Ata reafirma coesão do Copom, diz Galípolo
Diretor de Política Monetária do BC também disse que o avanço recente do dólar ante o real gera um "incômodo"
247 - A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (25) é uma reafirmação da coesão de visões na diretoria do Banco Central, disse o diretor de Política Monetária da autarquia, Gabriel Galípolo.
O documento, referente ao encontro da semana passada, quando a Selic foi mantida de forma unânime em 10,50% ao ano, mostrou a instituição defendendo a atuação firme para reancoragem das expectativas de inflação e enxergando juros neutros mais altos. Na ata, o Copom apresentou um cenário mais desafiador para a política monetária ao estimar uma redução na ociosidade da economia e elevar a hipótese de taxa de juros real neutra, de 4,5% para 4,75%.
Em videoconferência promovida pela Warren, Galípolo afirmou que a comunicação do BC usou a palavra “interrupção” do ciclo de cortes de juros, mas que a diretoria não quer fazer qualquer sinalização ou indicação futura para sua atuação à frente, deixando em aberto para “ver como as coisas vão se desdobrar”.
Ele frisou, ainda, que a ata e o comunicado do Copom representam "plenamente" suas próprias avaliações.
O diretor de Política Monetária do BC também disse que o avanço recente do dólar ante o real gera um "incômodo", mas disse que não há um "gatilho" que determine a elevação dos juros, ressaltando que a instituição não tem uma meta de câmbio ou de diferencial de juros, mas sim uma meta de inflação.
"A gente tem um cenário que trouxe novas adversidades, um câmbio que andou bastante de um ciclo para outro, e que tem um incômodo relativo a esse câmbio que andou bastante", disse Galípolo, citando também piora nas expectativas de inflação.
Ele ponderou que o BC tem uma meta de inflação que "não se discute, se cumpre".
Do encontro de maio do Comitê de Política Monetária (Copom) para o de junho, a taxa de câmbio considerada pelo BC em seu cenário de referência saltou de 5,15 reais para 5,30 reais -- uma alta de 15 centavos. Tecnicamente, essa taxa é calculada com base na média das cotações dos dez dias úteis encerrados na sexta-feira anterior a cada Copom.
Em sessões mais recentes do mercado de câmbio, no entanto, o dólar à vista chegou a exibir valores ainda mais altos, atingindo a cotação de 5,46 reais no mercado à vista na quinta-feira passada -- maior valor em quase dois anos.
Na videoconferência, Galípolo ressaltou que o BC observa diversas variáveis em suas decisões de política monetária e que não há um "gatilho" que poderia levar a um aumento da Selic, hoje em 10,50% ao ano. A curva de juros brasileira precifica atualmente alta da Selic ainda em 2024.
"É óbvio que olhamos diversas variáveis. Neste momento, não gostaria de indicar um gatilho para mudança da política monetária", afirmou, acrescentando que não há uma relação mecânica entre o cenário externo e a decisão do BC sobre juros.
Por outro lado, ao ser questionado sobre a possibilidade de o Copom realizar mais cortes da Selic à frente, após a interrupção no último encontro, Galípolo defendeu que "é prematuro" falar "qualquer coisa diferente sobre o que colocamos na ata sobre o cenário prospectivo".
"Mesmo com a taxa de juros mais alta, com expectativas desancorando você tem que ser mais cauteloso", ponderou.
No relatório Focus mais recente, a projeção para o IPCA em 2025 acelerou de 3,80% para 3,85% -- acima do centro da meta de 3% perseguido pelo BC. Na ata divulgada na manhã desta terça-feira o Copom reforçou a intenção de buscar a reancoragem das expectativas.
"Importa menos para a gente apontar a causa da elevação dos juros futuros ou a desancoragem das expectativas", comentou Galípolo. "Nossa função é reagir."
QUESTÃO FISCAL - No evento da Warren, Galípolo afirmou ainda que o BC não vai utilizar a dificuldade do governo para atingir o equilíbrio fiscal como uma "muleta ou desculpa" para não perseguir a meta de inflação.
Ao mesmo tempo, reforçou que o BC vai reagir aos efeitos da questão fiscal sobre a inflação corrente e sobre as expectativas.
Galípolo voltou a desconversar sobre a possibilidade de ser nomeado para substituir Roberto Campos Neto na presidência do BC a partir de 2025. Segundo ele, este é um "não-tema" para os diretores da autarquia. (Com Reuters).
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