Negociações em curso: Mauro Vieira busca rota direta para deportados dos EUA
Chanceler afirma que governo brasileiro quer garantir dignidade e agilidade no retorno de imigrantes
247 – O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou em entrevista ao Globo que o Brasil está negociando com os Estados Unidos a criação de uma rota direta para o transporte de brasileiros deportados. A declaração foi feita uma semana após o impasse diplomático gerado pelo desembarque de 88 brasileiros algemados em Manaus, episódio que provocou críticas ao tratamento dispensado aos deportados. As informações foram divulgadas em entrevista concedida pelo chanceler.
"Temos interesse em trazer os brasileiros de volta tão pronto possível, e eles (os EUA) também têm interesse em mandar as pessoas", disse Vieira, destacando que o objetivo é garantir condições mais dignas para o retorno dos deportados. O plano prevê voos diretos dos Estados Unidos para Belo Horizonte, eliminando escalas no Panamá ou em Manaus.
Segundo o ministro, um grupo de trabalho foi criado para avaliar a viabilidade da nova rota. "Estamos estudando melhor essa operação, com voos diretos e aviões melhores. Vai depender também da autonomia das aeronaves", explicou.
O chanceler também abordou as falhas no sistema de comunicação entre os dois países. Embora os EUA tenham se comprometido a avisar com cinco dias de antecedência sobre os voos de deportação, o prazo não tem sido respeitado. "Estamos trabalhando para estabelecer um novo prazo sob todos os aspectos, frequência e tudo mais", afirmou.
Sobre o uso de algemas nos deportados, Vieira foi enfático: "É uma das coisas que estamos tratando. O voo direto facilita em tudo. Todo o protocolo deve garantir um atendimento normal, como em qualquer voo, sem limitações. Não pode durar tantas horas sem comida, e o que dizer quando há crianças a bordo?"
Vieira também comentou sobre a cooperação regional em temas migratórios. "Cada país enfrenta desafios específicos. O Brasil prefere tratar bilateralmente, considerando as características de cada situação", disse, mencionando uma reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) que foi adiada.
O ministro refutou a ideia de fragilidade da América Latina diante dos EUA, citando o caso da Colômbia com o governo Trump. "Não acho que haja fragilidade. A relação é intensa e importante, com interesses mútuos no setor privado e nas relações governamentais."
Quanto ao impacto da política externa brasileira nas relações com os EUA, Vieira minimizou especulações sobre declarações do presidente Lula em apoio a Kamala Harris. "A relação entre Brasil e EUA é muito mais densa do que esse tipo de especulação."
Sobre a Operação Acolhida, que recebe refugiados venezuelanos, o ministro garantiu que a iniciativa continuará, mesmo com a redução de apoio internacional. "A maior parte já é financiada pelo governo brasileiro e continuará a ser. Não se pode abandonar esse compromisso."
Ao comentar a presidência do Brasil no Brics, Vieira afirmou: "Não é um grupo contra o Ocidente. O Brics promove a cooperação e o crescimento entre países em desenvolvimento. O que se discute são mecanismos de pagamento bilaterais, não uma moeda única."
Sobre a relação com a Argentina, Vieira destacou o bom relacionamento entre os governos Lula e Milei. "Os presidentes se encontraram em diversas ocasiões, e temos um diálogo produtivo com o atual chanceler argentino, Gerardo Werthein."
Quanto à Venezuela, o chanceler rejeitou críticas de que o Brasil estaria omisso. "Não somos expectadores. A política externa é feita com movimentos calculados. O Brasil não reconhece governos, mas Estados, e assim continuará."
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