“Estão tentando usar os presos para salvar Bolsonaro”, diz Zarattini sobre manobra da anistia
Deputado afirma que tentativa de golpe começou em 2021, denuncia articulação bolsonarista com o Centrão e alerta para risco de impunidade
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) afirmou que a tentativa de golpe de Estado liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro não começou em 8 de janeiro de 2023, mas foi fruto de um processo articulado com antecedência e sustentado por ataques sistemáticos às instituições democráticas. Segundo ele, o movimento golpista foi planejado por mais de um ano e contou com ações coordenadas, financiamento de setores ruralistas e ameaças de setores militares, além de uma campanha de deslegitimação do sistema eleitoral.
“O golpe não começou no 8 de janeiro. Começou mais de um ano antes, quando Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas no 7 de setembro de 2022. Ali começa a campanha para desacreditar o sistema eleitoral e preparar o terreno para a ruptura”, declarou Zarattini. O deputado citou episódios como o desfile de blindados da Marinha diante do Palácio do Planalto e a instalação de acampamentos em frente a quartéis como partes dessa escalada, que culminaria na tentativa fracassada de impedir a posse de Lula.
O parlamentar alertou ainda para as articulações em curso na Câmara dos Deputados para aprovar um projeto de anistia aos envolvidos nos ataques golpistas. A proposta, segundo ele, é uma estratégia para salvar Bolsonaro e seus aliados da inelegibilidade e da responsabilização criminal. “Estão tentando usar os presos para salvar Bolsonaro”, afirmou. “Eles falam da mulher do batom, do cara que morreu na cadeia, dizem que são todos coitados que estavam ali com bolinha de gude. Tudo isso para amainar a gravidade do que aconteceu e resolver o problema da elegibilidade do Bolsonaro.”
Zarattini explicou que a tentativa de anistia está sendo articulada por parlamentares bolsonaristas, com apoio do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que pode colocar o projeto em votação. No entanto, ele pondera que, para aprovar o regime de urgência necessário à tramitação acelerada, são exigidos 257 votos. “Eles têm 97 ou 98 deputados do PL, mas também bolsonaristas radicais em partidos como MDB, PSDB, PP, União Brasil. Devem ser uns 130 bolsonaristas convictos e radicais”, calculou. Para alcançar os votos necessários, o grupo precisa de adesão de cerca de 127 deputados do chamado Centrão, um bloco que, segundo ele, tende a se movimentar conforme o ambiente político.
Segundo o deputado, esse ambiente é atualmente desfavorável à anistia. “As manifestações deles têm sido fracas. Houve a aceitação unânime das denúncias no STF, e há mobilizações previstas, como a de domingo, aqui em São Paulo. Isso pode dificultar que eles executem essa articulação.”
Ao comentar a decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, que aceitou por unanimidade a denúncia da PGR contra Bolsonaro e mais sete aliados, Zarattini defendeu que a medida fortalece a resposta institucional aos atos golpistas e pode consolidar um caminho para a responsabilização dos envolvidos. Para ele, ainda que a anistia venha a ser aprovada no Congresso, o presidente Lula poderá vetá-la, e o Supremo poderá declará-la inconstitucional. “O projeto é absolutamente inconstitucional”, disse. “Mesmo que eles derrubem o veto presidencial, o STF vai ter que julgar. E isso será outra barreira para eles.”
Zarattini também destacou que dois fatores impediram que a tentativa de golpe fosse bem-sucedida: a negativa de apoio por parte do governo dos Estados Unidos e a decisão dos militares brasileiros de não aderirem à ruptura institucional. “Diferente de 1964, não houve uma articulação do mundo político para sustentar o golpe. O Centrão percebeu que saiu forte das eleições e optou por negociar com o governo, a partir da força que conquistaram no Congresso”, afirmou. “Arthur Lira foi um dos primeiros a parabenizar o Lula pela vitória. Eles viram que poderiam ter poder sem golpe.”
O parlamentar elogiou o documentário Ainda Estou Aqui, que, segundo ele, contribuiu para sensibilizar a sociedade sobre os horrores da ditadura e gerou um sentimento de repulsa que havia sido, em parte, adormecido. “Foi o melhor fato de comunicação que tivemos. Mobilizou um sentimento que estava esquecido.”
Sobre o futuro da extrema direita, Zarattini avalia que Bolsonaro enfrentará uma pressão crescente para desistir de uma nova candidatura presidencial. “Ele terá que decidir: ou tenta manter a candidatura acesa, como fez Lula no passado, ou será pressionado a indicar um sucessor, provavelmente o Tarcísio”, afirmou. “Apesar das posições fascistas dele e do apoio ao Bolsonaro, o Tarcísio é o queridinho do mercado financeiro, da elite paulista e dos meios de comunicação.”
Durante a entrevista, o deputado também comentou a tramitação da proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, compensada pela taxação de grandes fortunas. Segundo ele, embora a proposta de isenção tenha apoio popular, há resistência no Congresso por parte de parlamentares empresários que seriam atingidos pela nova tributação. “Eles vão querer reduzir a cobrança sobre os 141 mil brasileiros mais ricos, que vão pagar mais com esse projeto. Vão tentar formas de aliviar essa taxação.”
Zarattini ainda defendeu que o foco da tributação deve recair sobre o mercado financeiro. “Dentre os setores da economia, o mercado financeiro é o que precisa ser mais tributado. Isso não tem dúvida”, disse.
Sobre a Medida Provisória do crédito com garantia do FGTS, o deputado mencionou a necessidade de resposta rápida do governo às campanhas de desinformação nas redes sociais. “Já alertei o Ministério da Fazenda e a Secom. Essa turma usa qualquer coisa para confundir a população. Se demorar, a narrativa da direita cola.”
No final da conversa, Zarattini respondeu às ofensas feitas ao seu pai, durante sessão da Câmara Municipal de São Paulo, por uma vereadora de extrema direita. Ele prestou solidariedade à vereadora Luna Zarattini, sua filha, que respondeu publicamente aos ataques. “Esse tipo de parlamentar tem que ter resposta. Não podemos deixar passar. É um proselitismo da ditadura, e nós temos que combater isso com firmeza”, declarou. Assista:
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