"Os EUA têm sete vidas", diz Guido Mantega sobre possível declínio americano
Ex-ministro analisa o impacto global do retorno de Trump, o papel da China e os desafios econômicos e políticos do Brasil
247 - O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, participou do programa Boa Noite 247, onde analisou o cenário internacional e as possíveis consequências do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Durante a entrevista, Mantega abordou temas como a política econômica de Trump, as relações com a China e a América Latina, e o fortalecimento da direita global.
Política industrial e protecionismo nos EUA
Segundo Mantega, a política de Trump é marcada por medidas protecionistas e uma tentativa de reindustrializar os Estados Unidos. "Trump quer recuperar uma parte da industrialização que foi transferida para fora. Ele está cobrando tarifas de importação como parte de sua política industrial, dizendo que o maior mercado do mundo são os Estados Unidos, e que países como China, México e Canadá terão que pagar para acessar esse mercado", afirmou.
Ele destacou que Trump deve impor tarifas de até 25% sobre produtos vindos do México e do Canadá. "O México, por exemplo, exporta 450 bilhões de dólares por ano para os EUA, superando a China. Ele quer reduzir esse fluxo, recuperar a indústria automobilística americana e usar métodos imperiais, como reverter o controle do Canal do Panamá, que ele considera estratégico para os interesses americanos."
Relações entre EUA e China
Mantega analisou a disputa econômica e militar entre os Estados Unidos e a China. "A China é uma potência consolidada e já está empatando tecnologicamente com os EUA em quase todas as áreas. Ainda assim, Trump adota um jogo de força, impondo tarifas e ameaças como estratégia de negociação", explicou. Ele mencionou que, apesar das tensões, a China mantém reservas significativas em dólar e continua a depender do mercado americano.
"É um paradoxo. Embora o discurso seja de confronto, tanto os EUA quanto a China têm um interesse mútuo em manter suas relações econômicas. A desglobalização que Trump propõe será apenas parcial, porque não é eficiente desglobalizar completamente."
Impactos para o Brasil
O ex-ministro avaliou que o Brasil não será um alvo econômico direto dos Estados Unidos, mas poderá enfrentar desafios políticos. "O Brasil exporta pouco para os EUA e tem um déficit comercial com eles. Em termos econômicos, o país pode até se beneficiar das sanções americanas contra outros mercados, como o México, ganhando espaço para exportações agrícolas", apontou.
Entretanto, ele expressou preocupação com o fortalecimento da direita internacional sob a liderança de Trump. "Os Estados Unidos são muito ativos no campo político, especialmente através de órgãos como a CIA e o FBI. Em 2022, a postura de Biden foi crucial para garantir a posse de Lula. Se Trump estivesse no poder, o golpe poderia ter sido vitorioso", afirmou.
Mantega alertou para possíveis interferências nas eleições de 2026 no Brasil. "Trump vai fortalecer candidatos de direita em todo o mundo, inclusive no Brasil, utilizando big techs e liberdade para manipulação de informações. Ele fez isso em 2016 e pode repetir a estratégia."
Força global dos EUA
Apesar de reconhecer a perda de parte da hegemonia americana, Mantega afirmou que os Estados Unidos continuam sendo o país mais poderoso do mundo. "Eles têm um orçamento militar de um trilhão de dólares por ano, enquanto a China gasta 250 bilhões. Além disso, controlam tecnologias de ponta e comunicações globais, como os satélites de Elon Musk, que captam informações de todo o mundo", destacou.
Mantega concluiu enfatizando que os EUA ainda possuem grande capacidade de recuperação econômica e política. "Dizíamos, há 50 anos, que os Estados Unidos estavam em crise e não sairiam dela, mas isso não aconteceu. Eles têm sete vidas. O que precisamos fazer é consolidar outro poder que se contraponha a eles, buscando uma hegemonia compartilhada."
Democracia e ciclos políticos
O ex-ministro também refletiu sobre os ciclos políticos globais, com o fortalecimento da direita em vários países. "Estamos vivendo um período de enfraquecimento da democracia, mas isso não significa que ela vai acabar. Assim como há momentos de avanço da direita, haverá períodos em que a esquerda voltará a se fortalecer. O importante é manter o equilíbrio e a vigilância democrática." Assista:
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