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      Política econômica de Trump ameaça posição do dólar como 'porto seguro' global

      A avaliação é de gestores de fundos de investimentos: "agora há um bom argumento para o fim do excepcionalismo do dólar americano"

      Nota de dólar aparece na frente de uma ilustração da bandeira dos EUA (Foto: Reuters)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - A reputação do dólar dos Estados Unidos como um refúgio para o capital global está sendo desafiada, conforme alertam gestores de fundos em reportagem do Financial Times repercutida pela Folha de S. Paulo. A moeda norte-americana, que por décadas manteve sua posição como o principal ativo de reserva mundial, tem enfrentado uma queda acentuada desde o anúncio das novas tarifas "recíprocas" impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a vários países. Na última sexta-feira (11), o dólar caiu para o nível mais baixo em três anos em relação ao euro, um movimento que começou após o anúncio de Trump e gerou fortes reações no mercado financeiro.

      Bob Michele, diretor de investimentos da JPMorgan Asset Management, com US$ 3,6 trilhões (R$ 21,13 trilhões) sob gestão, foi enfático ao destacar que a política comercial do governo Trump coloca em risco a estabilidade do dólar. "Agora há um bom argumento para o fim do excepcionalismo do dólar americano", comentou ele. Para Michele, a estabilidade histórica da economia dos EUA, que permitiu à moeda servir como reserva global, está em xeque, dado o impacto das recentes medidas protecionistas.

      O impacto da política tarifária de Trump vai além da queda no valor da moeda. A venda simultânea de ações, títulos do Tesouro e do próprio dólar, desencadeada pelas novas tarifas, sinaliza uma perda de confiança nos ativos dos EUA entre os investidores internacionais. Bert Flossbach, cofundador da Flossbach von Storch, maior gestor de ativos independente da Alemanha, também compartilhou suas preocupações: "a política tarifária caótica de Trump mina a posição dos Estados Unidos como um porto seguro".

      O aumento da incerteza política nos Estados Unidos, alimentada pelas ameaças do presidente contra o Estado de Direito e a independência do Federal Reserve (o Banco Central dos EUA), tem gerado discussões sobre um possível impacto mais duradouro no apelo do dólar. Edward Fishman, autor do livro Chokepoints ("Pontos de Estrangulamento", em tradução livre), sobre a guerra econômica travada pelos EUA, sugeriu que essas tensões poderiam eventualmente resultar em uma transição para um sistema financeiro global "multipolar", no qual outras moedas, como o euro, desempenhariam um papel mais significativo.

      O enfraquecimento do dólar é incomum, já que, normalmente, crises financeiras globais fortalecem a moeda americana, com os investidores buscando segurança em ativos denominados em dólares, como os títulos do Tesouro dos EUA. De fato, historicamente, as moedas de países que impõem tarifas de importação tendem a se fortalecer, mas o cenário atual reflete uma dinâmica atípica.

      Mike Riddell, gestor de portfólio de renda fixa na Fidelity International, observou que o aumento acentuado dos rendimentos de títulos de longo prazo, combinado com o enfraquecimento do dólar, sugere uma fuga de capital, reminiscente de movimentos financeiros antigos. Por outro lado, conselheiros econômicos de Trump, como Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente, já haviam alertado sobre os custos de um dólar forte. Miran argumentou que o status do dólar como moeda de reserva mundial havia inflacionado artificialmente a taxa de câmbio, prejudicando a competitividade dos produtos fabricados nos EUA. Contudo, muitos economistas contestaram essa visão, levantando preocupações de que a busca por desvalorizar o dólar possa levar a consequências econômicas mais graves.

      Michael Krautzberger, diretor global de renda fixa da Allianz Global Investors, também questionou os possíveis próximos passos no cenário atual: "quanto mais o conflito escala, as pessoas pensam, quais poderiam ser os próximos passos?". A situação continua a evoluir e promete ter repercussões significativas para a economia global, especialmente se o dólar perder sua posição de porto seguro.

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