Resistência a Trump impulsiona popularidade de líderes globais, indicam pesquisas
Do México à Ucrânia, Trump se tornou simultaneamente ameaça e trampolim
247 - Sob a pressão de ameaças econômicas e diplomáticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, líderes de diversos países têm experimentado um efeito curioso: o aumento nas intenções de voto e na aprovação popular. A reportagem do Financial Times, repercutida pela Folha de S. Paulo, mostra como, de forma paradoxal, a postura agressiva de Trump tem revitalizado politicamente governos antes enfraquecidos — de Ottawa a Kiev.
No Canadá, o partido Liberal enfrentava o risco de uma derrota eleitoral catastrófica. No entanto, após Trump lançar ataques contra o país, os liberais adotaram um discurso de enfrentamento. Sob a liderança do novo primeiro-ministro Mark Carney — ex-presidente dos bancos centrais da Inglaterra e do Canadá —, a legenda recuperou fôlego. Com o slogan “Canadá forte”, Carney tornou-se favorito para um quarto mandato consecutivo, ao explorar seu perfil tecnocrata e capitalizar o sentimento patriótico diante das ameaças americanas.
Pierre Poilievre, líder da oposição conservadora e aliado ideológico de Trump, viu sua vantagem de 24 pontos nas pesquisas desaparecer após o confronto entre o presidente dos EUA e o Canadá. Ainda que tente reposicionar sua campanha com um novo lema — “Canadá Primeiro” —, Carney aparece como mais preparado para lidar com Trump, segundo levantamento do Instituto Angus Reid: 43% contra 34% de Poilievre.
No México, a presidente Claudia Sheinbaum também viu sua aprovação disparar, mesmo adotando uma abordagem diplomática em vez de beligerante. Ao conter o tráfico de fentanil e endurecer o controle da migração, sem retaliar de imediato as ameaças de Trump, Sheinbaum foi elogiada inclusive pelo próprio republicano, que a chamou de “uma mulher maravilhosa”. Segundo o El Financiero, sua taxa de aprovação alcançou impressionantes 85%.
Analistas mexicanos avaliam que o “efeito Trump” permitiu à presidente desviar o foco das dificuldades econômicas e reforçar sua liderança sobre um partido dividido. “Trump é uma dádiva para justificar uma economia abaixo do esperado”, comentou Carlos Ramírez, consultor da Integralia.
Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro também colheu dividendos políticos ao se opor à deportação de cidadãos colombianos pelos EUA, embora tenha sido forçado a aceitar o retorno de um avião com deportados. Ainda assim, a reação foi percebida como um ato de defesa da dignidade nacional. “É assim que os colombianos se parecem quando estão se defendendo”, afirmou Sergio Guzmán, da consultoria Colombia Risk Analysis.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, protagonizou um dos episódios mais tensos com Trump, ao ser humilhado em uma reunião no Salão Oval da Casa Branca. A provocação gerou uma onda de solidariedade interna. “Podemos odiá-lo. Podemos ser duros com ele. Mas ele é nosso presidente”, declarou Olena Halushka, do Centro Internacional para a Vitória Ucraniana. A aprovação de Zelensky saltou para 67%, com índice líquido de 38% — o melhor desempenho desde dezembro de 2023.
Mesmo enquanto busca acordos com Trump sobre exportações de minerais e uma trégua parcial com a Rússia, Zelensky fortaleceu sua imagem como líder nacional. Para Anton Hrushevski, do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, os ataques de Trump foram vistos como “um ataque mais amplo ao país, em vez de apenas uma crítica direcionada ao presidente”.
Na França, Emmanuel Macron conquistou uma recuperação surpreendente após visita a Washington. Apesar das críticas internas e impopularidade persistente, o presidente francês subiu seis pontos em índice de confiança, alcançando 27%, segundo o instituto Elabe. A recepção positiva veio após Macron combinar afagos diplomáticos com contrapontos sutis às alegações de Trump sobre a ajuda europeia à Ucrânia.
Em contraste, Marine Le Pen, da extrema direita e crítica da política externa tradicional francesa, perdeu um ponto de aprovação, caindo para 35%.
Já no Reino Unido, o primeiro-ministro Keir Starmer vinha em queda livre nas pesquisas desde que assumiu o cargo. A maré virou após sua visita a Washington, onde adotou um tom conciliador, elogiou Trump e até entregou uma carta do rei Charles 3º, convidando o presidente dos EUA para uma segunda visita de Estado. A estratégia deu resultado: Starmer experimentou uma alta de dois dígitos em popularidade, na melhor semana desde que chegou ao poder.
Em seguida, organizou uma cúpula internacional em Londres para debater o futuro da Ucrânia, reposicionando o Reino Unido no palco global após anos de isolamento pós-brexit. Apesar de manter aprovação líquida negativa, Starmer conseguiu reverter uma tendência perigosa de desgaste político.
Contudo, o efeito positivo gerado pela confrontação a Trump pode ter prazo de validade. Especialistas alertam que tarifas punitivas, retração econômica ou acordos prejudiciais à segurança de países aliados podem minar rapidamente os ganhos obtidos nas pesquisas. Como apontou o ex-chanceler da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, em países da Europa Oriental há um "silêncio assustado", diante da possibilidade de os EUA deixarem de ser um aliado confiável.
Para muitos líderes globais, Trump se tornou simultaneamente ameaça e trampolim. Enquanto resistirem a ele com habilidade, podem colher aprovação. Mas o preço da confrontação ainda está em aberto.
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