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    Carrefour enfrenta crise política após decisão sobre carnes do Mercosul

    CEO Alexandre Bompard é criticado por priorizar interesses locais da França e ignorar impactos globais na rede varejista

    Carrefour (Foto: Paulo Whitaker / Reuters)

    247 – As declarações de Alexandre Bompard, CEO global do Carrefour, de que as lojas na França deixarão de comercializar carnes oriundas do Mercosul, abriram uma crise política e diplomática, além de questionamentos sobre a governança da empresa. A decisão, anunciada nas redes sociais em 20 de novembro, foi justificada como um ato de "solidariedade ao mundo agrícola francês". Segundo reportagem da Globo Rural, a medida foi vista como uma mistura de interesses políticos e privados, com possíveis prejuízos para o segundo maior mercado da rede: o Brasil.

    A filial brasileira do Carrefour é responsável por metade do lucro operacional global do grupo, destacando a relevância estratégica do país para a varejista. Apesar disso, a decisão de Bompard teria sido tomada sem consulta formal ao conselho de administração, formado por 15 membros, dos quais 13 são franceses. “Ele calculou mal a reação [do mercado] e o tom que adotou foi um erro”, afirmou uma fonte ligada à empresa.

    Decisão isolada e críticas internas

    Fontes do setor indicam que Bompard teria discutido a decisão apenas informalmente com pessoas de sua confiança, ignorando procedimentos de análise interna de riscos e impactos. Um ex-executivo do Carrefour criticou: “Bompard colocou seus interesses pessoais acima dos da organização. Decisões desse porte, com impacto estratégico e político relevante, deveriam ter sido debatidas com o conselho”.

    A insatisfação também ecoa entre os acionistas. A Península Participações, da família Diniz, segunda maior acionista do grupo, com 8,8% de participação, manifestou incômodo com a postura do CEO. Para executivos próximos à Península, se Abilio Diniz ainda estivesse vivo, o empresário teria articulado pessoalmente para amenizar os desdobramentos, recorrendo a interlocutores como o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

    Impacto e reação na França e no Brasil

    Embora Bompard tenha recebido apoio de parte do setor agrícola francês, que protesta contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, a medida gerou forte oposição no Brasil. O governo brasileiro exige um pedido público de desculpas, enquanto associações de produtores franceses esperam firmeza na decisão do CEO.

    Analistas avaliam que Bompard enfrenta agora um dilema: ceder à pressão brasileira pode desgastar sua relação com agricultores franceses, mas manter a postura pode aprofundar a crise política e comprometer a operação no Brasil.

    Estratégias futuras e posicionamento do Carrefour

    O Carrefour divulgou um comunicado esclarecendo que a medida se aplica exclusivamente às lojas francesas e que não se trata de questionar a qualidade da carne do Mercosul, mas de atender a uma demanda específica do setor agrícola francês. No entanto, a declaração não foi suficiente para conter a escalada da crise.

    A situação lança luz sobre a liderança de Bompard, que, apesar de avanços em digitalização e corte de custos desde que assumiu em 2017, enfrenta desafios para equilibrar interesses globais e locais. A rede varejista, que já passou por momentos difíceis na última década, vê sua ação na bolsa de Paris desvalorizar de 17 para menos de 15 euros durante sua gestão.

    O episódio revela não apenas as fragilidades de governança do Carrefour, mas também os riscos de misturar interesses políticos com decisões estratégicas em um grupo multinacional. Resta saber se Bompard conseguirá reverter os danos e preservar o equilíbrio entre os mercados francês e brasileiro.

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