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      Trump pode transformar sistema financeiro em arma contra aliados após choque tarifário

      Presidente dos EUA busca novas formas de pressionar parceiros comerciais, enquanto Europa teme retaliações

      Presidente dos EUA, Donald Trump, no Rose Garden da Casa Branca em Washington, D.C. - 2/4/2025 (Foto: REUTERS/Leah Millis)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247, com informações da agência Reuters – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode estar preparando uma nova ofensiva contra aliados internacionais, utilizando o imenso poder financeiro de seu país como instrumento de coerção geopolítica. Após a recente imposição de uma nova leva de tarifas, a expectativa entre economistas, autoridades financeiras e dirigentes empresariais é de que a Casa Branca explore meios mais agressivos para forçar concessões comerciais, ampliando o escopo do conflito para além das barreiras alfandegárias.

      A matéria assinada por John O'Donnell destaca que os Estados Unidos, como epicentro do sistema financeiro global e emissor da moeda de reserva internacional, detêm alavancas poderosas. Essas ferramentas incluem o acesso a dólares por meio de bancos centrais estrangeiros, o domínio sobre sistemas de pagamento internacionais e o controle sobre gigantes do setor como Visa e Mastercard. Tais instrumentos, embora eficazes, carregam um alto custo potencial para os próprios Estados Unidos e podem gerar forte reação internacional, especialmente da Europa.

      Planos para enfraquecer o dólar

      Um dos caminhos cogitados pela administração Trump seria um acordo internacional para desvalorizar o dólar — apelidado de “acordo de Mar-a-Lago”, em referência ao resort do presidente e ao histórico Acordo da Praça (Plaza Accord) de 1985, que visava conter o fortalecimento da moeda americana. A proposta, segundo documento de Stephen Miran, nomeado por Trump para presidir o Conselho de Assessores Econômicos, incluiria o uso de tarifas como ameaça e o oferecimento de garantias de segurança militar para forçar bancos centrais estrangeiros a valorizar suas moedas.

      Contudo, especialistas se mostram céticos. Maurice Obstfeld, pesquisador sênior do Peterson Institute for International Economics, afirmou que um acordo nesse sentido é “muito improvável”. Segundo ele, “os bancos centrais da zona do euro, Japão e Reino Unido não aceitariam medidas que os obrigassem a subir juros e arriscar recessões”.

      Freya Beamish, economista-chefe da TS Lombard, acrescentou que um yuan mais forte contraria os esforços da China para reanimar sua economia, enquanto o Japão, ainda traumatizado por décadas de deflação, também não veria com bons olhos a valorização do iene.

      Ameaças sobre linhas de swap e dólar como arma

      Na ausência de um pacto multilateral, o governo Trump poderia explorar medidas ainda mais radicais. Uma das possibilidades seria restringir o acesso às chamadas linhas de swap do Federal Reserve — um mecanismo que permite a bancos centrais estrangeiros obterem dólares em troca de colaterais em suas próprias moedas. Tais linhas são vitais durante crises financeiras, quando os mercados se retraem e investidores correm para o refúgio do dólar.

      Embora essas operações estejam sob controle exclusivo do Fed — órgão tradicionalmente independente — a recente troca de cadeiras promovida por Trump em agências reguladoras preocupa analistas. “Já não é inconcebível que, em uma negociação maior, isso seja usado como uma ameaça nuclear”, avaliou Spyros Andreopoulos, fundador da consultoria Thin Ice Macroeconomics. Ele alerta que tal atitude poderia, a médio prazo, corroer a credibilidade do dólar como moeda confiável no comércio internacional.

      Cartões de crédito como instrumento de pressão

      Outro trunfo sob o radar da administração americana são as gigantes do setor de pagamentos, como Visa e Mastercard. Juntas, essas empresas processam dois terços dos pagamentos com cartão realizados na zona do euro, além de dominarem aplicações de pagamento por celular, como Apple Pay e Google Pay.

      A economista-chefe para a Europa da Conference Board, Maria Demertzis, foi direta: “O fato de os EUA terem se tornado hostis é um grande revés”. O Banco Central Europeu, por sua vez, já alertou para os riscos de “pressão e coerção econômica” vindos dos Estados Unidos e considera a criação de um euro digital como solução — ainda que os planos estejam emperrados.

      A experiência da Rússia serve de precedente. Após a invasão à Ucrânia, Visa e Mastercard suspenderam operações no país, isolando milhões de usuários. Medida semelhante aplicada à Europa causaria sérias disrupções no consumo e na liquidez do sistema.

      Temores e dilemas europeus

      Apesar de cogitarem respostas à altura, autoridades europeias mostram-se receosas de iniciar uma escalada de retaliações que possa desorganizar ainda mais o frágil equilíbrio econômico global. A força de Wall Street e a dependência de bancos europeus de transações nos Estados Unidos são fatores que moderam qualquer ímpeto mais contundente.

      Mesmo assim, executivos bancários ouvidos pela Reuters confessaram crescente apreensão quanto à possibilidade de represálias e impactos negativos sobre suas operações em um futuro próximo. Diante de um cenário onde o dólar pode ser transformado em arma geopolítica, o mundo se vê diante do risco de uma nova guerra fria — agora travada nas engrenagens do sistema financeiro global.

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