Protestos crescem na Turquia após prisão de prefeito opositor de Erdogan (vídeo)
Tensões podem aumentar no fim de semana
Por Tuvan Gumrukcu, Mert Ozkan, Mehmet Emin Caliskan e Ece Toksabay
ISTAMBUL (Reuters) – Os protestos contra a prisão do prefeito de Istambul cresceram nesta sexta-feira (21) e se tornaram cada vez mais tensos, marcando o maior ato de desobediência civil da Turquia em mais de uma década, após o presidente Tayyip Erdogan alertar que manifestações não seriam toleradas.
Dezenas de milhares de turcos têm saído às ruas em manifestações majoritariamente pacíficas desde quarta-feira, quando o prefeito Ekrem Imamoglu foi detido e acusado formalmente. Ele é o principal rival político de Erdogan e lidera o presidente em algumas pesquisas de opinião.
O Partido Republicano do Povo (CHP), de Imamoglu, principal legenda de oposição, condenou a prisão como politicamente motivada e pediu que os apoiadores protestassem dentro da legalidade.
"Não aceitaremos a desordem pública", declarou Erdogan, de 71 anos, a uma plateia em Istambul. "Assim como nunca cedemos ao terrorismo nas ruas, não nos renderemos ao vandalismo."
Os protestos, inclusive em campi universitários, ocorreram apesar da proibição de quatro dias sobre aglomerações, imposta após a prisão.
Na noite de sexta-feira, grandes comícios foram realizados em várias cidades, incluindo Istambul, a partir de convocação do CHP. Na capital econômica do país, todas as vias que levam ao prédio da prefeitura no distrito de Sarachane foram fechadas por ordem do governador, mas milhares de pessoas se reuniram apesar da proibição.
Em seu discurso, o líder do CHP, Ozgur Ozel, afirmou que cerca de 300 mil pessoas estavam presentes. Enquanto ele falava, a polícia utilizou spray de pimenta e canhões de água para dispersar a multidão, que reagiu atacando as barreiras policiais e lançando objetos. Em Izmir, Ancara e outras cidades, também houve confrontos com a tropa de choque, que usou jatos d’água contra os manifestantes.
O ministro do Interior, Ali Yerlikaya, afirmou em publicação na rede X que 97 pessoas foram detidas durante os protestos em todo o país.
As tensões podem aumentar no fim de semana, quando o tribunal deve decidir se prende formalmente o prefeito. Caso isso ocorra, pode acelerar a queda dos ativos financeiros turcos, que já forçou o Banco Central a intervir para proteger a moeda local.
Imamoglu, de 54 anos, responde a acusações que incluem corrupção e apoio a grupo terrorista.
Segundo documento judicial obtido pela Reuters nesta sexta, ele negou todas as acusações. “Rejeito veementemente todas as alegações”, declarou à polícia em sua defesa.
O popular prefeito de dois mandatos foi questionado sobre ao menos 40 licitações públicas realizadas pela prefeitura, conforme o documento.
Líderes europeus classificaram a prisão como um sinal de retrocesso democrático na Turquia.
Erdogan afirmou que ir às ruas é “um beco sem saída”. “Apontar para as ruas, em vez dos tribunais, para defender roubo, pilhagem, ilegalidades e fraudes é uma irresponsabilidade grave”, disse o presidente.
REPRESSÃO
A Turquia tem reprimido manifestações de desobediência civil desde os protestos nacionais de 2013, iniciados no Parque Gezi contra o governo, que foram duramente sufocados pelo Estado e marcaram o avanço do autoritarismo sob os 22 anos de governo de Erdogan.
A prisão de Imamoglu, prefeito da maior cidade do país, coroa uma ofensiva judicial contra figuras da oposição, que críticos alegam ser uma tentativa de enfraquecer suas chances eleitorais.
O governo nega as acusações e afirma que o Judiciário é independente.
O líder do CHP, Ozgur Ozel, declarou que Erdogan teme os protestos populares, classificou como ilegais as proibições a manifestações e pediu que a população lute pacificamente pela defesa do direito ao voto.
“Derrubem essas barreiras sem machucar os policiais. Tomem as ruas e as praças”, disse antes dos confrontos de sexta-feira.
No domingo, o CHP deve anunciar Imamoglu como seu candidato à presidência nas próximas eleições e tem convocado inclusive pessoas não filiadas ao partido a participar da votação, como forma de fortalecer a resistência popular.
A próxima eleição presidencial está prevista para 2028. Caso Erdogan deseje disputar novamente, o Parlamento terá que antecipar a data.
Para evitar novos obstáculos jurídicos, Ozel afirmou que o CHP convocará um congresso extraordinário em 6 de abril, com o objetivo de impedir que autoridades nomeiem um interventor externo para o partido. Um promotor de Ancara abriu uma investigação anterior sobre supostas irregularidades no último congresso do partido, realizado em 2023.
IMPACTOS ECONÔMICOS
Os mercados financeiros turcos foram abalados desde a prisão. A lira e os títulos públicos despencaram, e as ações da bolsa de Istambul caíram quase 8% na sexta-feira.
O ministro da Fazenda, Mehmet Simsek, afirmou a banqueiros que as flutuações temporárias do mercado estão sendo monitoradas de perto e que medidas necessárias estão sendo tomadas, conforme resumo da reunião divulgado pela Associação de Bancos da Turquia.
O Banco Central aumentou inesperadamente a taxa de juros overnight nesta semana e gastou cerca de US$ 10 bilhões em reservas cambiais na quarta-feira para estabilizar a moeda, que caiu 12% e atingiu seu menor valor histórico no mesmo dia. A inflação foi de 39% no mês passado.
Em entrevista à Reuters na quinta-feira, Ozel declarou que o CHP resistirá a qualquer tentativa de remoção dele e de outros membros do partido dos prédios municipais ocupados desde a prisão de Imamoglu, que se tornaram centros dos protestos.
Um interventor nomeado pelo governo pode substituir o prefeito, já que ele enfrenta acusações de colaboração com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado uma organização terrorista pela Turquia e por aliados ocidentais.
Após o líder preso do PKK pedir o desarmamento do grupo no mês passado, a prisão de Imamoglu ameaça minar os planos do governo de encerrar a insurgência de 40 anos — um processo que depende fortemente da cooperação delicada com o partido pró-curdo DEM, que já declarou que o prefeito deve ser libertado.
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