"Erdogan é um pêndulo político": Lejeune Mirhan analisa crise na Turquia e possível mudança no Oriente Médio
Cientista político destaca instabilidade do governo turco, críticas à relação com Israel e futuro das relações internacionais da região
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o cientista político e especialista em geopolítica Lejeune Mirhan fez uma análise detalhada sobre a crise política na Turquia e o papel do presidente Recep Tayyip Erdogan no cenário internacional. Mirhan descreveu Erdogan como um "pêndulo político", que oscila entre alianças com o Ocidente e posicionamentos favoráveis a países do eixo anti-imperialista, dependendo de seus interesses momentâneos. "Tem hora que ele está do nosso lado, tem hora que ele está do lado do imperialismo. A maior parte do tempo, ele está do lado de lá", afirmou.
A recente onda de protestos na Turquia, que levou milhões às ruas, foi desencadeada, segundo Mirhan, por uma combinação de fatores que vão desde denúncias de corrupção até o endurecimento da postura do governo em relação à oposição. Um dos episódios que agravaram a crise foi a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, um dos principais adversários políticos de Erdogan. "A mídia controlada pelo governo turco tentou vender que foi uma decisão judicial independente, mas a influência de Erdogan sobre o Judiciário é enorme", destacou Mirhan.
Erdogan e a relação com Israel e Palestina - O analista também abordou o papel de Erdogan no conflito entre Israel e Palestina. Segundo Mirhan, o presidente turco adota uma postura ambígua. "No caso da Palestina, quando começou o genocídio, o pêndulo dele ficou mais do nosso lado. Ainda assim, não parou de vender petróleo e mercadorias para Israel", denunciou. Apesar disso, Erdogan fez declarações duras contra o governo de Benjamin Netanyahu, o que foi visto como um gesto positivo por setores que defendem a causa palestina. "A gente saúda essas falas, mas sabemos que ele nunca rompe de fato com Tel Aviv", acrescentou.
Mirhan explicou que a Turquia de Erdogan busca expandir sua influência regional e, para isso, joga em diversas frentes. "Ele tenta equilibrar interesses com Rússia, Estados Unidos, OTAN e os países do Oriente Médio. Mas ninguém sabe exatamente de que lado ele estará amanhã", disse, ressaltando que essa postura tem gerado desconfiança até entre seus aliados.
A longa permanência de Erdogan no poder - O especialista abordou também a longevidade do governo Erdogan, que já ultrapassa duas décadas. Mirhan destacou que não vê problemas na permanência de líderes no poder, desde que legitimados pelo voto popular. "Putin está há 24 anos no governo, Merkel ficou 16 anos, isso não é o problema. O problema é quando há manipulação eleitoral e perseguição aos adversários", pontuou.
Nesse sentido, ele chamou atenção para o uso da máquina estatal pelo governo turco para se manter no poder. "Na última eleição, Erdogan enfrentou o Partido Republicano do Povo, uma legenda centenária que já foi de direita, anticomunista, mas hoje se apresenta como social-democrata. Foi uma disputa apertada, e ele precisou de artifícios nada democráticos para garantir a vitória", afirmou.
O impacto da crise turca no Oriente Médio - Para Mirhan, uma possível queda de Erdogan poderia trazer mudanças significativas no Oriente Médio, especialmente na Síria. "A Turquia ocupa parte do território sírio e tem sido um ator importante na fragmentação do país. Se houver uma mudança de governo, podemos ver negociações para uma retirada das tropas turcas e até um acordo com os curdos", avaliou.
Ele lembrou que a Síria está dividida entre diferentes forças: "tem os curdos, os EUA, Israel e os terroristas apoiados pelo imperialismo, que querem enfraquecer a Rússia e seu apoio ao governo sírio. O objetivo do Ocidente sempre foi tirar as bases russas de lá, mas nem mesmo os jihadistas ousam enfrentar Moscou diretamente".
A relação entre Erdogan e Vladimir Putin também foi analisada pelo especialista. "A relação entre os dois está longe de ser das melhores. Se estivesse boa, as conversas de paz continuariam acontecendo em Istambul, mas elas foram transferidas para a Arábia Saudita. Isso diz muito sobre a desconfiança da Rússia em relação à Turquia", explicou Mirhan.
O futuro de Erdogan - Mirhan afirmou que, apesar da crise, ainda é cedo para afirmar que Erdogan está com os dias contados. "Não sabemos se ele vai cair. Mas o volume de protestos, a insatisfação popular e a repressão crescente mostram que sua permanência no poder não será tranquila", disse. Ele enfatizou que Erdogan está islamizando gradualmente a Turquia, o que tem causado incômodo não apenas entre setores progressistas, mas também no meio militar.
Para finalizar, Mirhan fez uma reflexão sobre o cenário político turco e sua repercussão global. "Se houver uma mudança de governo, o impacto será grande não apenas na Turquia, mas em todo o Oriente Médio. As peças do tabuleiro geopolítico podem se mover de forma imprevisível, e isso afetará diretamente os interesses das potências mundiais na região", concluiu.
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