Futuro da China em debate: Pequim inicia 'Duas Sessões' de 2025 em meio a desafios globais e ambições domésticas
Evento mais relevante da política chinesa ocorre em 4 e 5 de março. Governo deve anunciar meta de crescimento do PIB e detalhar política de desenvolvimento
Por Guilherme Paladino, para o 247 - Na próxima semana, Pequim sediará um dos eventos políticos mais importantes do ano: as "Duas Sessões" (Lianghui), reuniões anuais da Assembleia Nacional Popular e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). O evento, que ocorrerá nos dias 4 e 5 de março, será palco de discussões cruciais sobre o futuro da economia chinesa, a modernização tecnológica e a resposta do país aos desafios geopolíticos globais.
Este ano, as "Duas Sessões" ganham um significado especial. Além de marcar o último ano do 14º Plano Quinquenal (2021-2025), o evento ocorre em um momento de tensões crescentes com os Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump, eleito em 2024 para seu segundo mandato na Casa Branca, tem intensificado uma agenda protecionista que coloca a China no centro de suas críticas. Em meio a esse cenário, a China busca reafirmar sua resiliência econômica e sua capacidade de liderar a inovação global.
Foco na recuperação econômica e no "crescimento de alta qualidade"
De acordo com a agência Xinhua, o governo chinês deve anunciar durante as "Duas Sessões" sua meta de crescimento do PIB para 2025, além de detalhar políticas para impulsionar o desenvolvimento de "alta qualidade". Apesar de certa reticência de analistas estrangeiros, a China demonstra confiança em sua capacidade de manter uma recuperação econômica estável.

Dados recentes reforçam esse otimismo. O sucesso recorde do Festival da Primavera, com bilheterias cinematográficas ultrapassando 20 bilhões de yuans (incluindo o fenômeno Ne Zha 2, que se tornou o filme de maior bilheteria em um único mercado da história), e o aumento no número de viagens durante o feriado mostram a vitalidade do consumo interno. Medidas para expandir a demanda doméstica, como programas de renovação de equipamentos e troca de bens de consumo, devem ser priorizadas.
Além disso, o governo planeja fortalecer o setor privado, que responde por mais de 60% do PIB e 80% do emprego urbano. Um projeto de lei para promover a economia privada, atualmente em discussão, visa eliminar barreiras de mercado, proteger a propriedade intelectual e garantir concorrência justa. Essas iniciativas são vistas como essenciais para impulsionar a inovação e a confiança dos empresários.
Inovação tecnológica e a agenda "Made in China 2025"
A inovação tecnológica será outro tema central das "Duas Sessões". A China busca consolidar os avanços do plano Made in China 2025, que completa uma década em 2025. O objetivo de transformar o país em uma potência global em manufatura de alta tecnologia tem enfrentado desafios, especialmente com as restrições impostas pelos EUA à exportação de semicondutores e outras tecnologias críticas.
Empresas chinesas como a Huawei, a BYD e startups como a DeepSeek e a Unitree Robotics têm demonstrado a capacidade do país de competir em setores como inteligência artificial, robótica e energia limpa. Durante o evento, espera-se que o governo anuncie novas medidas para acelerar a integração entre tecnologia e indústria, além de expandir iniciativas como o programa "AI Plus".
Tensões geopolíticas e abertura ao exterior
As "Duas Sessões" também ocorrem em um contexto de crescente protecionismo global. A eleição de Donald Trump em 2024 reacendeu as tensões comerciais entre China e EUA, com o governo americano impondo tarifas e restrições a produtos chineses. Em resposta, a China reitera seu compromisso com a "abertura de alto nível", buscando atrair investimentos estrangeiros e fortalecer parcerias por meio da iniciativa Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative).
Um plano de ação para estabilizar investimentos estrangeiros em 2025, com medidas como a expansão de zonas de livre comércio e a liberalização de setores como telecomunicações e serviços médicos, deve ser destacado durante o evento. A China também pretende aprofundar a cooperação com países parceiros, buscando diversificar suas relações comerciais e reduzir a dependência do mercado americano.
Desafios e expectativas
Apesar do otimismo, a China enfrenta desafios significativos. A desaceleração econômica global, as tensões com os EUA e a necessidade de acelerar a transição verde pressionam o governo a encontrar um equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade. Além disso, o envelhecimento populacional e a necessidade de reformas estruturais exigem ações ousadas.
As "Duas Sessões" de 2025 serão, portanto, um momento chave para definir os rumos do país. Com o fim do 14º Plano Quinquenal e a preparação do 15º Plano (2026-2030), o governo chinês busca não apenas consolidar suas conquistas, mas também posicionar-se como um líder global em um mundo cada vez mais fragmentado.
Enquanto os olhos do mundo se voltam para Pequim, uma coisa é certa: as decisões tomadas nas próximas semanas terão repercussões muito além das fronteiras da "Terra do Meio".
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