil, o relatório alertou para o risco de que essa desinformação pudesse comprometer a erradicação de doenças, como o sarampo. Mesmo em um país com alta cobertura vacinal, como o Brasil, o movimento poderia causar sérias consequências, ameaçando décadas de avanços na saúde pública.

    Influência de Bolsonaro e a pandemia - O cenário descrito em 2017 pela Abin não previu o impacto que o governo Bolsonaro teria sobre o movimento antivacina no Brasil. Inspirado por Trump, Bolsonaro tornou-se um forte disseminador de desinformação sobre a Covid-19, promovendo o uso da hidroxicloroquina, um medicamento sem eficácia comprovada contra o vírus. O relatório da Abin, no entanto, já identificava o papel de Trump como catalisador dessas falsas narrativas, afirmando que ele se encontrou com Andrew Wakefield, o autor de um estudo fraudulento que associava a vacina tríplice viral ao autismo, antes de sua eleição.

    Mesmo minimizando o impacto do movimento antivacina no Brasil em 2017, a Abin sugeriu que medidas mais severas, como a obrigatoriedade da vacinação, seriam necessárias para conter sua expansão no país. O relatório foi enviado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e aos ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Social e da Educação, mas, nos anos seguintes, a desinformação ganhou força.

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