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      "Tarifas de Trump marcam o declínio econômico e político do Império americano", diz Richard Wolff

      Economista critica a retórica nacionalista do presidente dos EUA e alerta para os riscos de recessão e isolamento após o maior choque tarifário da história

      (Foto: Reprodução)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – Em entrevista ao programa Democracy Now!, apresentado por Amy Goodman, o economista Richard Wolff analisou criticamente o novo pacote tarifário anunciado pelo presidente Donald Trump, classificado como o maior choque tarifário da história moderna dos Estados Unidos. A medida impõe uma tarifa geral de 10% sobre todos os produtos importados de cerca de 185 países, com taxas ainda maiores direcionadas a parceiros comerciais como China, União Europeia e Japão — a China, por exemplo, enfrentará agora um total de 54% em tarifas sobre suas exportações aos EUA.

      Durante seu pronunciamento no Jardim das Rosas, na Casa Branca, Trump celebrou a decisão como um marco na política industrial do país. “Este é o Dia da Libertação. 2 de abril de 2025 será lembrado como o dia em que a indústria americana renasceu”, declarou. O presidente alegou que a medida visa restaurar a riqueza nacional, após décadas de “saques” promovidos por outras nações.

      Richard Wolff, professor emérito da Universidade de Massachusetts e fundador do projeto Democracy at Work, refutou essa narrativa e classificou o discurso de Trump como “fantasioso” e baseado na autopromoção. “Nunca foram os estrangeiros que fizeram isso conosco. Os Estados Unidos foram um dos maiores beneficiários da riqueza global nos últimos 50 anos, especialmente os mais ricos, como o próprio Trump”, afirmou. “Essa tentativa de se mostrar forte e culpar o estrangeiro são golpes baratos que um verdadeiro presidente não daria.”

      Para Wolff, as tarifas são um reflexo direto da crise estrutural enfrentada pela economia americana. “O império americano está em declínio. Não queremos discutir isso no país, preferimos o caminho da negação, e passamos a atacar os outros. É uma forma triste de lidar com o colapso”, declarou. Ele comparou o momento atual ao fim de outros impérios, como o britânico, e criticou a ausência de um debate honesto sobre os reais desafios econômicos dos EUA.

      O economista também alertou para os efeitos inflacionários das tarifas, que são, em essência, impostos pagos por empresas americanas na importação de produtos estrangeiros — encargos que, geralmente, são repassados ao consumidor final. “Trump sugere que outros países pagarão pelas tarifas, como sugeriu que o México pagaria pelo muro. Nunca aconteceu e não vai acontecer agora. Trata-se de um imposto americano.”

      Apesar do apoio declarado por figuras como o presidente do sindicato dos metalúrgicos UAW, Shawn Fain — que considerou as tarifas uma ferramenta válida para reverter a desindustrialização —, Wolff advertiu que a medida pode provocar mais danos do que benefícios. “As tarifas podem até incentivar a produção interna, mas também aumentam os preços, pressionando o custo de vida e afetando duramente os trabalhadores”, avaliou. “Além disso, os países atingidos retaliarão, e os EUA perderão mercados de exportação, o que pode anular qualquer eventual ganho de emprego.”

      Wolff ainda situou as tarifas dentro de uma tentativa mais ampla de Trump de resolver impasses fiscais. Segundo ele, o presidente busca evitar o fim da redução de impostos para os mais ricos, implementada em 2017 e com prazo de validade até o final de 2025, ao mesmo tempo em que resiste a aumentar a carga tributária e tenta conter gastos cortando empregos e serviços públicos — com destaque para o apoio de Elon Musk a demissões em massa como suposta solução eficiente.

      “A solução está sendo empurrada para as costas da classe trabalhadora”, criticou. “Estamos vendo um processo de empobrecimento dos trabalhadores para tentar resolver problemas que não foram solucionados antes.”

      O professor também ressaltou as implicações geopolíticas da medida, ao observar que países historicamente adversários — como China, Japão e Coreia do Sul — começaram a coordenar suas respostas, e que até a Europa, frequentemente dividida, poderá se unir diante do que percebem como agressões econômicas americanas. “Estamos nos isolando politicamente e economicamente. Tornamo-nos a nação desajustada do mundo”, afirmou.

      Para Wolff, o movimento de Trump representa uma tentativa desesperada de manter a hegemonia dos EUA, mas que poderá ter o efeito contrário. “Após décadas de promover o livre comércio e a globalização, os Estados Unidos agora voltam ao nacionalismo econômico. É uma guinada drástica, e não é provável que termine bem”, concluiu. “A era do domínio americano está acabando, e, como no alcoolismo, é preciso admitir o problema antes de começar a resolvê-lo. Mas os Estados Unidos ainda se recusam a fazê-lo.” Assista:

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