Brasil pode se beneficiar da guerra comercial promovida por Trump, diz Mercadante
Presidente do BNDES destaca vantagens estratégicas do país em exportações e biocombustíveis, mas alerta para necessidade de planejamento e continuidade
247 – A possível retomada da guerra comercial liderada por Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, pode abrir novas oportunidades para o Brasil em exportações, atração de investimentos e fortalecimento de setores estratégicos como o de biocombustíveis. Essa foi a avaliação feita por Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), durante o seminário Política Industrial para o Brasil.
"Não tenho nada contra que o Trump seja Estados Unidos first, mas nós temos que ser Brasil primeiro e vamos sentar à mesa para negociar nossos interesses com quem precisar", afirmou Mercadante, ao destacar as vantagens competitivas do Brasil em um cenário global marcado por tensões comerciais e reconfiguração de cadeias produtivas.
O presidente do BNDES apontou fatores econômicos e geopolíticos como diferenciais do Brasil, incluindo sua liderança na exportação de alimentos, a diversidade da matriz energética, a estabilidade democrática e a neutralidade em conflitos globais, como as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia.
Nova Indústria Brasil e desafios estruturais
O evento também abordou os desafios do plano Nova Indústria Brasil (NIB), lançado pelo governo Lula em janeiro deste ano. Com metas para 2026 e 2033, o NIB busca impulsionar setores como agroindústria, saúde, infraestrutura, transformação digital, transição ecológica e defesa. Durante o seminário, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também ocupa o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), destacou a criação da Aliança Global dos Biocombustíveis, com a participação de Brasil, Índia e Estados Unidos, além da simplificação burocrática para exportação e a implementação das Letras de Crédito de Desenvolvimento (LCDs).
"A política industrial que está sendo construída tem foco, segurança e clareza de quais cadeias produtivas o Brasil pode, diante da janela de oportunidades, desenvolver e adensar para tornar a estrutura produtiva brasileira resiliente, forte e com protagonismo na trajetória de crescimento econômico", declarou Uallace Moreira, secretário de desenvolvimento industrial do MDIC.
No entanto, especialistas como Armando Castelar, da FGV e UFRJ, apontaram lacunas no plano. "Senti falta de mais inserção das propostas no que está acontecendo no resto do mundo. É bastante Brasil, mas tem pouco de como nos inserimos nas cadeias globais de valor", observou. Castelar também questionou se lições de políticas anteriores estão sendo aplicadas para evitar falhas. "A produtividade da indústria cai sistematicamente desde 1980, apesar de termos inúmeras políticas industriais nesse meio-tempo. O que aprendemos e o que está sendo feito de diferente para não repetir os erros do passado?"
Cargas tributárias e continuidade como desafios centrais
Entre os principais entraves à reindustrialização do país, a carga fiscal foi apontada por Josué Gomes, presidente da Fiesp, como um dos maiores obstáculos. "A indústria de transformação, que representa 11% do PIB, recolhe 30% do total de impostos no Brasil. Se criamos condições que diminuem a capacidade de investimento, investe-se menos, e ao investir menos, perde-se produtividade em relação àqueles países que investem", afirmou.
Já Mercadante ressaltou a importância da continuidade e da transparência nas políticas industriais. "Muitos planos industriais no Brasil foram de governo, não de Estado. Não podemos cobrar resultado de uma política industrial que foi interrompida antes de atingir seu prazo de maturação", reforçou Moreira.
O seminário destacou a urgência de alinhar os esforços do NIB com as transformações globais e de corrigir gargalos históricos para que o Brasil aproveite de forma sustentável as oportunidades abertas pela nova configuração do comércio internacional.
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