Alvo de sanções, mídia russa critica decisão dos Estados Unidos
Segundo especialistas, as sanções ferem o discurso da liberdade de expressão
247 – O governo dos Estados Unidos, por meio do Departamento do Tesouro, anunciou na sexta-feira (13) uma nova rodada de sanções contra o grupo de mídia russo Rossiya Segodnya, responsável pela Sputnik. A medida, que inclui restrições financeiras e a inclusão de indivíduos como o diretor-geral Dmitry Kiselev em listas de sanções, faz parte de uma ação mais ampla do governo norte-americano para conter a influência de veículos de comunicação russos, acusados de disseminar desinformação em meio ao conflito na Ucrânia. As sanções obrigam que transações com o grupo sejam finalizadas até novembro de 2024.
A decisão dos Estados Unidos foi justificada como uma tentativa de combater a manipulação da informação. Segundo James Rubin, diretor do Centro de Engajamento Global do Departamento de Estado dos EUA, veículos de mídia como a RT e Sputnik são responsáveis por divulgar propaganda que tem alcançado milhões de pessoas ao redor do mundo. Rubin afirmou que o grande alcance dessas mídias tem sido um fator que impede maior apoio global à Ucrânia. A medida se insere em uma série de ações anteriores tomadas pelos EUA, que já haviam sancionado outros meios de comunicação russos sob acusações de interferência em processos políticos e eleitorais americanos.
Em resposta, especialistas consultados pela Sputnik criticaram as sanções, alegando que elas violam princípios de liberdade de imprensa e expressão. João Victor Motta, pesquisador do Observatório de Regionalismo e doutorando em Relações Internacionais, argumentou que as sanções expõem as contradições da política externa dos Estados Unidos, que alegam defender a liberdade de expressão, mas limitam o acesso a diferentes perspectivas sobre o conflito na Ucrânia.
Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, afirmou que o governo dos EUA tenta controlar a narrativa sobre o conflito, bloqueando visões alternativas que contradizem os interesses norte-americanos e da União Europeia. Segundo Pennaforte, essas sanções refletem um padrão histórico de censura utilizado pelos Estados Unidos em situações de guerra, com o objetivo de limitar o debate público.
O professor João Cláudio Pitillo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), acrescentou que as sanções são uma demonstração da derrota da narrativa dos EUA sobre a guerra na Ucrânia, especialmente entre os países do Sul Global. Ele apontou que a resistência em aceitar a visão estadunidense do conflito reforça a influência da mídia russa. Pitillo argumentou que os Estados Unidos perderam espaço ao tentar moldar a percepção global do conflito e que a justificativa das sanções seria uma admissão de fracasso.
Além das críticas, autoridades russas também se manifestaram. Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, ironizou a ação, sugerindo que os EUA poderiam criar uma nova profissão para especialistas em sanções contra a Rússia, dada a recorrência das medidas. Ela destacou a repetição de sanções e questionou sua efetividade a longo prazo.
As sanções contra a mídia russa fazem parte de uma estratégia maior dos Estados Unidos para conter a suposta interferência da Rússia em assuntos internacionais e reforçar o controle da narrativa sobre o conflito na Ucrânia. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que o objetivo é responsabilizar aqueles que usam a informação como uma arma contra a democracia norte-americana.
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