Trump e Modi anunciam acordos para evitar guerra comercial
Pelo acordo, a Índia aumentaria as compras de equipamentos de defesa dos EUA e os americanos seriam o "principal fornecedor" de petróleo ao país asiático
Reuters - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quinta-feira que o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, se ofereceu para discutir a redução de tarifas, a compra de mais petróleo e gás dos EUA e a aquisição de aeronaves de combate, concessões que podem evitar uma guerra comercial.
Os acordos foram firmados após os dois líderes se reunirem para conversas na Casa Branca, poucas horas depois de Trump apresentar um plano para impor tarifas recíprocas a todos os países que aplicam taxas sobre as importações dos EUA. Essa foi sua mais recente investida comercial, direcionada tanto a aliados quanto a adversários, que, segundo a Casa Branca, fortalecerá a segurança econômica e nacional.
Algumas metas foram apresentadas como aspiracionais: a Índia pretende aumentar em "bilhões de dólares" suas compras de equipamentos de defesa dos EUA, incluindo caças, e pode transformar Washington em seu "principal fornecedor" de petróleo e gás, afirmou Trump em uma coletiva de imprensa. Além disso, Nova Déli deseja dobrar o comércio com os Estados Unidos até 2030, segundo Modi.
"Também estamos abrindo caminho para, no futuro, fornecer à Índia os caças furtivos F-35", declarou Trump.
O F-35 é o programa de defesa mais caro dos Estados Unidos e a maior fonte de receita da Lockheed Martin. O caça F-35 Lightning II foi exibido em um show aéreo na Índia nesta semana.
Ainda não está claro se esses acordos resolverão as questões comerciais entre os dois países. Embora Trump tenha mantido um relacionamento cordial com Modi em seu primeiro mandato, ele voltou a afirmar nesta quinta-feira que as tarifas indianas são "muito altas" e prometeu igualá-las, mesmo depois que suas tarifas sobre aço e alumínio atingiram a Índia de forma significativa.
"Estamos sendo recíprocos com a Índia", disse Trump durante a coletiva. "O que a Índia cobrar, nós cobraremos também."
No entanto, os dois líderes concordaram em negociar para resolver essas diferenças e demonstraram otimismo quanto a uma resolução rápida. Um alto funcionário do governo Trump afirmou que um acordo pode ser alcançado ainda este ano.
"Algo que aprecio profundamente e aprendi com o presidente Trump é que ele mantém o interesse nacional acima de tudo", disse Modi enquanto estava ao lado de Trump no Salão Oval. "Assim como ele, também coloco o interesse nacional da Índia acima de qualquer outra coisa."
Os dois líderes também concordaram em aprofundar a cooperação em segurança no Indo-Pacífico, uma referência velada à competição com a China, além de avançar na produção conjunta de tecnologias como inteligência artificial e energia nuclear.
Antes da reunião, uma fonte descreveu as medidas da Índia como um "presente" para Trump, projetado para reduzir as tensões comerciais. Um assessor de Trump, por sua vez, afirmou que o presidente vê as vendas de defesa e energia para a Índia como uma forma de diminuir o déficit comercial dos EUA.
Ainda não se sabe se o caso do bilionário Gautam Adani foi mencionado nas conversas, após sua acusação pelo Departamento de Justiça dos EUA em novembro devido a um suposto esquema de suborno. Adani, que vem do estado natal de Modi, Gujarat, comanda o Grupo Adani, responsável por diversos projetos de infraestrutura ao redor do mundo.
Críticos frequentemente alegam que o crescimento meteórico do império portuário e energético de Adani foi, em parte, facilitado por sua relação próxima e tratamento favorável por administrações lideradas pelo partido de Modi, o BJP, e seus aliados. Tanto Adani quanto Modi sempre negaram qualquer irregularidade.
Nesta quinta-feira, Modi afirmou que países não se reúnem para discutir tais assuntos.
Segundo Richard Rossow, chefe do programa sobre a Índia no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank de Washington, as tarifas continuarão sendo um dos principais pontos de tensão entre os dois países.
"Será uma verdadeira luta", disse Rossow. "A Índia está disposta a aceitar alguns golpes, mas há um limite."
Atualmente, os Estados Unidos registram um déficit comercial de US$ 45,6 bilhões com a Índia. No geral, a tarifa média ponderada pelo comércio nos EUA tem sido de aproximadamente 2,2%, de acordo com dados da Organização Mundial do Comércio, em comparação com os 12% da Índia.
O que Trump quer
Trump deseja mais cooperação da Índia na questão da imigração ilegal. O país é uma das principais fontes de imigrantes para os Estados Unidos, incluindo um grande número de profissionais da indústria de tecnologia que entram com vistos de trabalho, além de outros que vivem ilegalmente no país.
Nesta quinta-feira, Modi se encontrou com Elon Musk na Blair House, onde está hospedado, em frente à Casa Branca. Musk, um importante aliado de Trump, pode ter discutido a entrada de sua empresa Starlink no mercado sul-asiático.
Modi também se reuniu com Tulsi Gabbard, recém-nomeada diretora de inteligência nacional por Trump, para discutir o fortalecimento da cooperação em contraterrorismo e segurança cibernética.
A Índia pode desempenhar um papel crucial na estratégia de Trump para conter a China, que muitos em seu governo consideram o principal rival dos EUA. A Índia, por sua vez, vê com preocupação o crescimento militar da China e compete com o país por diversos mercados.
Modi teme que Trump possa firmar um acordo com a China sem incluir a Índia, segundo Mukesh Aghi, presidente do grupo de lobby U.S.-India Strategic Partnership Forum.
Trump declarou nesta quinta-feira que espera ajudar a resolver os conflitos na fronteira entre Índia e China.
A Índia manteve laços estreitos com a Rússia, apesar da guerra na Ucrânia. O país continua sendo um dos maiores consumidores de energia russa, enquanto o Ocidente reduziu suas importações desde o início do conflito.
"O mundo tinha a percepção de que a Índia era um país neutro nesse processo", afirmou Modi. "Mas isso não é verdade. A Índia tem um lado, e esse lado é o da paz."
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