Discussão sobre déficit fiscal é "inócua" e "em nenhum país do mundo se faz", afirma Lula
“É uma discussão inócua para um país governado por mim. Seriedade fiscal eu tenho e já provei. Eu peguei esse país falido e entreguei como a 6ª economia do mundo”, disse
247 - O presidente Lula (PT) enviou nesta terça-feira (7), em entrevista a um pool de rádios transmitido pela EBC, mais um recado ao mercado financeiro e a quem cobra do governo mais responsabilidade fiscal. Ao chamar a discussão sobre déficit fiscal de “inócua”, o presidente afirmou que “nunca” gastará mais do que o necessário, mas também não hesitará em fazer dívidas para criar um “ativo novo” e aumentar o patrimônio do país. “Eu às vezes fico um pouco irritado com esse negócio de déficit fiscal, se vai ter déficit ou não vai ter déficit. Veja, isso é uma discussão em que nenhum país do mundo se faz. A dívida pública bruta dos Estados Unidos é de 112% do PIB. A dívida do Japão é de 235% do PIB. A dívida da Itália é quase 200%. Ou seja, esse não é o problema. Você tem que saber se você está gastando ou está investindo”.
“Eu sempre faço uma pergunta para provocar os meus companheiros da imprensa: se a EBC der aumento de salário para os trabalhadores dela, ela está gastando ou está investindo? Na minha opinião ela está investindo, para ter profissionais mais qualificados, mais motivados, com mais vontade. Quando você melhora a vida da pessoa, você está distribuindo riqueza. Isso significa, na minha opinião, investimento”, exemplificou.
Na sequência, Lula citou sua mãe como exemplo de responsabilidade no trato com os recursos. “Eu aprendi com a minha mãe a ser economista. Minha mãe era analfabeta. Ela tinha oito filhos que trabalhavam e a gente chegava no final do mês, naquele tempo a gente recebia um envelope amarelo com um dinheirinho lá dentro. Todos os outros filhos chegavam e entregavam o envelope fechado para minha mãe. Ela não sabia nem escrever, mas sabia contar dinheiro. Então ela contava o dinheiro e falava: ‘esse é para pagar a padaria, esse é para o bar, esse para pagar não sei das quantas, esse é para pagar a conta de luz, a conta de água. Sobrou isso aqui’. E ela falava: ‘sobrou isso aqui e isso é para você, para o teu transporte mensal, e distribuía para cada um’. Se sobrasse algum, ela dizia: ‘esse aqui é para você ir namorar hoje’. Como eu era o caçula, nunca sobrava para eu namorar, eu ficava sem o meu dividendo. Eu estou dizendo isso para mostrar a responsabilidade”.
O presidente, na sequência, lembrou que herdou um “país falido” em 2003 e, depois de dois mandatos presidenciais, alçou o Brasil à posição de 6ª maior economia do mundo. “Desde que assumi a Presidência em 2003 eu tenho dado lições de responsabilidade. Eu peguei esse país quebrado, devendo US$ 30 bilhões para o FMI. Eu tomei posse, não tinha dinheiro para pagar nossas importações. Eu paguei US$ 30 milhões para o FMI, depois emprestei US$ 15 milhões, e depois fizemos uma reserva de US$ 370 bilhões. Então ninguém me fale de responsabilidade, porque essa eu tenho demais. Eu tenho responsabilidade porque assim eu fui criado, assim eu criei meus filhos e assim eu quero governar o Brasil, quero cuidar desse país”.
“Eu não vou gastar nunca mais do que eu preciso gastar, mas se eu tiver que gastar para construir um ativo novo, eu estou fazendo que nem um empresário que tem um mercado mais promissor: o empresário vai no banco, faz a dívida, faz a fábrica crescer, aumenta a produção, vai vender seu produto e paga a dívida. Se o governo tiver que gastar dinheiro para fazer uma ativo novo, alguma coisa nova, que aumente o patrimônio do país, qual é o problema? Nenhum”, acrescentou.
Lula ainda disse aos interlocutores do mercado financeiro que deixem de olhar apenas “seu cofre” e olhem para o povo. “O que eu não posso é ficar com o sistema financeiro todo santo dia só olhando o déficit fiscal e não olhando o déficit social. Olha as pessoas que estão desempregadas, que estão dormindo na rua, que estão passando fome. Pare de olhar só o seu cofre, só para a sua conta bancária. Olhe para o povo! É por isso que às vezes eu fico irritado quando eu vejo muita notícia ‘déficit fiscal, déficit fiscal, déficit fiscal’. É uma discussão inócua para um país governado por mim. Seriedade fiscal eu tenho e já provei. Eu peguei esse país falido em 2003 e entreguei como a 6ª economia do mundo. Pegamos ele como 12ª. Se Deus quiser vamos devolver ele para 7ª ou 6ª economia do mundo”.
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