“Eleição de Trump antecipa o que pode acontecer no Brasil em 2026", diz Nicolelis
Cientista, que vive há 36 anos nos EUA, falou à TV 247 sobre os impactos da eleição americana no Brasil
247 – Em entrevista à TV 247, o neurocientista Miguel Nicolelis, que vive há 36 anos nos Estados Unidos, comentou sobre os impactos da reeleição de Donald Trump na presidência americana e suas possíveis repercussões no Brasil. Nicolelis, que acompanha de perto a política americana desde que se mudou para o país em 1989, afirmou que o resultado das eleições representa um choque profundo, tanto para os americanos quanto para os observadores internacionais. “É um grande choque. Amigos meus, cientistas, falando em ir embora dos Estados Unidos. Metade do país ainda não acredita no que aconteceu”, disse ele.
O neurocientista destacou um aspecto pouco discutido pela grande imprensa, mas amplamente notado nas redes sociais americanas: a queda expressiva na votação democrata. “De 15 a 20 milhões de votos democratas sumiram. Trump teve 3 milhões de votos a menos, mas Kamala Harris teve cerca de 20 milhões de votos a menos que Joe Biden em 2020. Esses votos não aparecem em lugar nenhum”, observou Nicolelis. Ele comentou a curiosidade de ver um aumento significativo na votação antecipada pelo correio, enquanto muitos relatos surgiram sobre votos que não foram registrados.
Nicolelis também mencionou as diferenças fundamentais entre o sistema eleitoral dos Estados Unidos e o do Brasil. “Nos EUA, não existe uma justiça eleitoral centralizada, e a porcentagem de votos eletrônicos é mínima. Aqui no Brasil, o resultado é muito mais rápido, enquanto lá, como vimos em 2020, pode levar quase uma semana”, explicou, destacando o caráter fragmentado do processo eleitoral americano.
Impactos e paralelos com o Brasil
Para o cientista, a reeleição de Trump e o cenário que a acompanha são um reflexo de mudanças profundas na sociedade americana e um prenúncio de desafios que podem se estender ao Brasil. “Essa eleição é os americanos falando para nós: ‘Eu sou vocês amanhã’. O que aconteceu lá, em termos de desinformação, uso de redes sociais e estratégias de manipulação, é algo que pode se repetir em outros lugares”, alertou Nicolelis. Ele apontou para o papel de Elon Musk e sua plataforma, que teria sido usada para promover desinformação e favorecer Trump, ao mesmo tempo que minimizava suas falhas e gafes de campanha.
Nicolelis não poupou críticas à coordenação da extrema-direita global, que ele considera mais eficiente e operacional do que geralmente se reconhece. “Foi uma vitória acachapante, comparável a algumas vitórias da direita em eleições municipais no Brasil que setores da esquerda consideraram triunfos. Isso mostra que a coordenação da extrema-direita mundial é muito mais forte do que se admite aqui”, afirmou.
O futuro da democracia liberal
Para o neurocientista, as eleições de 2024 nos Estados Unidos são um sinal claro de que conceitos como democracia, direitos humanos e liberdades individuais estão sendo substituídos por outras narrativas abstratas que minam a coesão social. “Hoje, os Estados Unidos talvez sejam um dos países mais divididos do mundo”, observou Nicolelis, ressaltando a importância de entender como essa fragmentação social e política pode ecoar em outros países, incluindo o Brasil.
Nicolelis concluiu destacando que a vitória de Trump representa não apenas um desafio interno para os Estados Unidos, mas um potencial desastre global. “O que aconteceu nessa eleição mostra que o mundo enfrenta uma era em que a desinformação e as estratégias digitais de manipulação se tornaram armas poderosas nas mãos de movimentos políticos que buscam manter e ampliar seu poder”, disse ele, prevendo tempos difíceis para a governança democrática em escala global. Assista:
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