Crise econômica, extrema-direita em alta e guerra na Ucrânia marcam debates na Alemanha
A próxima eleição será uma das mais importantes da história moderna alemã
Por RFI - Antes uma potência econômica da Europa, a Alemanha agora enfrenta estagnação, ineficiências burocráticas e uma crise de identidade alimentada por pressões externas e discórdia interna.
Com a ascensão do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e o aprofundamento das divisões sobre a guerra na Ucrânia, a próxima eleição será uma das mais importantes da história moderna alemã.
Declínio econômico
Por anos, a Alemanha prosperou com um modelo econômico baseado em gás russo barato e exportações crescentes para a China.
Esse modelo agora está quebrado. Custos de energia disparando, aumento da concorrência chinesa e adaptação tecnológica lenta deixaram o país lutando para crescer.
A economia alemã encolheu em cada um dos últimos dois anos e, até o final de 2024, terá crescido apenas 0,3% desde 2019.
Em contraste, os EUA e a China viram suas economias se expandirem em mais de 11% e quase 26%, respectivamente.
Gigantes da manufatura estão transferindo investimentos para o exterior, citando burocracia excessiva e preços de energia pouco competitivos.
Líderes industriais alertam que a desindustrialização já está em curso, com empresas movendo a produção para a Ásia e os EUA para escapar dos altos custos de eletricidade.
Mesmo com a transição para tecnologias verdes e digitais, o progresso continua lento.
Líderes empresariais pedem reformas para reduzir a burocracia e criar um ambiente mais favorável aos negócios.
Mas ainda é incerto se o próximo governo terá vontade política para implementar essas mudanças.
A ascensão da extrema-direita
Em meio à ansiedade econômica e à crescente frustração com os partidos tradicionais, a extrema-direita da AfD está experimentando um apoio sem precedentes.
Com cerca de 20% das intenções de voto, o partido caminha para alcançar seu melhor resultado eleitoral até hoje.
Líderes da AfD têm explorado temores relacionados à migração, ao declínio econômico e ao que chamam de “fraqueza” dos partidos tradicionais da Alemanha.
O debate ganhou um tom internacional na semana passada, quando o vice-presidente dos EUA, JD Vance, fez um apelo controverso para que a Alemanha abandonasse sua histórica aversão a trabalhar com a extrema-direita.
Seus comentários geraram protestos em massa em Berlim e um acalorado debate televisivo entre os candidatos.
O líder da CDU, Friedrich Merz – atualmente liderando as pesquisas – rejeitou firmemente a interferência americana, afirmando: “Não permitirei que um vice-presidente americano me diga com quem posso conversar aqui na Alemanha”.
A AfD, no entanto, acolheu as declarações de Vance.
A líder do partido, Alice Weidel, declarou que a Alemanha não deve isolar milhões de eleitores, reforçando a tentativa da AfD de se legitimar dentro da política convencional.
Com um eleitorado profundamente dividido, a possibilidade de negociações de coalizão envolvendo a AfD já não pode ser descartada – um desenvolvimento chocante na política alemã.
A guerra na Ucrânia e a tensão transatlântica
As dificuldades econômicas e as batalhas políticas da Alemanha estão ocorrendo em meio a crescentes tensões com Washington sobre a guerra na Ucrânia.
O chanceler Olaf Scholz tem insistido que a Europa deve estar envolvida em qualquer negociação de segurança sobre a Ucrânia, contrariando a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de conduzir conversas diretas com o presidente russo, Vladimir Putin.
Os alertas de Scholz surgem em meio a crescentes preocupações na Europa sobre o comprometimento dos EUA com a OTAN e a segurança europeia.
O enviado especial de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, afirmou que, embora a Europa possa “dar sua opinião”, ela não será uma participante direta das negociações.
Scholz, no entanto, mantém sua posição: “Nenhuma decisão será tomada sobre a cabeça de Kiev – a Europa não permitirá isso”.
A crise energética da Alemanha foi agravada por seu firme apoio à Ucrânia.
A decisão de cortar laços com o gás russo levou os preços da energia a mais do que dobrar, sufocando ainda mais as indústrias já lutando para competir em escala global.
Alguns analistas argumentam que os problemas econômicos da Alemanha são parcialmente auto infligidos, pois os líderes falharam em antecipar as consequências econômicas de longo prazo de sua postura geopolítica.
Uma nação em encruzilhada
Com apenas alguns dias para a eleição, a Alemanha enfrenta um momento decisivo.
Os eleitores estão divididos entre dificuldades econômicas, polarização política e um futuro geopolítico incerto.
O próximo governo precisará lidar com o declínio industrial da Alemanha, redefinir sua abordagem às alianças internacionais e navegar pela crescente influência da extrema-direita na política doméstica.
Por décadas, a Alemanha se orgulhou de sua estabilidade e de uma política baseada no consenso.
Mas esta eleição sinaliza uma ruptura com essa tradição. O país que um dia estabeleceu o padrão econômico para a Europa agora luta para encontrar seu lugar.
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