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Setembro chega com alerta de recorde de incêndios florestais no Brasil e condições climáticas extremas

Cientistas, por outro lado, apontam que o fogo só ocorre com a ação humana, "por sabotagem ou porque alguém resolve fazer uma limpeza e perde o controle"

Incêndio destrói plantação de cana-de-açúcar em Dumon (SP) (Foto: REUTERS/Joel Silva)

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247 - Com a chegada de setembro, o Brasil enfrenta o risco de bater um recorde de incêndios florestais, exacerbado pelo calor intenso e a quase ausência de chuvas, informa o jornal O Globo. Tradicionalmente, setembro e outubro são os meses mais críticos para queimadas no país devido à estiagem, mas, neste ano, as condições meteorológicas extremas aumentam a preocupação. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), essas condições desfavoráveis têm grande probabilidade de se intensificarem nas próximas semanas.

A combinação de seca severa e temperaturas elevadas prepara o cenário para uma situação de alto risco, mas os cientistas alertam que o fogo, em si, só ocorre com a ação humana. "O fogo se inicia sempre de forma proposital, seja por sabotagem ou porque alguém resolve fazer uma limpeza e perde o controle", destaca Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador de operações do Cemaden. Ele enfatiza que, sem medidas amplas de prevenção, a ocorrência de incêndios é inevitável.

As previsões para os próximos meses são preocupantes. Os modelos meteorológicos indicam que as próximas seis semanas serão marcadas por calor intenso e chuvas abaixo da média. "Só nos últimos dias de setembro e no início de outubro aparece no horizonte alguma condição para haver chuva. E alívio mesmo não deve ser esperado antes do verão", explica Seluchi. A estação das chuvas, portanto, deve atrasar.

Risco máximo no sul da Amazônia e no Pantanal

Duas regiões específicas estão no epicentro da crise: o sul da Amazônia e o Pantanal. A Amazônia enfrenta condições de seca desde o segundo semestre de 2023, e setembro pode ser um mês sem chuvas em algumas áreas. "A seca tem efeito cumulativo, vai piorando. Setembro será um mês de risco máximo", adverte Ana Paula Cunha, cientista do Cemaden e especialista em seca. O Atlântico tropical quente e o histórico recente de chuvas insuficientes agravam a situação.

No Pantanal, a situação é igualmente alarmante. O Rio Paraguai está abaixo dos mínimos históricos, e a possível chegada de uma La Niña não traz perspectivas animadoras. "O cenário mais provável é de pouca ou nenhuma chuva nessas áreas, e isso vai elevar as temperaturas. Vai ser muito favorável para incêndios, infelizmente", lamenta Seluchi.

Mudanças climáticas e desmatamento agravam a crise

A previsão de mais calor e menos chuva coincide com o cenário global de mudanças climáticas. "Isso já vem sendo observado. As observações correspondem ao que modelos de mudança climática previram há anos. Só não enxerga quem não quer ver", destaca Seluchi. Ele também aponta que o desmatamento é um fator crucial que agrava o risco de seca e incêndios. A redução da cobertura vegetal elimina uma importante fonte de umidade, dificultando o início da estação chuvosa.

Outro fator agravante é o aumento dos ventos, que amplificam a propagação das chamas. Desde o ano passado, os cientistas observam uma intensificação do vento, possivelmente ligada a uma série de fatores meteorológicos, como a formação de "rios voadores" — jatos de baixos níveis que transportam umidade pela atmosfera. No entanto, com a seca e os incêndios, esses rios se transformam em canais de fumaça, intensificando ainda mais a crise.

Mesmo que a estação chuvosa venha a partir do fim da primavera, os especialistas alertam que ela não será suficiente para reverter os danos acumulados. "Um verão só não é suficiente. São necessários pelo menos dois ciclos de chuva para que haja recuperação", conclui Cunha.

Diante desse cenário preocupante, cientistas defendem a urgência de campanhas de prevenção e educação sobre o uso do fogo.

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