Biden bloqueará compra da U.S. Steel pela Nippon Steel

Reuters - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu oficialmente bloquear a proposta de compra da U.S. Steel pela Nippon Steel, avaliada em US$ 14,9 bilhões, segundo uma pessoa familiarizada com a decisão informou nesta sexta-feira. A decisão representa um golpe provavelmente fatal para o polêmico plano de fusão.

O Comitê de Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (CFIUS) havia encaminhado a decisão de aprovar ou bloquear o negócio para Biden, que deixará o cargo em 20 de janeiro. Apesar de esforços contrários de alguns conselheiros preocupados com o impacto sobre as relações EUA-Japão, Biden decidiu vetar o acordo, de acordo com o Washington Post, que divulgou a notícia inicialmente.

O jornal citou dois funcionários do governo que não estavam autorizados a falar publicamente sobre o assunto. A fonte que falou à Reuters, sob condição de anonimato, não detalhou o motivo da decisão, mas destacou previamente as implicações políticas do acordo.

Um porta-voz da Casa Branca e um representante da Nippon Steel se recusaram a comentar. A U.S. Steel remeteu a Reuters a uma declaração feita na quinta-feira, afirmando esperar que "Biden faça o que é certo e respeite a lei, aprovando uma transação que claramente melhora a segurança nacional e econômica dos EUA".

A Nippon ofereceu um prêmio elevado para garantir a compra da segunda maior produtora de aço dos EUA em um leilão realizado em dezembro de 2023, mas o negócio enfrentou oposição do poderoso sindicato United Steelworkers (USW) e de políticos. Biden afirmou que deseja que a U.S. Steel permaneça de propriedade e gestão domésticas, enquanto o presidente eleito Donald Trump prometeu bloquear o acordo após assumir o cargo em janeiro.

Pressões políticas - O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, apelou a Biden para aprovar a fusão, a fim de evitar prejudicar os esforços recentes para fortalecer os laços entre os dois países, relatou a Reuters em novembro. O Japão, aliado-chave dos EUA no Indo-Pacífico, é também o maior investidor estrangeiro nos Estados Unidos. O lobby empresarial japonês, Keidanren, já havia expressado preocupações sobre a interferência política na revisão do negócio.

Alistair Ramsey, vice-presidente de pesquisa em aço da consultoria Rystad Energy, afirmou que o bloqueio do acordo pode desestimular investidores internacionais de adquirir empresas americanas politicamente sensíveis com força de trabalho sindicalizada no curto prazo. "Grandes ofertas são uma ideia arriscada a menos de 12 meses de uma eleição presidencial", disse Ramsey. Ele destacou, no entanto, que grandes produtores de aço, como a Nippon Steel, ainda veem os EUA como um local atrativo para produção no longo prazo, apesar da depressão do mercado.

Desafios legais e esforços da Nippon Steel - A Nippon prometeu contestar a decisão na Justiça, mas especialistas apontam dificuldades para viabilizar o processo. Nick Wall, sócio da Allen & Overy, afirmou: "quem você processaria? O CFIUS? O presidente? O governo como um todo? Isso seria quase impossível".

Em um esforço para mitigar as preocupações, a Nippon Steel propôs transferir sua sede nos EUA para Pittsburgh, onde a U.S. Steel está localizada, e garantiu manter todos os acordos existentes com o USW. Além disso, ofereceu ao governo dos EUA poder de veto sobre possíveis cortes na capacidade de produção da U.S. Steel. Mesmo assim, a proposta não conseguiu convencer a administração Biden.

A decisão marca um revés significativo para a estratégia de crescimento internacional da Nippon Steel. Caso o negócio não se concretize, a empresa enfrentará uma multa de US$ 565 milhões paga à U.S. Steel. O objetivo da Nippon era aumentar sua capacidade global de produção de 65 milhões para 85 milhões de toneladas métricas anuais, aproximando-se de sua meta de longo prazo de 100 milhões de toneladas.

Representantes do Ministério da Indústria do Japão (METI) e do primeiro-ministro Ishiba não foram localizados para comentar devido ao feriado público no Japão nesta sexta-feira. As ações da U.S. Steel encerraram a quinta-feira com queda de 4,1%.