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    China acelera megaprojeto de livre comércio em Hainan, província que sedia o 'Davos Asiático' nesta semana

    Até o final deste ano, ilha localizada no extremo sul do gigante asiático implementará regime alfandegário especial. Tema é destaque do Fórum Boao 2025

    Foto aérea da sede do 'Fórum Boao para a Ásia' na província de Hainan, localizada no sul da China (Foto: Xinhua/Guo Cheng)
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    Por Guilherme Paladino, de Hainan (China), para o 247 - Enquanto o Ocidente debate barreiras comerciais, um fenômeno importante está ocorrendo na província do extremo sul da China, Hainan, conhecida como "o Havaí do gigante asiático". Desde 2020, o Comitê Central do Partido Comunista da China e o Conselho de Estado confiam à província o que chamam de "missão histórica": transformar a ilha em um dos maiores portos de livre comércio (FTP) do mundo.

    Com uma área de 35.400 km² e clima tropical, Hainan não é apenas um destino turístico conhecido na China por suas praias e florestas, mas também um laboratório de novas políticas econômicas da "Reforma e Abertura". Até o final de 2025, a ilha finalizará a primeira fase de implementação de um regime alfandegário especial, permitindo a livre circulação de mercadorias entre Hainan e o exterior, enquanto mantém controles normais no comércio com o continente chinês.

    Apesar de as medidas de abertura comercial na região serem recentes - as primeiras vêm sendo implementadas ao longo dos últimos cinco anos -, o impacto já começa a ser sentido. Em 2024, o valor total de importações e exportações alcançou 277,65 bilhões de yuans, representando um crescimento anual de 20%. No mesmo período, o PIB da província atingiu 793,5 bilhões de yuans e o turismo gerou 204 bilhões de yuans.

    A província visa desenvolver, prioritariamente, quatro indústrias pilares: turismo, serviços modernos, alta tecnologia e agricultura tropical.

    Porto de Livre Comércio de Hainan, China
    Porto de Livre Comércio de Hainan, China(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247

    Um dos motores da transformação está no Fórum Boao para a Ásia, cuja edição de 2025 começou nesta terça-feira (25) — e no qual Hainan exibe suas ambições globais.

    Fórum Boao 2025

    Líderes políticos e empresariais se reúnem nesta semana em Boao, cidade costeira de Hainan, para a edição 2025 do 'Fórum Boao para a Ásia' - também conhecido como o 'Davos Asiático'. O tema deste ano é "Ásia em um Mundo em Mudança: Rumo a um Futuro Compartilhado".

    O início do evento se deu hoje com o Sub-fórum "Desenvolvimento Global de Portos de Livre Comércio", organizado pelo governo de Hainan. Aqui, autoridades discutiram como zonas de comércio livre estão se tornando importantes para a integração asiática, especialmente com o RCEP (o maior acordo comercial do mundo, que inclui China, Japão e ASEAN).

    "Meus colegas e eu vimos com nossos próprios olhos como a província se transformou e se reinventou. De infraestrutura e serviços a indústrias high-tech, Hainan está em seu caminho para se tornar um ímã de recursos e pessoas", afirmou Ban Ki-moon, atual presidente do Fórum de Boao para a Ásia, em seu discurso de abertura. O sul-coreano abriu o sub-fórum sobre portos de livre comércio desta terça, com enfoque no "Impulsionamento da Cooperação Econômica e Comercial Global".

    Discurso de Ban Ki-moon, presidente do Fórum Boao
    Discurso de Ban Ki-moon, presidente do Fórum Boao(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247

    O caso da Base de Manutenção Aeronáutica de Hainan

    Como um exemplo das transformações em Hainan com sua recente guinada rumo à abertura econômica, destaca-se a Base Industrial de Manutenção Aeronáutica do Porto de Livre Comércio. Localizada em Haikou (capital da província), a instalação é um megacomplexo com hangares de pintura, oficinas de peças e até um centro de comércio internacional de componentes aeronáuticos.

    Existente na região desde 2000, à época apenas servindo como hangar de revisão e inspeção para a Hainan Airlines, a base já vinha passando por diversas evoluções ao longo do tempo, mas seu 'grande salto' só veio depois de 2022 - já no contexto do novo planejamento para a região. No início de suas operações, a área construída da base era de 9.000m². Em 2008, foi construído um novo hangar para a China Southern Airlines, de 6.000m². Em 2014, mais um hangar para a Hainan Airlines, dessa vez com área construída de 32.000m².

    No entanto, em 2022, começou a operar a Base de Manutenção Aeronáutica Integrada do Porto de Comércio Livre de Hainan, com 148.000m² de área construída e uma estrutura que dá conta de reparar toda a cadeia de suprimentos do setor. Em 2023, também foi erguida a Base de Manutenção de Motores Aeronáuticos, com área construída de 48.000m².

    Base Aeronáutica de Manutenção Completa do Porto Livre de Hainan
    Base Aeronáutica de Manutenção Completa do Porto Livre de Hainan(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247

    Desde 2022, a base já realizou:

    • Manutenção em 1.862 aeronaves;
    • Reparo de 44.000 peças;
    • Pintura de 212 aviões (incluindo jatos da Qatar Airways durante a Copa do Mundo de 2022).

    "Antes, só fazíamos reparos simples. Agora, somos uma cadeia completa", explicou Wang Haiye, diretora da base, durante visita do 247 ao local. "Graças às políticas de livre comércio, nossos serviços são 10 a 15% mais baratos que em outros lugares."

    A base possui 23 certificações internacionais, incluindo da FAA (EUA) e EASA (Europa), e já economizou 80 milhões de yuans em impostos com a política de "tarifa zero" para importação de equipamentos. Até 2028, será a 4ª maior do mundo em manutenção de motores GEnx-1B (usados nos Boeing 787).

    A localização privilegiada também ajuda: em 4 horas de voo, a base cobre 21 países e regiões, abrangendo 47% da população mundial. Em 8 horas, cobre 59 países e 67% da população global.

    Para os empresários chineses, Hainan não é mais apenas as praias que as famílias costumam visitar nas férias. "Somos um importante hub de conexão voltado para os Oceanos Pacífico e Índico", resume Wang.

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