“Estamos gritando há muito tempo e ninguém nos ouve”, diz médico palestino

247 – O médico palestino Abdel Latif afirmou que a humanidade não pode deixar "uma ideologia tão racista, tão assassina, fazer o que Israel está fazendo". Em entrevista aos jornalistas Mario Vitor Santos e Regina Zappa, da TV 247, Latif descreveu a ocupação israelense como uma realidade brutal e desumanizadora.

"O brasileiro não imagina o que é ocupação. Significa que aquele povo não tem direito sobre nada – sobre seu filho, sua família, sua casa, sua terra. Soldados podem invadir ou destruir sua casa a qualquer momento, seu filho pode ser preso, bater em velhos e crianças porque para eles palestinos não são seres humanos", disse Latif.

Latif vive em Valinhos, SP, onde coordena a UTI da Santa Casa. Nasceu em Belém, estudou medicina em Moscou e voltou à Cisjordânia em 1982. Trabalhou em Jerusalém, em dois hospitais, até que se casou com uma brasileira e teve que sair da Palestina, pois um palestino casado com estrangeira não tem direito a permanecer em sua terra.

"Muitas vezes, mulheres grávidas ficam na ambulância nos postos de controle, esperando autorização do soldado. Naquele momento, o soldado é quem manda na sua vida. Soldados matam por suspeita, até crianças. Nunca um soldado foi julgado por isso", declarou Latif.

Ele também expressou esperança de que "quando a guerra acabar, Gaza vai continuar sendo Gaza".

Latif criticou duramente o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu: "Netanyahu discursou no Congresso americano por 53 minutos e foi aplaudido 80 vezes. Mentiu do começo ao fim. Israel matou 40 mil civis palestinos em 10 meses. Desses, mais de 16 mil eram crianças e mais de 11 mil mulheres. Nos EUA, ele disse que a luta era da civilização contra a barbárie. Se eles são civilizados, então o que é barbárie?"

"Lá a lei é o soldado com uma metralhadora. Se meu filho jogar uma pedra num soldado, minha casa pode ser demolida. Isso é punição coletiva", acrescentou.

O médico finalizou com uma reflexão sobre a sociedade: "Uma sociedade construída em cima de mentiras e indiferente ao sofrimento dos outros não tem como não ser violenta".

Assista à íntegra da entrevista de Abdel Latif: