“O petróleo vai financiar a transição energética e a bioeconomia”, diz Luciana Costa, do BNDES
Diretora do banco defende que os recursos do petróleo sejam usados para combater o desmatamento e acelerar o investimento em renováveis
247 – Em sua participação no evento Margem Equatorial e Políticas Públicas, realizado no dia 26 de março, em Brasília, pelo Brasil 247, pela TV 247 e pelo site Agenda do Poder, a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa, afirmou que o petróleo brasileiro não apenas fará parte da transição energética, como também deve financiá-la.
“O mundo vai fazer a transição energética. Se a indústria do petróleo não fizer a transição, ela não vai acontecer. A indústria do petróleo e gás é parte da equação”, declarou. Segundo ela, não há contradição técnica entre explorar petróleo e avançar na agenda climática. A questão é estratégica: “Depende de como a gente vai tratar a transição no óleo e gás.”
Luciana destacou o papel do BNDES na transformação da matriz energética brasileira. “O BNDES é o maior financiador de energia renovável do mundo. Isso não é um ranking que a gente faz; é um ranking da Bloomberg”, afirmou.
Enquanto bancos internacionais financiam renováveis em diversos países, o BNDES atua exclusivamente no Brasil — o que contribuiu para que 89% da matriz elétrica e quase 50% da matriz energética nacional sejam renováveis. “A média da OCDE é 14%”, comparou.
Ela criticou o foco do debate público em torno da exploração da Margem Equatorial, sugerindo que a discussão deveria estar centrada no uso dos recursos gerados. “A gente perde mais tempo discutindo se vai fazer a pesquisa exploratória da Margem Equatorial do que tempo que a gente deveria estar perdendo para discutir o que a gente vai fazer com os recursos do óleo e gás”, disse. A prioridade, defendeu, deve ser fomentar cadeias de bioeconomia e soluções baseadas na natureza, sobretudo na Amazônia, onde vivem 28 milhões de brasileiros.
“A taxa de desmatamento da Amazônia caiu mais de 80% nos governos Lula 1, Lula 2 e Dilma, e depois voltou a crescer. O desmatamento naquela região vem precisamente do crime organizado”, afirmou Luciana. Ela alertou que, sem alternativas econômicas sustentáveis, a população local será empurrada de volta a atividades ilegais como mineração e extração madeireira.
Do ponto de vista das emissões, a diretora do BNDES lembrou que o petróleo brasileiro tem baixa intensidade de carbono nos escopos 1 e 2, e que o país já tem uma pegada de carbono significativamente menor na geração de energia. “Enquanto 80% das emissões globais vêm da energia, no Brasil são apenas 18%. Mas isso não nos autoriza a sermos complacentes.” Segundo ela, 50% das emissões brasileiras vêm do desmatamento e 24% da agropecuária.
Luciana também alertou para as projeções de aquecimento global. “O Acordo de Paris não vai ser cumprido. O cenário base é de aquecimento de 3,7°C até 2050, ou talvez antes. O Brasil vai aquecer mais: 4,5°C. O cerrado e o Nordeste vão virar regiões áridas, e o Centro-Oeste deixará de ser o celeiro do mundo.”
Diante desse cenário, ela defendeu planejamento, regulação e responsabilidade coletiva. “O mundo da energia não vai ser como o digital, com startups revolucionando tudo. As petroleiras não vão quebrar. Elas precisam fazer a transição. Se cada um só buscar maximizar o retorno individual, o coletivo vai perder — e a Terra vai aquecer mais rapidamente.”
Luciana também abordou os desafios da nova infraestrutura energética. “Faz 200 anos que o mundo constrói infraestrutura para óleo e gás. Agora precisamos construir infraestrutura para produzir, armazenar e transportar elétron”, afirmou, citando investimentos em linhas de transmissão e baterias de grande porte.
Por fim, ela defendeu que o debate sobre transição energética seja ampliado e envolva a sociedade civil. “Esse tipo de debate excelente de alto nível precisa acontecer nos grandes centros, com a sociedade civil. Senão, fica um debate ideológico e simplista”, alertou.
“Pra gente fazer a transição, não basta não produzir óleo e gás. É preciso escalar energias renováveis, investir em nova infraestrutura e criar condições para que as populações que estão nos lugares onde a gente desmata tenham como sobreviver.”
Luciana encerrou sua fala lembrando que a principal fonte de recursos do Fundo Amazônia vem do petróleo. “A gente tem o Fundo Amazônia porque a Noruega pegou o dinheiro do petróleo e colocou no fundo. O que que a gente vai fazer com o nosso dinheiro do petróleo?”, questionou. “Essa é a reflexão.” Assista:
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