TV 247 logo
      HOME > Mundo

      Países correm contra o tempo para negociar tarifas de Trump

      Governos oferecem cortes tarifários, acordos de armas e alianças contra a China na tentativa de escapar de sobretaxas comerciais dos EUA

      O presidente dos EUA, Donald Trump, faz comentários sobre tarifas no Rose Garden na Casa Branca em Washington, D.C., EUA, 2 de abril de 2025 (Foto: REUTERS/Carlos Barria)
      Guilherme Levorato avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - A poucos dias da entrada em vigor de uma nova onda de tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, países ao redor do mundo intensificam os esforços para negociar com Washington. Segundo informações publicadas pelo Financial Times e repercutidas pela Folha de S. Paulo, a ofensiva tarifária do republicano desencadeou uma corrida diplomática entre aliados e rivais comerciais, que buscam preservar o acesso ao mercado norte-americano oferecendo concessões estratégicas.

      As tarifas, anunciadas em uma ordem executiva assinada por Trump, entram em vigor em duas fases: uma tarifa básica de 10% já passa a valer neste sábado (5) e, a partir de 9 de abril, aumentos específicos e “recíprocos” atingirão cerca de 60 países com superávits comerciais significativos com os EUA — alguns sofrerão sobretaxas de até 50%.

      União Europeia oferece concessões, mas rejeita pressões regulatórias - A União Europeia, que acumulou um superávit comercial de US$ 235,6 bilhões com os EUA em 2024, está entre os que tentam evitar os danos da medida. Bruxelas propôs reduzir sua tarifa sobre carros de 10% para os mesmos 2,5% aplicados por Washington, além de aumentar compras de produtos norte-americanos, como energia e armamentos. Ainda assim, os europeus descartam aceitar imposições nos campos regulatório e sanitário.

      "As acusações de que nosso sistema de IVA discrimina empresas americanas são infundadas", afirmam autoridades europeias, que também rejeitam abrir mão de normas alimentares para aceitar, por exemplo, frango dos EUA tratado com cloro. Maros Sefcovic, chefe de comércio do bloco europeu, manteve encontros virtuais com representantes do governo norte-americano nesta sexta-feira (4).

      Japão e Israel se anteciparam — mas não escaparam das tarifas - Alguns países tentaram antecipar-se à decisão de Trump com ações concretas. Israel eliminou todas as tarifas sobre produtos dos EUA na véspera do anúncio, mas foi atingido por uma tarifa de 17%. O Japão, por sua vez, prometeu comprar mais gás natural liquefeito (GNL) dos EUA e investir em infraestrutura, além de sinalizar que aumentaria os gastos com defesa favorecendo empresas americanas. Mesmo assim, foi penalizado com tarifa de 24%.

      O fracasso dessas iniciativas deixou autoridades japonesas em dúvida quanto à eficácia de novas concessões. “Não está claro o que o Japão ou as empresas japonesas ainda poderiam oferecer para mudar a postura dos EUA”, observam representantes locais.

      Coreia do Sul tenta salvar setor industrial - A Coreia do Sul, com um superávit de US$ 55 bilhões com os EUA em 2024, também está entre os alvos de Trump. O país enfrenta críticas por tarifas sobre provedores de conteúdo como a Netflix, políticas opacas em farmacêuticos e barreiras a produtos agrícolas americanos. Analistas sugerem que Seul aumente compras de armas e GNL dos EUA como estratégia.

      O presidente interino sul-coreano, Han Duck-soo, declarou que seu governo fará "esforços totais" para proteger as empresas nacionais da tarifa de 26% imposta por Washington.

      Sudeste Asiático e Índia enfrentam sobretaxas elevadas - O Vietnã foi particularmente atingido, com uma tarifa de 46%, apesar de ter autorizado testes da Starlink — empresa de Elon Musk, aliado de Trump — e manifestado disposição para ampliar importações de produtos dos EUA, como aviões e bens agrícolas.

      A Índia também buscou se antecipar, oferecendo concessões em diversos produtos e abrindo negociações para um acordo comercial. Mesmo assim, foi surpreendida por uma tarifa de 27% nesta semana. O governo de Narendra Modi, no entanto, insiste que pretende concluir um acordo com os EUA “nos próximos dias”.

      América Latina tem tratamento brando - Brasil e Argentina ficaram com a tarifa mínima de 10%. Javier Milei, presidente argentino, celebrou o resultado em sua conta no X (antigo Twitter): “amigos serão amigos”, escreveu, em referência à música da banda Queen. Milei e seu chanceler Gerardo Werthein estiveram nesta sexta-feira (4) em Mar-a-Lago, onde o presidente argentino participou de evento conservador e reforçou os laços com a administração Trump.

      Milei chegou a afirmar que irá “mudar a legislação argentina” para se adaptar às exigências de Washington e garantir uma relação comercial preferencial.

      África do Sul aposta em acordo bilateral - A África do Sul, atingida por tarifa de 31%, exporta principalmente minerais estratégicos para os EUA, como a platina. O presidente Cyril Ramaphosa afirmou que a medida “reforça a urgência de um novo acordo bilateral e mutuamente benéfico”.

      Donald MacKay, consultor de comércio internacional sul-africano, avaliou que “pequenas economias precisam evitar confrontos com Trump”. Segundo ele, tarifas sobre minerais, por exemplo, “afetariam duramente as receitas das minas e dos trabalhadores locais”.

      Corrida global por Trump - O próprio Eric Trump, filho do presidente norte-americano, incentivou países a agirem rapidamente. “Eu não gostaria de ser o último país a tentar negociar um acordo comercial com Donald Trump”, escreveu ele nas redes sociais.

      O cenário atual remete à primeira presidência de Trump, marcada por confrontos tarifários e negociações duras. Agora, com o republicano em seu segundo mandato desde 2025, aliados tentam se antecipar à lógica de “tarifa primeiro, negociação depois” — antes que as consequências comerciais e políticas se tornem irreversíveis.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Relacionados