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      "Trump é um analfabeto econômico", diz Robert Kaplan

      Em entrevista à emissora Channel 4, o analista alerta para o risco de que as guerras comerciais iniciadas por Trump levem o mundo a um conflito militar

      O presidente dos EUA, Donald Trump, faz comentários sobre tarifas no Rose Garden na Casa Branca em Washington, D.C., EUA, 2 de abril de 2025 (Foto: REUTERS/Carlos Barria)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – Em entrevista ao programa Fourcast, do Channel 4 News, o escritor e analista de geopolítica Robert D. Kaplan fez duras críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e alertou para os riscos globais de sua agenda econômica. Autor do livro Wasteland: A World in Permanent Crisis, Kaplan declarou de forma contundente: “É impressionante que vivamos em um mundo com tantos especialistas financeiros brilhantes, e mesmo assim a democracia tenha produzido alguém que é um analfabeto econômico”.

      Kaplan avalia que a política de tarifas e o protecionismo defendido por Trump não apenas ferem o comércio internacional, mas aumentam o risco de conflitos reais entre grandes potências. “As guerras comerciais podem levar a conflitos militares reais”, afirmou. Para ele, o comércio livre serve como uma espécie de colchão que modera tensões entre nações com interesses geopolíticos distintos. Ao levantar barreiras tarifárias — como os 25% sobre aço e automóveis vindos do Reino Unido, por exemplo —, Trump estaria desmantelando esse freio e “aumentando a probabilidade de um erro de cálculo, sobretudo em relação à China”.

      Kaplan traçou um perfil ácido de Trump, a quem classificou como “pós-letrado”, explicando que o presidente sabe operar um smartphone, mas não lê livros e, por isso, “não tem nenhuma compreensão das alianças estabelecidas no mundo após a Segunda Guerra Mundial”. Rodeado de conselheiros que não o confrontam, Trump agiria por impulsos territoriais, sem noção da complexidade dos arranjos globais. “É como se ele quisesse tomar a Groenlândia porque é uma extensão da América do Norte, ou fazer do Canadá um Estado submisso”, ironizou Kaplan.

      Desinformação econômica e ilusões industriais

      Kaplan também atacou a visão econômica de Trump, que busca resgatar um modelo industrial ultrapassado. “Ele quer trazer de volta uma economia americana que pertence ao século passado”, afirmou. Embora o discurso de Trump apele a trabalhadores que se sentem desvalorizados, Kaplan lembrou que os EUA deixaram de ser uma nação industrial para se tornarem uma potência de serviços — e que as fábricas do futuro não serão intensivas em mão de obra, mas sim em inteligência artificial.

      A jornalista Helia Ibrahimi, correspondente de economia do programa, destacou que as tarifas propostas por Trump podem aumentar em até US$ 10 mil o custo de veículos de alto padrão nos EUA, e mesmo carros populares devem ficar entre US$ 1 mil e US$ 2 mil mais caros. “Isso não apenas eleva os preços, mas desestimula o consumo, reduz os investimentos e pode provocar recessão”, alertou.

      Além disso, Kaplan lembrou que Trump desmonta a burocracia federal, enfraquecendo departamentos como o da Previdência Social e o de Saúde. “Quando aposentados ligam para reclamar de erros em seus pagamentos e ficam cinco horas esperando na linha, isso muda votos”, disse.

      O impacto global de um novo governo Trump

      Kaplan também alertou que o efeito dominó das políticas econômicas de Trump pode abalar a economia global. “Quando os Estados Unidos espirram, o mundo pega pneumonia”, disse. Ele destacou que, mesmo que Trump perca o controle do Congresso em eventuais eleições futuras, o presidente norte-americano ainda concentra grande poder em política externa, podendo impactar alianças, como as com Japão e Austrália.

      Kaplan vê um cenário de declínio lento e generalizado das grandes potências, o que torna o momento ainda mais perigoso para medidas unilaterais e nacionalistas. Apesar disso, ele identifica uma possível exceção positiva: o Irã. Para Kaplan, o país está enfraquecido e pode viver, nos próximos anos, um levante democrático interno que mude seu regime.

      Para Kaplan, a ascensão de líderes como Trump está ligada à transformação da esfera pública em um ambiente marcado por paixão, ideologia e simplificações, promovidas pelas redes sociais. “A era digital apagou a complexidade, e Trump se aproveita disso com maestria”, concluiu.

      A entrevista, disponível no canal do Fourcast no YouTube, é um importante alerta sobre os riscos do populismo protecionista e sua capacidade de gerar instabilidade não apenas econômica, mas também geopolítica. Assista:

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